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Como os dirigentes de clubes escolhem candidatos a presidente da República

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Imagem: UOL

Ricardo Perrone e Rodrigo Mattos

Do UOL Esporte, em São Paulo

30/09/2014 06h00

Carreira política, propostas para o futebol, proximidade de aliados e convicção pessoal. Os presidentes dos 12 maiores clubes do futebol brasileiro têm levado em conta motivos diferentes para decidir seus votos para a presidência da República. Não são poucos os que têm conexões políticas, e há até candidatos a cargos como deputado estadual, casos dos presidentes do Cruzeiro e do Vasco. Boa parte prefere não declarar voto mesmo quando ele parece claro, e há aqueles que ainda não foram convencidos por nenhum candidato. 

Uma reclamação ouvida de pelo menos dois presidentes (Fluminense e São Paulo) é de que nenhum dos três principais postulantes à presidência tem propostas para o futebol, que sequer tem sido tema da campanha. E não há pouca coisa a discutir, com uma lei para as dívidas dos clubes no Congresso e regulamentações para empresários também em debate dentro do governo federal. 
 
Neste cenário, os cartolas mineiros tendem para o candidato local Aécio Neves. A presidente Dilma Rousseff aparece como provável escolha daqueles que têm ligação com sua base aliada, ou com negócios do governo. E Marina Silva é a preferida do são-paulino Carlos Miguel Aidar. Nada a ver com o clube, questão de preferência.
 
São Paulo - O presidente do São Paulo, Calos Miguel Aidar, tende a votar na candidata a presidente Marina Silva. "Ela é absolutamente alienada em relação ao futebol, mas pode ser uma boa presidente por outras razões”, disse o dirigente são-paulino. Ele reclama de que nenhum dos candidatos apresentou propostas para o futebol. “Se você considerar que a soma dos clubes da Série A e B deve reunir metade da população eleitoral brasileira, acho que eles estão perdendo uma grande oportunidade de abrir a boca”, declarou o cartola.
 
Corinthians – Mário Gobbi não apoia publicamente nenhum dos candidatos à presidência. Mas Andrés Sanchez estreitou as relações do clube com o ex-presidente Lula, consequentemente com o Governo Federal, do qual o alvinegro virou parceiro. A Caixa Econômica patrocina o time, e Lula, conselheiro corintiano, ajudou a convencer a Odebrecht a construir o Itaquerão. Esse histórico faz com que a cúpula corintiana avalie que o melhor para o Corinthians é a continuidade do PT na presidência, com Dilma Rousseff. Mas, se ela vencer, e Andrés for eleito deputado federal, o ex-presidente corintiano pode ganhar mais poder político. Atualmente, os grupos de Gobbi e Andrés no Corinthians estão rompidos. Procurado, Gobbi não quis se pronunciar sobre a eleição presidencial.
 
Palmeiras – Paulo Nobre não demonstra proximidade com nenhum dos candidatos. A diretoria de Nobre tem dois membros do partido de Paulo Maluf, o PP (Partido Progressista), da base aliada de Dilma Rousseff. Antes do início da campanha presidencial, Nobre participou de pelo menos um evento do partido, que tem como secretário-geral Antonio Jesse Ribeiro, terceiro vice-presidente do Palmeiras e homem de confiança de Maluf. Também no PP está Fernando Pizo, assessor especial da direção palmeirense. Já o candidato ao Senado por São Paulo, José Serra, é palmeirense fanático, mas não tem intimidade com a atual diretoria para levá-la ao PSDB. Caso similar ao do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, do PC do B, que é mais ligado ao opositor Wladimir Pescarmona, opositor e candidato à presidência do clube. Nobre não quis se manifestar sobre as eleições.
 
Santos – Odílio Rodrigues não se posiciona publicamente em relação às eleições presidênciais. Porém, parte de seus aliados defende que o melhor para o clube é a vitória do PSDB, de Aécio Neves combinada com a reeleição de Geraldo Alckmin, para o governo do Estado. O argumento é de que Alckmin é torcedor do Santos e com influência no governo federal poderia ajudar o time, apesar de até hoje não ter se aproximado das coisas do clube. Além disso, Odílio foi secretário de Saúde de Santos na gestão do prefeito João Paulo Tavares Papa, agora candidato a deputado federal pelo PSDB.
 
Cruzeiro - Integrante do Partido Verde, o presidente do Cruzeiro, Gilvan Pinho Tavares, apoia o candidato do PSDB Aécio Neves por vários motivos. Primeiro, o dirigente é candidato a deputado estadual pelo PV, em coligação encabeçada pelo PSDB para o governo do Estado. Seus panfletos têm o nome do ex-governador de Minas. Segundo, Neves é conselheiro do Cruzeiro e tem uma ligação forte com o clube, tanto que foi escolhido sócio torcedor de número 50.000 em uma homenagem. 
 
Atlético-MG - O presidente Alexandre Kalil chegou a ser candidato a deputado federal pelo PSB para essa eleição. Só que o cartola desistiu de sua candidatura e renegou qualquer ligação com o partido após a morte de Eduardo Campos. Questionado pelo UOL Esporte, irritou-se: "Voto é secreto", afirmou, antes de desligar. A participação do cartola na política tinha relação com o governador do Estado, Antônio Anastasia, e com presidenciável Aécio Neves. Chegou, inclusive, a pedir votos para o ex-governador quando estava em campanha.
 
Vasco - Candidato a reeleição para deputado estadual, Roberto Dinamite é integrante do PMDB, que apoia a candidatura da presidente Dilma Rousseff. Mas, no Rio de Janeiro, houve um racha no partido porque o PT resolver lançar chapa própria para o Estado, contra o governador Luiz Eduardo Pezão. Uma parte dos deputados estaduais foi fazer campanha para Aécio Neves, e outra partida continuou com Dilma. Dinamite é neutro. "Na realidade, o PMDB está fechado com a presidente. Ao contrário dos outros presidentes, tomar uma posição daria muita repercussão. A situação é complicada. Vou refletir e poderia anunciar minha posição oficial", disse ele.
 
Botafogo - O presidente do Botafogo, Maurício Assunção, é filiado ao PMDB carioca, e teve como padrinho político o governador Luiz Eduardo Pezão. Foi até cogitada sua candidatura para vereador em 2012. Como Pezão se manteve fiel à presidente Dilma Rousseff, a tendência é que Assunção siga a mesma linha. O UOL Esporte tentou falar com o dirigente para confirmar se essa era a sua posição, mas ele não atendeu as ligações.
 
Flamengo - Sem nenhuma filiação partidária, o presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello, preferiu não se posicionar publicamente em relação à disputa pela presidência. "Obviamente, tenho minhas preferências, mas acho que não seria correto declinar", afirmou o dirigente. Ele não quer que sua posição se misture com um apoio do clube a determinado candidato.
 
Fluminense - O presidente do Fluminense, Peter Siemsen, está indeciso sobre a escolha do presidente da República. "Ainda não decidi em quem votar. Não está fácil. O debate não está ajudando muito", comentou. Uma reclamação do dirigente é da falta de discussão dos candidatos em relação a proposta. Ele queria a criação de uma lei própria para o futebol para a transformação de clubes em empresas. "Gostaria de uma lei que facilitasse a opção de criar a empresa futebol, como é no mercado europeu com exceção de Real e Barcelona", explicou.
 
Internacional – O presidente Giovanni Luigi não manifestou apoio a nenhum dos candidatos. Porém, Silvio Ferreira, um de seus aliados no clube, aproximou o cartola de Dilma Rousseff. A presidente foi fundamental para resolver impasse com a Andrade Gutierrez para a reforma do Beira-Rio.
 
Grêmio – Com o clube extremamente dividido em relação à eleição presidencial, Fábio Koff fica em posição desconfortável e evita se manifestar sobre o pleito para não ferir parte dos aliados. Em seu entorno há gente envolvida com os principais candidatos.