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Ele é 'herança' de Luxa, mas se mantém titular há dois anos no Grêmio

Pará chegou por indicação de Luxemburgo mas superou o tempo no Grêmio - Lucas Uebel/Divulgação/Grêmio FBPA
Pará chegou por indicação de Luxemburgo mas superou o tempo no Grêmio Imagem: Lucas Uebel/Divulgação/Grêmio FBPA

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

17/10/2014 06h00

Ele pode não ter o melhor cruzamento, driblar, concluir com qualidade. Ele pode não chamar atenção em campo com jogadas de efeito ou ser lembrado em listas de melhores jogadores em competições disputadas. Ele não tem tantas características enumeradas como fundamentais para um jogador de grande clube. Mas possui uma virtude rara no futebol: é humilde. E esta humildade o faz saber o que pode ou não fazer. Quando investir, quando recuar, e principalmente, com ela conquistou todos os treinadores que passaram pelo Grêmio desde 2012. Pará. Deixou de ser visto como 'herança' de Luxemburgo, manteve-se no time principal independente do comando, e entre vaias e críticas se firmou como exemplo de que às vezes o empenho pode superar a técnica, ou falta dela. 

Marcos Rogério Ricci Lopes precisou provar muito até chegar ao Grêmio. O primeiro obstáculo no sonho de se tornar profissional do futebol foi geográfico. Nascido em São João do Araguaia, cidade localizada 724 Km distante da capital paraense, Belém, precisou começar carreira distante de seu Estado natal. Foi no Santo André, no interior paulista, que ele deu os primeiros chutes. Carregou do Pará apenas o nome. 
 
Lá surpreendeu o Brasil com a campanha do título da Copa do Brasil de 2004. Era suplente, tinha subido recentemente da base com apenas 18 anos. Quatro anos mais tarde levantou a taça do Campeonato Paulista da Série A-2 pelo mesmo clube, chamou atenção do Santos e se transferiu. E no alvinegro conquistou Copa do Brasil, três campeonatos paulistas e a Libertadores de 2011.
 
Mas não ficaria no Santos. No começo de 2012, seria desligado do elenco de qualquer forma. Iria para o Vasco, tinha tudo acertado, mas Vanderlei Luxemburgo atravessou o acerto. Conduziu Pará ao Grêmio como um de seus 'protegidos'. E não demorou para o escalar. 
 
Luxa fez o que costumava fazer com seus prediletos. Na primeira chance que teve, o escalou. Mesmo que não fosse na lateral direita, sua posição de origem. E sim na esquerda. Publicamente, reforçou elogios ao jogador, mesmo que ele tenha apresentado dificuldades. 
 
"O Pará é uma coisa que tem que ser discutida. Ele é nosso jogador mais regular e o mais criticado. Isso pertence ao futebol. Achavam que ele não poderia jogar na esquerda por ser destro, mas está muito bem. É referência no nosso time", disse o treinador. 
 
O jogador, porém, jamais abraçou o perfil de Luxemburgo. Nunca quis o posto de protagonista. Trabalhou, como fez para superar todas adversidades da carreira. Ganhou espaço, foi importante, e mesmo quando Luxa caiu, já em 2013, seguiu titular após renovação por três anos. Dos jogadores que chegaram ao Grêmio por indicação do técnico, ele é o único que até hoje está no time principal sem passar por períodos longos na reserva. 
 
Pará jamais fugiu do que é. Humilde ao saber que não vai fazer jogadas sensacionais, repete sempre que pode o que avisou em sua apresentação, em fevereiro de 2012. "Vim para ajudar". E desta forma, conquistou também os colegas. 
 
É ele o primeiro a puxar piadas. Arrancou gargalhadas dos colegas quando foi mexer no limpador de para-brisa do carro de Vilson e acabou quebrando, em 2012. Foi motivo de chacota quando apareceu com o penteado moicano descolorido. Virou 'Roberto Carlos do Nordeste', já neste ano. E se firmou, também, no coração do grupo. "Ele é sensacional. Está sempre sorrindo, contagia todos no vestiário", disse o volante Ramiro. 
 
É das caixas de som de Pará que parte o ritmo, seja funk, pagode ou sertanejo, que embala concentrações, que anima o grupo em chegadas a estádios para duelos fora de casa. Que sustenta o ambiente. 
 
Hoje, ele segue titular. Matías Rodríguez pode ser mais qualificado ofensivamente. Pará é vital ao Grêmio. Tem somente um gol marcado em mais de dois anos no clube, já foi repetidamente vaiado pela torcida, mas nessa relação de amor e ódio, de quem xinga e depois apelida de 'mito' e abraça, ele segue forte. Aprendeu com a vida a superar problemas. E, resignado, faz exatamente o que prometeu quando apresentado: ajuda, sem cogitar o posto de estrela.