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Preso por desvio de dinheiro pode ser suspenso por chamar juiz de "ladrão"

Em manobra política, Luiz Estevão (de branco) nomeou o filho como presidente do Brasiliense  - Marco Ambrosio/Agência Estado
Em manobra política, Luiz Estevão (de branco) nomeou o filho como presidente do Brasiliense Imagem: Marco Ambrosio/Agência Estado

Daniel Brito

Do UOL, de Brasília

29/09/2014 15h16

Preso sob a acusação de falsificar documentos no esquema de desvio de dinheiro de obras públicas, o senador cassado Luiz Estevão pode sofrer nova sanção judicial por, ironicamente, acusar um árbitro de futebol de “ladrão”. Ele será julgado pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) por ofender o árbitro Luciano Oliveira dos Santos no intervalo do jogo entre o Brasiliense, time do qual é o dono, e a Anapolina-GO, em Taguatinga-DF, no final de agosto.

A partida, válida pela sétima rodada da primeira fase da Série D do Campeonato Brasileiro, terminou empatada em 1 a 1, mas o meia Rodrigo, do time da casa, recebeu cartão amarelo aos 13 e aos 14 minutos da etapa inicial, e acabou sendo expulso. No intervalo, antes do início do segundo tempo, Estevão foi ao gramado e atacou Luciano Oliveira dos Santos.

As ofensas foram registradas na súmula da seguinte maneira: “O sr. Luiz Estevão, presidente do Brasiliense, adentrou ao campo de jogo vindo do vestiário de sua equipe e dirigiu-se ao centro do gramado, ao encontro da equipe de arbitragem, citando as seguintes palavras: ‘Você é ladrão, safado, veio para roubar minha equipe (...)’”.

O cartola, que é também é acusado pelo Ministério Público Federal de desviar mais de R$2,25 bilhões dos cofres públicos, pode ser punido pelo STJD pelo episódio com o árbitro Luciano Oliveira dos Santos com uma multa de até R$ 100 mil e uma suspensão de até 90 dias. Essas sanções são referentes apenas às ofensas, já que ele alegou estar no gramado como membro da imprensa - ele possui credenciamento de imprensa por ser dono de uma emissora de rádio. Logo, pode estar no campo de jogo.

Estevão chegou a ir a julgamento no STJD em 17 de setembro. Mas graças a uma manobra administrativa, não pôde ser sancionado pelo tribunal desportivo. A acusação o apontava como presidente do Brasiliense, cargo que, oficialmente, é ocupado por seu filho, que atende pelo nome de Luiz Estevão de Oliveira Júnior. O ex-senador atua, muitas vezes, como representante do filho em processos burocráticos e administrativos do clube. Mas não neste caso da invasão do gramado e ofensa ao juiz.

O STJD ainda não publicou a data para um novo julgamento.

Estevão foi condenado a 3 anos e 6 meses de prisão por falsificar documentos dos livros contábeis de sua empresa, que desviou verba pública na construção da sede do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. Segundo cálculos da Justiça, em valores corrigidos, só esta obra atingiu a quantia de R$ 1 bilhão desviados.

O ex-senador foi detido pela Polícia Federal em sua mansão em Brasília, na manhã de sábado, 27, e passou o final de semana na superintendência da PF em São Paulo. De lá, mandou mensagem aos jogadores e comissão técnica do Brasiliense que estavam em Belém do Pará para enfrentar o Remo, no duelo de ida das oitavas de final da Série D do Brasileiro.

Entre outras coisas, Estevão avisou: “Podem ficar tranquilos, não há problema algum envolvendo o Brasiliense, a equipe vai continuar do mesmo jeito, sem nenhuma alteração. Bom jogo a todos.” A mensagem parece ter surtido efeito no time, que venceu o Remo por 2 a 1, derrubando um jejum de três jogos sem vitória longe do Distrito Federal.

Estevão tinha por hábito entrar em contato com a comissão técnica durante o intervalo dos jogos para opinar sobre o desempenho dos jogadores. Por motivos óbvios, não conseguiu se comunicar com seus funcionários no Pará neste domingo. E é improvável que o faça no próximo dia 4, quando o Brasiliense recebe o Remo em Taguatinga, no confronto de volta das oitavas de final.