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Fã de sertanejo e pescaria, volante do Cruzeiro 'curte' fama aos 21 anos

Volante Lucas Silva comemora aniversário ao lado de fãs na Toca da Raposa II - Arquivo pessoal/divulgação
Volante Lucas Silva comemora aniversário ao lado de fãs na Toca da Raposa II Imagem: Arquivo pessoal/divulgação

Dionizio Oliveira

DO UOL, em Belo Horizonte

15/10/2014 12h00

Natural de Bom Jesus de Goiás, município que tem pouco mais de 20 mil habitantes, Lucas Silva trouxe do interior do estado goiano o jeito pacato e tranquilo. Mesmo tímido, conseguiu se tornar um dos destaques do Cruzeiro dentro de campo e conquistar fãs fora das quatro linhas. Admirador da música sertaneja e parceiro de pescaria do pai, o atleta de 21 anos mantém forte identificação com os torcedores, principalmente com as cruzeirenses.

Desde o primeiro contato com a bola aos 8 anos de idade em sua cidade natal, Lucas Silva nunca pensou no sucesso e sim no sonho de jogar futebol. Inspirado no ídolo Juninho Pernambucano, se mudou para Goiânia e ingressou em uma escolinha que tinha parceria com o clube mineiro. Em 2007, incentivado pela família, foi a Belo Horizonte fazer o teste na Toca da Raposa e assim começou a sua trajetória com a camisa celeste.

A maior dificuldade foi se distanciar dos irmãos Leandro e Lorraine, e os pais, Miguel e a dona Ana Maria. O talento do caçula foi o incentivo para seguir no futebol e despertar a atenção de Luiz Rocha, seu atual empresário. “Eu o conheci no juvenil, acho que no último ano. A gente só trabalha com jogador que tem capacidade, alguns viram profissional e outros não. Mas o Lucas é um menino extremamente responsável, é até de assustar, ele realmente é diferenciado”, observou o representante do volante.

A primeira chance no profissional não demorou, veio em 2012, aos 19 anos de idade. A estreia foi diante da Portuguesa, no Canindé, quando o Cruzeiro venceu por 2 a 0. Pouco depois da euforia, no entanto, o meio-campista experimentou o outro lado da moeda. Foi preterido por Celso Roth na reta final do Brasileirão e as oportunidades ficaram cada vez mais escassas.

Luiz Rocha admite que naquele momento cogitou até a transferência para outro clube em busca de mais espaço, mas a receita para superar a adversidade foi trabalhar mais. “Sempre busquei uma coisa de cada vez, um passo de cada vez. Abri mão de muitas coisas e isso (reconhecimento) valoriza, me sinto muito feliz e agradeço muito a Deus pelo que aconteceu. Ter saído cedo de casa, chegar na base do Cruzeiro e superar tantos desafios e realizar o sonho de ser profissional”, disse Lucas Silva.

A mudança na carreira se deu com a chegada do técnico Marcelo Oliveira e virou realidade depois dos dois gols marcados na vitória sobre o Vasco, por 5 a 3, quando enfrentou o ídolo Juninho. Depois daquela partida, Lucas Silva teve uma rápida evolução, firmou-se como titular, chegou à seleção brasileira sub-21 e foi campeão brasileiro. A ascensão do jovem atleta já desperta interesse. De acordo com o jornal Marca, a revelação celeste, que virou matéria de capa da publicação espanhola, está na mira do Real Madrid.

Um ponto fundamental para essa virada foi o apoio das arquibancadas. Prata da casa, sempre foi muito bem acolhido pelo torcedor cruzeirense, especialmente pelas garotas que o chamam de “príncipe” – o apelido pegou até entre os jogadores. Já aos 19 anos tinha seu próprio fã clube oficial e esse grupo de admiradores só cresce com o sucesso dentro das quatro linhas.

“É natural esse reconhecimento com o passar do tempo. A maioria das pessoas me reconhecem nas ruas aqui em BH, principalmente as cruzeirenses, mas encaro com naturalidade, nunca passaram dos limites. Não chega a ser um alvoroço, mas sempre encontro com algumas fãs e atendo sempre com fotos e autógrafos, tento corresponder com maior carinho”, ressaltou o volante.

Por causa dessa simplicidade e a forma que trata os torcedores, Lucas Silva conquistou não só a idolatria, mas a amizade de Jéssica Maia. A estudante de direito, de 21 anos, é a fundadora do fã clube oficial do camisa 16. Ela costuma promover eventos com o jogador para que outras fãs também possam o conhecer, de duas a três vezes por ano. Atencioso, ele já foi a jantares e recebeu torcedoras na Toca para comemorar o aniversário.

A rotina de tirar fotografias e distribuir autógrafos é imensa. O jovem também dedica uma parte do período de folga para ler mensagens que recebe nas redes sociais, cartinhas que as fãs enviam, além de colecionar cartazes e pequenos mimos dados pelas torcedoras. Os pedidos de casamento são frequentes, mas, aos 21 anos, ele segue solteiro e, por enquanto, foca apenas no futebol.

Mas o que realmente conquistou Jéssica em definitivo foi um gesto de solidariedade do meio-campista, quando seu irmão Caio Henrique estava internado com pneumonia no hospital e não dava sinais de reação. Junto com Vinícius Araújo – que também é cria das categorias de base do Cruzeiro e já se transferiu para o futebol europeu – Lucas Silva gravou um vídeo de apoio que ajudou na recuperação do menino que é portador de Síndrome de Down.

“É emocionante falar porque eles gravaram de forma espontânea e meu irmão reagiu. Não salvaram apenas uma vida, salvaram uma família”, destacou Jéssica, que ainda levou o irmão para jogar bola na Toca da Raposa com a dupla. Caio também já recebeu outros presentes do ídolo, como camisas e porta-retrato autografado que mostra com orgulho para todo mundo.

Hoje Lucas Silva mora sozinho em Belo Horizonte e sempre que pode recebe a visita da família, na última semana teve a companhia da mãe, por exemplo. O pai também já esteve várias vezes na capital mineira e um dos hobbys preferidos do volante é pescar na companhia dele. Quando ele não está na cidade, aí vai com os amigos de clube, como Bruno Rodrigo e Rafael.

Outra atividade de lazer do camisa 16 é jogar paintball com os companheiros. Ele também gosta de se aventurar no kart, ir ao cinema, brinca com aeromodelos e viajar para sítios e fazendas, pois é um amante da natureza e tem até um site de vendas que reverte o dinheiro dos produtos para um instituto ambiental. A preocupação com a natureza vem do pai, que é engenheiro agrônomo, e da mentalidade de dar bons exemplos às crianças.

O que também trouxe de Goiás foi o gosto pela música sertaneja. Ele é um autêntico fã da dupla Jorge e Matheus e chegou a ir em show na capital mineira neste ano, quando presentou Jorge com uma blusa do Cruzeiro. No entanto, é avesso a baladas e se caracteriza pela simplicidade, tanto que seu prato favorito é arroz, feijão, salada e carne, e a sobremesa número um é o doce de leite. O carro, um Hyundai I30, é o mesmo desde quando ascendeu ao profissional. Nem mesmo a renovação de contrato o fez querer trocar de veículo.

"Ele é desse jeito, não está preocupado com estereótipo de jogador, de ter o melhor carro, esse tipo de coisa. Ele é feliz assim. Parece que é da boca para fora, mas realmente está satisfeito no Cruzeiro. Lógico que tem o sonho de ir para o futebol europeu, jogar na seleção principal, mas só se surgir uma oportunidade que seja boa para ele e o Cruzeiro", ressaltou Luiz Rocha.