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Os desafios físicos de Adriano para voltar a jogar futebol

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

16/10/2014 06h01

Adriano vai para mais uma e talvez última tentativa de voltar a jogar futebol profissional. Recebeu um convite para conhecer o Le Havre, clube da segunda divisão da França. Vai viajar daqui a duas semanas, para negociar contrato e, se houver acordo, começar o processo de recuperação. Mas transformar Adriano em atleta, agora, aos 32 anos, não é tão fácil como em outros momentos. Quem conviveu e trabalhou com o atacante nos últimos anos explica que o desafio principal é contornar um problema físico pontual: segundo os relatos, Adriano tem uma sequela da lesão no tendão calcâneo do pé direito, sofrida em abril de 2011.

Há um ano, Adriano começou um trabalho de recuperação no Atlético-PR para voltar a jogar. Estava acima do peso, não entrava em campo desde março de 2012, pelo Corinthians, e precisou passar por processo de readequação. Tal trabalho foi coordenado pelo preparador físico Moraci Sant’anna, com quem o atacante conviveu na seleção brasileira no apogeu do Imperador, em 2004 e 2005. Nove anos depois, o reencontro em Curitiba revelou que o problema no tendão calcâneo de Adriano, que passou por duas cirurgias entre 2011 e 2012, o coloca em risco: não pode treinar se estiver acima do peso e precisa de reforço muscular na panturrilha para não mancar e evitar lesões musculares.

 “Peguei ele no final do ano [2013], quando ele veio, e fiz toda a programação de início. Ele tem um problema complicado naquele tendão. Ficou uma sequela. Ele tem que fazer um reforço muito grande para proteger. Em decorrência de uma lesão forte ele precisa sempre estar fazendo um reforço muscular para poder atuar em alto nível. Se ele não estiver equilibrado, ele vai mancar por isso. Um dos problemas dele é equilibrar, e ele precisa equilibrar para poder atuar em alto nível”, conta o preparador, atualmente no Botafogo.

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Preparação no Atlético-PR durou dois meses antes de estreia
Imagem: Gustavo Oliveira/Site Oficial

Caso acerte contrato com o Le Havre, Adriano estará em situação semelhante à que viveu no Atlético-PR. Terá dois meses para treinar até janeiro, quando a temporada europeia é interrompida para permitir inscrição de reforços nos clubes. Sant’anna explica como foi o trabalho de recuperação, que teve de respeitar o problema no tendão para evoluir, passo a passo.

“Ele vinha de um longo período parado, e em dois meses conseguiu fazer um bom trabalho. Como só jogaria em janeiro, deu tempo de fazer esse trabalho. No início não deu, porque ele estava com excesso de peso, e isso poderia acarretar em lesão. Então no início foram exercícios sem impacto, acompanhado com uma dieta. Bicicleta, piscina, sem sobrecarga no tendão. Foram umas duas semanas assim, para não sofrer nada mais forte naquele tendão. Poderia dar uma tendinite, um pequeno estiramento”, explica.

Adriano passou por duas cirurgias no tendão calcâneo do pé direito. A primeira, em abril de 2011, três semanas após ser contratado pelo Corinthians. Passou por cirurgia com Joaquim Grava, médico do clube, bem sucedida. Depois de seis meses, começou a jogar. Foi demitido por justa causa, mais tarde, e o Corinthians resolveu fazer revelações que omitiu durante a passagem do atacante. Ele teria faltado a treinos e sessões de fisioterapia. Não teria seguido as orientações médicas na recuperação da cirurgia. Depois, foi para o Flamengo, que detectou a necessidade de uma nova operação no tendão calcâneo. Fez, teve idas e vindas do clube no processo de recuperação. Saiu sem jogar.

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Adriano fotografado uma semana após cirurgia, em 2011
Imagem: Delson Silva/AgNews

Quando o Flamengo resolveu pela nova cirurgia, o Corinthians chegou a se defender de possível erro médico. Joaquim Grava exemplificou, à Rádio Jovem Pan: “Se você é diabético, não pode comer doce e vai à doceria e come 10 quindins, de quem é a responsabilidade?”. Quem conviveu com Adriano no Corinthians enfatiza que o atacante não seguiu à risca a rotina de fisioterapia e cuidados médicos. Lembra que, uma semana depois da cirurgia, o atacante foi fotografado passeando em um shopping center no Rio de Janeiro, quando deveria estar em repouso.

No Atlético-PR, pelo menos segundo Moraci Sant’anna, não houve falta de dedicação. Os desafios, como relatados, foram superar os efeitos do problema no tendão calcâneo. “Nesse período, ele trabalhou muito forte. Do ponto de vista da vontade, nesse sentido ele foi muito bem. Se dedicou bastante aos treinamentos. Ele entrou em condições de participar de jogos. perdeu bem o peso que tinha em excesso. Enquanto eu estive lá, ele perdeu 5 quilos”, relata o preparador, que deixou o clube em janeiro, antes da estreia do atacante, após a chegada do técnico espanhol Miguel Ángel Portugal.  

Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa de Adriano informou que o jogador passou por avaliações físicas recentemente quando teve propostas para defender outros clubes, e que foi aprovado em todas elas. Segundo informado, o atacante poderia entrar em campo amanhã se isso fosse necessário. A assessoria do atleta também afirma que a sequela no tendão calcâneo era referente apenas à primeira cirurgia, realizada no Corinthians, em 2011, e que foi superada após a nova operação, no Flamengo, em 2012. A versão vai de encontro com o relato de Moraci Sant’anna, que trabalhou com o jogador no fim de 2013. 

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Imagem: Júlio Cesar Guimarães/UOL Esporte

Adriano começou a carreira como jogador no Flamengo, clube pelo qual teve pouco tempo para atuar antes de se transferir para a Europa. Chegou em 2001 à Inter de Milão, que o emprestou para Fiorentina e Parma. Quando retornou ao clube, em 2004, brilhou e se tornou o Imperador. Na seleção, venceu a Copa América, em 2004, e a Copa das Confederações, em 2005. Começou a viver o período de declínio em 2006, após a morte do pai. Nos meses seguintes, passou a ser barrado pelo técnico Roberto Mancini. Depois, disse estar sofrendo de depressão e admitiu erros. Voltou ao Brasil em 2008 para jogar ao São Paulo, emprestado, e teve boa passagem pelo clube. Quando voltou para a Itália, não foi o mesmo, e meses depois abandonou o clube. De volta ao Brasil, teve grande temporada pelo Flamengo, em 2009, e levou o clube ao título do Brasileirão. Na sequência, foi jogar na Roma, sem destaque, e voltou ao Corinthians em 2011, quando teve a lesão. Depois, voltou ao Flamengo, não jogou, e tem o Atlético-PR como último destino da carreira.