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Mulher, filhos e encontro com religião. Veja razões que mudaram Tardelli

Bernardo Lacerda

Do UOL, em Vespasiano (MG)

01/10/2014 06h00

Desde a saída de Ronaldinho Gaúcho do Atlético-MG, Diego Tardelli se transformou no grande nome do time, tem sido ainda mais decisivo em campo e vive momento de alta na carreira. O camisa 9 atleticano deixou para trás a fama de bad-boy, que o acompanhou durante bastante tempo. Mas, isso não aconteceu do dia para noite. O amadurecimento foi sendo construído aos poucos e dois fatores em especial ajudam a entender a mudança na imagem do jogador: família e a religião.

Casado com Linda Vanessa, há quase sete anos, pai de dois filhos, Pietra, seis anos e Dieguinho, três, o jogador trocou a fase de noitadas e baladas pela valorização do convívio familiar. Não que tenha abandonado totalmente as saídas para lazer noturno, mas o que mudou é que geralmente tem a companhia da mulher, aparecendo mais em jantares e eventos, como shows. Tardelli mantém a amizade com diversos artistas, entre eles, o cantor Belo, mas tem valorizado o convívio com a esposa e os filhos em seus momentos de folga.

“A minha família é a minha base, estou centrado, penso nos meus filhos, na minha esposa. Sempre que vou fazer alguma coisa penso neles. Com a idade a gente vai amadurecendo, crescendo, a vida te faz ganhar experiência e isso a gente começa a ver na vida, na profissão, no dia a dia”, contou Tardelli. Ele não esconde que o amadurecimento interfere positivamente na sua carreira profissional e na vida pessoal.

O pai de Tardelli, Thadeu Martins, que foi jogador de futebol com passagens por Paraná, Atlético-PR, Portuguesa, entre outros clubes, na década de 1980, é peça importante no dia a dia do filho. O ex-atacante comparece aos treinos no Atlético e está sempre dando dicas ao jogador, principalmente na parte tática e técnica.

Outro ponto importante na mudança foi a aproximação maior com a religião. O atacante também aumentou a sua ligação com a religião. Tardelli comparece quase semanalmente a cultos religiosos ao lado da sua esposa e de outros jogadores do Atlético. O principal culto religioso é com o pastor e cantor musical gospel André Valadão, que é amigo pessoal do atacante, na Igreja Batista da Lagoinha, no bairro do mesmo nome em Belo Horizonte.

Porém, em alguns casos, os atletas e principalmente Tardelli realizam cultos pessoais em locais particulares. O jogador e André Valadão saem sempre com suas famílias em Belo Horizonte. A aproximação com a religião aconteceu graças a amigos do atacante e companheiros de clube. “É sempre bom ter a a visita de Tardelli em nosso culto”, disse o pastor.

Tardelli não esconde que o seu começo no futebol foi difícil e que perdeu tempo com atitudes erradas extracampo, que ele considera frutos da empolgação com a mudança repentina de vida. “Tive minha fase da adolescência, que foi dos meus 18 anos até os 22, acho que é normal. Eu vim de família humilde, você sobe do nada, começa a ter as coisas de uma hora para outra, acabei me empolgando, era um fiozinho desencapado como sempre falo”, observou.

Os problemas começaram ainda nas categorias de base, antes de se tornar atleta profissional. Tardelli vestiu a camisa do time paulista na mesma época em que Robinho e Diego ganhavam destaque no time profissional. Apesar de ter feito alguns treinos com o “rei da pedalada”, o atacante atleticano ainda era atleta da base em 2000 e acabou sendo dispensado do Santos por roubar o achocolatado Toddynho da geladeira da concentração para levar para o quarto ao final de um treino.

Sem se tornar um ‘Menino da Vila’, o atacante acabou em outro grande clube paulista, o São Paulo, onde se profissionalizou. Depois de subir para o profissional, Tardelli foi emprestado ao Betis, PSV e São Caetano. O atleta ainda teve passagem pelo Flamengo, quando teve boas atuações, antes de ir para o Atlético, em 2009. Começava aí efetivamente uma nova fase na carreira do atleta.

Leão é pai no futebol

Outras pessoas também ajudaram Tardelli a mudar de vida. O técnico Emerson Leão, que o levou ao Atlético, é um deles. O atacante ganhou atenção especial do treinador, apesar de toda sua fama de durão. O comandante, reconhecidamente disciplinador, conseguiu ajudar o centroavante a se concentrar no futebol e a transferência para Belo Horizonte foi determinante para a volta por cima. “O Leão foi um pai para mim no futebol”, resumiu.

Religião é importante na vida de Tardelli - Reprodução - Reprodução
Tardelli posta foto em que aparece o pastor e amigo André Valadão, responsável pela aproximação do atleta com a religião
Imagem: Reprodução

Mudar de vida não é tudo. É preciso se manter assim. Entra aí na receita de Tardelli um outro ingrediente importante, que o tem ajudado a se manter tranquilo e focado apenas no futebol: a volta à seleção brasileira. Tardelli voltou a fazer parte das convocações, após o retorno de Dunga ao comando da equipe, e foi titular nos dois primeiros amistosos, nas vitórias sobre Colômbia e Equador. 

“A seleção é meu objetivo, hoje tenho muita coisa a perder, então estou ficando mais tranquilo, cabeça boa. Tenho a família, a seleção, o Atlético, quero conquistar mais títulos, escrever ainda mais meu nome na história deste clube, então tenho objetivos, maturidade e por isso a gente vai ficando mais tranquilo”, observou Diego Tardelli.

E o bom momento do jogador tem sido notado dentro de campo. Tardelli já marcou nove gols no Brasileirão, quatro nos últimos três jogos do alvinegro mineiro. O jogador desempenha papéis diferentes táticos em campo. Já jogou como centroavante, atacante de beirada de campo e até recuado, como armador.

“Cada jogador tem uma responsabilidade grande. Claro que a carga no meu caso, no do Victor, é diferente. Sei das minhas responsabilidades. Os jogadores estão entrando e mostrando qualidade, como no caso do Dodô e do Carlos. São todos jogadores com um só objetivo, que é o título”, observou.

Tardelli e Levir juntos

O bom momento dentro e fora de campo faz de Tardelli espelho para os mais jovens no elenco atleticano. É o caso do atacante Carlos. “Ele é meu ídolo, uma grande pessoa. Já me falou que eu preciso evitar de ficar saindo, ir para a noitada, aproveitar mais a família, ficar em casa, ter a cabeça no lugar. Então estou escutando o que ele tem me passado”, explicou o centroavante de 19 anos.

Nesta temporada, o jogador chegou a ter um desentendimento com o técnico Levir Culpi, ao ser substituído no segundo tempo da eliminação atleticana para o Atlético Nacional, da Colômbia, no Independência. Tardelli não gostou de deixar o campo e reclamou com o técnico, que momentos depois rebateu o jogador, dizendo que os números apresentados por ele em campo motivaram a substituição.

Ambos garantem que aquela situação ficou no passado. Agora, Levir não poupa elogios a Tardelli. “Neste momento ele é decisivo, a participação dele tem sido muito contundente, tem feito gols em quase todos os jogos. Ele está com os números e jogando bem. É um prazer vê-lo jogando porque é muita técnica, muita habilidade e definição. Está definindo os lances, é muito agudo, isso pode ajudar o Atlético e a seleção brasileira”, disse o treinador. 

“Vi os elogios e fiquei muito feliz. Depois da nossa conversa no primeiro semestre, a gente se juntou. Ficamos mais fortalecidos. Por isso que venho em um grande momento. Se não tivesse aquela discussão naquele momento, talvez a gente não tivesse um momento tão bom como estou agora”, reconheceu Diego Tardelli.