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Ex-camisa 10 do Fla comete saia-justa com Romário mas se dá mal nas urnas

Iranildo jogou no Flamengo no final da década de 90 e fez pouco mais de 30 gols - Ben Radford /Allsport
Iranildo jogou no Flamengo no final da década de 90 e fez pouco mais de 30 gols Imagem: Ben Radford /Allsport

Daniel Brito

Do UOL, de Brasília

13/10/2014 06h01

A ideia partiu de Romário: eleger o meia Iranildo deputado em Brasilia, tal qual o ex-atacante recém-eleito senador. “Queria ser um deputado igual ao Romário”, repetia o franzino jogador, hoje com 37 anos e, segundo ele, ainda em atividade no futebol (embora sem clube).

O tetracampeão mundial organizou tudo. Filiou o amigo, a quem se refere carinhosamente de Chuchu, ao PSB. É o partido em que Romário foi eleito deputado federal em 2010 e pelo qual acaba de garantir sua cadeira no Senado Federal. Iranildo não pensava tão alto assim. Era candidato a deputado distrital (equivalente a deputado estadual) no Distrito Federal.

Os argumentos para se eleger estavam na ponta da língua: “Queria os votos da torcida do Brasiliense e, principalmente, da torcida do Flamengo aqui em Brasília, que é muito grande. E eu fiz história no Flamengo”, esperava Chuchu.

Iranildo mora no Distrito Federal há 14 anos. Orgulha-se do status de maior ídolo da curta história do Brasiliense. Chegou ao clube em 2001, quando a agremiação mal tinha completado seu primeiro aniversário de fundação. O meia tinha apenas 23 anos.

Nas temporadas anteriores, ostentara a 10 do Flamengo. Conquistou três títulos estaduais (1996, 1999 e 2000) e a extinta Copa Mercosul (1999). Anotou 34 gols em 282 partidas oficiais. Caiu nas graças de Romário nesse período.

“Romário dizia para os jogadores, para o treinador, para qualquer um: ‘Toca no Iranildo. Passa a bola para o Chuchu sempre’. Ele sentia a confiança em mim, porque sabia que eu ia tocar para ele fazer o gol”, relembra, orgulhoso, o meia. “Na hora do jogo, ele falava: ‘Deixa os zagueiros darem pique, Chuchu. Quando chegar aos 39 minutos do segundo tempo, dá em mim”. Os defensores já estavam todos cansados, Romário dava aquela arrancada e era gol na certa. Era caixa”, conta.

“Muitos falaram que ia afundar minha carreira aqui em Brasilia, porque era muito jovem. Mas eu queria ser um ídolo igual ao Romário, porque foi o melhor jogador que já vi na vida. E fui idolo aqui no Brasiliense”, justificou o pernambucano de Igarassu.

Mas nem toda adoração ao atacante livraram Iranildo de cair na tentação de alçar maiores voos políticos. Quando recebeu uma proposta para candidatar-se pelo PMDB e largar o PSB de Romário, o meia aceitou e se lançou candidato em chapa adversária à do partido do ídolo. “Nem contei para ele [Romário]. PMDB é partido grande, tradicional, como um time grande, e eu joguei em time grande. Acabei indo. Cheguei la, eu estava mal assessorado. Deu vontade de desistir da candidatura.”

O PMDB deu apenas seis segundos para Iranildo na propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV. Segundo o atleta, seu nome não teve a divulgação necessária para tornar a candidatura conhecida. A 40 dias da eleição, rodou a periferia do DF com a ajuda de um amigo, ex-deputado, para cativar o eleitor. “Ninguém sabia que estava concorrendo e todos me diziam que eu tinha chegado tarde demais para pedir o voto, porque já estavam todos apalavrados com outros candidatos”, explica.

O resultado das urnas foi desastroso. Iranildo amealhou 478 eleitores e, dentre os 48 candidatos do PMDB, foi o 32º em número de votos. “Meu partido me abandonou. Eu queria trabalhar pelo esporte, criar várias escolinhas de futebol para a categoria de base”, relata.

No dia seguinte à votação, puxou papo via mensagem de texto do celular com o ídolo e “padrinho político” Romário, já eleito senador pelo Rio de Janeiro.
“Mandei os parabéns pela eleição e ele respondeu perguntado se eu tinha sido eleito. Disse que não e ele falou: “Vai ter outra eleição, meu amigo. Mas você gostou?”, e eu disse que gostei. E gostei mesmo. Parece que comove o povo, o carinho nas ruas é demais. Mas eu cheguei muito tarde. Agora a bola segue”, resigna-se Iranildo.

Ele tirou duas semanas de folga após o fim da campanha e promete anunciar em breve seu futuro. Iranildo ainda sonha com um jogo de despedida da carreira entre Flamengo e Brasiliense, em Taguatinga. Enquanto isso, tem lugar garantido nas peladas promovidas por Romário no campo de sua mansão à beira do Lago Paranoá, em Brasília.