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Ele queria ser jogador, mas largou o futebol para estar perto de Neymar

Gustavo Almeida (à direita) abandonou pela segunda vez a carreira de jogador de futebol; desta vez, para poder trabalhar ao lado de Neymar na Espanha - Reprodução/Instagram
Gustavo Almeida (à direita) abandonou pela segunda vez a carreira de jogador de futebol; desta vez, para poder trabalhar ao lado de Neymar na Espanha Imagem: Reprodução/Instagram

Emanuel Colombari

Do UOL, em São Paulo

29/09/2014 06h00

Talvez a vida de Gustavo Almeida fosse diferente hoje se Neymar não tivesse machucado as costas nas quartas de final da Copa do Mundo de 2014. Amigo do camisa 10 da seleção brasileira, Gustavo - então volante de um modesto clube do litoral de São Paulo - largou os gramados no segundo semestre. Por quê? Para estar ao lado do craque em Barcelona.

Gustavo é um dos “parças”, os amigos mais próximos do astro do Barcelona. Os dois se conheceram ainda na infância. Dos 7 aos 15 anos, foram companheiros de futebol, começando no futsal da Portuguesa Santista e chegando às categorias de base do Santos. Neymar vingou, mas o parça não repetiu o brilho do hoje camisa 10 da seleção brasileira. Assim, aos 18 anos, optou por abandonar o futebol.

No entanto, enquanto Neymar brilhava com a seleção brasileira, Gustavo recebeu uma nova chance. Não no Santos ou no Barcelona, mas no Guarujá, que buscou o jogador para disputar a Segunda Divisão do Campeonato Paulista de 2014. Longe dos holofotes do amigo, Gustavo topou disputar a competição – que, apesar do nome, é o quarto nível do futebol paulista.

“Um amigo meu pessoal, o Gustavo Carmo (empresário), fez a indicação dele. Ele veio para a gente. Me mandaram o vídeo, eu gostei. Mas ele estava fora de forma. Foi feito todo um trabalho em dois períodos para entrar em forma. Ele tinha qualidade, só faltava a forma física”, contou Jorge Castilho, o Buiú, técnico do Guarujá, em entrevista ao UOL Esporte.

Gustavo chegou ao clube em abril e disputou sua última partida em junho. Neste intervalo, o Guarujá disputou dez partidas em seu grupo pela Segunda Divisão do Paulistão, com quatro vitórias, três empates e três derrotas. No fim, o time comandado pelo técnico Buiú passou de fase com o terceiro lugar na chave, somando 15 pontos. Nacional (26) e Taboão da Serra (16) também avançaram.

A participação de Gustavo nesta campanha, porém, foi discreta. O volante foi relacionado pela primeira vez para o jogo da segunda rodada, contra o Taboão da Serra (derrota por 1 a 0), mas não saiu do banco. No jogo seguinte, quando o Guarujá recebeu o Guarulhos e venceu por 4 a 0 pela terceira rodada, Gustavo saiu do banco aos 28min do segundo tempo.

O jogador foi ainda relacionado nos três jogos seguintes (2 a 2 fora de casa contra o Nacional, 4 a 1 sobre o União Suzano em casa e 3 a 1 sobre o Ecus Suzano em casa), mas não saiu do banco em nenhuma. No jogo da sétima rodada, Guarujá x Taboão, nem sequer foi relacionado pelo técnico Buiú.

Gustavo voltou ao banco nos dois jogos seguintes (vitória por 2 a 1 fora de casa sobre o Guarulhos e empate por 0 a 0 em casa com o Nacional), mas não saiu do banco. Aí, na última das dez rodadas da primeira fase, com o time já classificado, Buiú finalmente utilizou Gustavo como titular por 90min. O Guarujá, porém, acabou derrotado fora de casa pelo União Suzano por 5 a 3.

“Ele era – na verdade é – um segundo volante. Tem uma boa marcação e uma boa saída de bola. É forte fisicamente e muito esforçado”, elogiou Buiú, explicando os motivos que o levaram a dar poucas chances ao “parça”. “Nós tínhamos um padrão, e ele chegou depois. Ele demorou um pouco para adquirir a forma física. Como a equipe estava embalada, os jogadores (do setor) estavam destacando”, afirmou.

Após a primeira fase, a quarta divisão paulista foi paralisada para a disputa da Copa do Mundo de 2014. De jogador, Gustavo passou a ser torcedor. Foi aí que veio o divisor de águas de sua carreira no futebol: em quatro de julho, pelas quartas de final do torneio, Neymar levou a pior em uma entrada de Zuñiga e deixou o torneio com uma fratura de vértebra. No mesmo dia, foi oficialmente cortado.

A partir daí, as rotinas de Neymar e Gustavo se tornaram novamente mais próximas. Dois dias após o jogo, Neymar se refugiou na casa dos pais em um condomínio fechado no Guarujá, onde recebeu uma mesa de pôquer e as visitas de representantes do Santos e amigos. Entre eles, Gustavo Almeida. E foi que a história do parça no Guarujá ganhou novos ares.

“Quando o Neymar se machucou, ele foi dar uma assistência. Lembra que (o campeonato) estava parado por causa da Copa do Mundo? Quando ele (Neymar) se machucou, ele (Gustavo) preferiu ficar próximo do Neymar. Eles são amigos de infância. Depois, não voltou mais”, explicou Cláudio Gomes Vieira, presidente do Guarujá, por telefone.

A versão é a mesma de Buiú. “Quando o Neymar se machucou, ele veio para o Guarujá, para a casa dele. O Gustavo ficou com ele esse tempo todo de recuperação. O Neymar, nesse meio tempo, fez esse convite para ele trabalhar na Espanha. Ele aceitou, e me mandou um e-mail pedindo desculpas”, afirmou o treinador.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de Neymar, que negou qualquer vínculo profissional de Gustavo com o astro do Barcelona, mas Buiú diz que o desligamento do jogador foi resultado do convite. “Ele não entrou em detalhes no e-mail. Só isso, que o Neymar convidou”, disse.

Desde então, os registros de Gustavo nas redes sociais se dividem entre Espanha e Santos. O Guarujá, por sua vez, foi eliminado na segunda fase do Campeonato Paulista, com seis derrotas em seis jogos (contra Barretos, Guariba e Manthiqueira). Mesmo assim, o fim da relação não deixou mágoas no clube do litoral paulista, satisfeito com o atleta.

“Desde o primeiro momento, nós deixamos bem claro que, se não tivesse qualidade e caráter para treinar, não ficaria na equipe. Até porque ele é o amigo do Neymar, (mas) não é o Neymar”, diz Buiú.