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Após jogar Copa, zagueiro entra em depressão com 'geladeira' no Fla

Vinicius Castro

Do UOL, no Rio de Janeiro

30/09/2014 06h10

Como um jogador que disputou a Copa do Mundo não serve para o Flamengo? A pergunta é repetida inúmeras vezes por Frickson Erazo. O zagueiro equatoriano sofreu com a adaptação ao Rubro-negro e teve a negociação cogitada pela diretoria após o Mundial do Brasil. Ele foi afastado e voltou ao elenco sob o comando do técnico Vanderlei Luxemburgo.

Erazo entrou em depressão com o processo desgastante e se apoiou nos familiares para recomeçar. Por telefone, o titular da seleção do Equador concedeu entrevista ao UOL Esporte e não escondeu a decepção com os acontecimentos depois da Copa do Mundo. Porém, assegurou que os problemas estão superados e mostrou confiança na boa relação com Luxa para retomar a carreira.

Confira a íntegra da entrevista:

UOL Esporte: Você disputou a Copa do Mundo pelo Equador, mas não entra em campo com a camisa do Flamengo desde 13 de abril - foram apenas cinco jogos pelo Rubro-negro. O que aconteceu?
Frickson Erazo: Sinceramente, não sei. É uma coisa delicada para a minha família e para o meu país. Estou muito triste e não consigo explicar. Me acostumei a jogar como titular. Sou um atleta de seleção, atuei em Libertadores... Como um jogador que disputou a Copa do Mundo não serve para o Flamengo? Tenho um país nas costas que me cobra por não jogar no Rio de Janeiro. Só tento fazer o melhor possível e espero a minha oportunidade.

UOL Esporte: Você pediu para ser negociado quando se reapresentou após a Copa do Mundo? Por que foi afastado e só retornou em agosto?
Frickson Erazo: Não quero colocar na conta de ninguém, mas é um processo que prejudica todo mundo. Nunca quis sair do Flamengo. Lembro que poderia ter tirado férias depois da Copa e optei por treinar e jogar. Conversei com o Ney Franco [ex-técnico] sobre o meu momento e falei que estava chateado. Não sei o que ele passou para a diretoria. Fiquei uma semana no Equador, voltei e fui avisado pelo Felipe Ximenes [diretor de futebol] que não precisava mais treinar. Também nunca fui chamado para voltar. Conversei de novo com o Ximenes, expliquei que a janela de transferências estava fechando e gostaria de treinar para ser aproveitado. Voltei atrás de todos os companheiros. Não sou garoto para brincar de futebol. Essas coisas me deixaram insatisfeito e psicologicamente mal.

UOL Esporte: Como foi o período afastado dos treinos e sem a companhia da família no Rio de Janeiro?
Frickson Erazo: Eles [Ney Franco e Felipe Ximenes] me pediram para esperar e fiquei no meu apartamento por quase 15 dias sem fazer nada. Passei por uma depressão grande. Imagina não treinar e só aguardar uma decisão. Foi a parte mais chata da minha carreira. Não tomei remédios. Se não fosse a fé em Deus não teria saído da depressão. Também conversei muito por telefone com o meu pai. Não estava bem de cabeça e tudo isso me deu força para melhorar.

UOL Esporte: Você realmente teve propostas para sair do Flamengo? O seu afastamento foi justificado por esse motivo?
Frickson Erazo: Tive propostas, mas as coisas não aconteceram. Não adianta insistir no que não foi adiante. Essa parte chata ficou lá atrás. Só treino todos os dias e espero a minha chance. Conversei bastante com o professor Vanderlei Luxemburgo. Ele entendeu e disse que só depende de mim.

UOL Esporte: O Vanderlei Luxemburgo chegou ao Flamengo depois desse imbróglio. Qual o papel dele na sua recuperação?
Frickson Erazo: O Vanderlei não teve nada a ver com o problema anterior. Ele foi muito compreensivo comigo e contou que acha natural o sofrimento dos estrangeiros no futebol. O professor lembrou que também enfrentou momentos delicados quando dirigiu o Real Madrid. Agradeço muito por ele me ajudar e passar confiança nesse momento. Está sendo fundamental no processo.

UOL Esporte: Você chegou ao Flamengo confiante em ser ídolo da torcida e ainda tem pelo menos mais um ano de contrato. Foram cinco jogos disputados e algumas críticas. Como avalia a passagem pelo clube até o momento?
Frickson Erazo: Na verdade, hoje vivo um pesadelo no Flamengo. Nunca pensei que isso pudesse acontecer. Sei que voltarei a jogar para dar a volta por cima. Só quero que o torcedor saiba das minhas condições e me veja atuar com confiança. Nunca quis sair do Flamengo e menos ainda agora. É muito chato ficar desvalorizado, treinar com os garotos da base e não ter sido aproveitado. Imagina como cheguei todos os dias... Mas o meu começo também foi muito complicado no Flamengo.

UOL Esporte: O que aconteceu no início que te incomodou tanto?
Frickson Erazo: Foram muitas coisas erradas. Os meus empresários não me ajudaram. Morei dois meses no hotel, paguei táxi toda hora... Isso tudo influiu no rendimento em campo. Só estou com muita vontade de brilhar com essa camisa. Por que não consigo jogar aqui? Sempre me pergunto isso e quero responder o mais rápido possível.