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O destino quis juntar Mouche, Palmeiras e a Arena? O argentino acha que sim

Danilo Lavieri

Do UOL, em São Paulo

22/10/2014 06h01

Pablo Mouche já fez 15 jogos com a camisa do Palmeiras e tem apenas dois gols até então. Nem a titularidade ele ainda conseguiu garantir. A trajetória com a camisa alviverde ainda é pequena, mas o argentino de 27 anos pode alcançar algo que vale mais do que muitas outras marcas: ser o único a atuar no último jogo do antigo Palestra Itália e no primeiro da nova Arena.

O atacante de 1,77m defendia as cores do Boca Juniors no dia 9 de julho de 2010, quando a equipe argentina venceu os donos de casa na despedida melancólica dos jardins suspensos. Os gols de Viatri e Muñoz, ainda no 1º tempo, garantiram a vitória dos hermanos. Com a camisa 7, Mouche mal poderia imaginar que, quatro anos depois, estaria defendendo o outro lado e na expectativa por enfrentar o Atlético-MG, no dia 8 de novembro, pela 33ª rodada do Campeonato Brasileiro.

“Com certeza (é o destino). Acredito muito nisso. As coisas acontecem por algum motivo. Eu joguei o último jogo no velho e, quatro anos depois, bem em 2014, eu venho para o Palmeiras. É destino”, disse o jogador em entrevista exclusiva ao UOL Esporte entre um gole e outro do chá do estilo argentino tomado em sua cumbuca na sua casa

De personalidade forte, Mouche já encarou jornalista logo na sua segunda entrevista e até avisou que, em 2015, quer largar a camisa 14, que herdou de Alan Kardec, e pegar a 7 que sempre lhe deu sorte e hoje está vaga no grupo. Cada vez mais adaptado ao Brasil, o argentino conta com a ajuda de todos os gringos, especialmente a de Jorge Valdivia, um dos seus melhores amigos no grupo.

Na entrevista, ele ainda compara a habilidade de Riquelme com a do chileno, diz que não tem medo de pressão e já até pede uma revanche da final de 2000, quando o Palmeiras perdeu a Libertadores para o Boca. Desta vez, claro, ele quer defender a equipe alviverde. 

Vale destacar que Deola e Bruno também estiveram no adeus do Palestra Itália. Como não têm sido relacionados, ficando sempre atrás de Prass, Jaílson e Fábio, dificilmente estarão na partida. 
 

Confira a entrevista completa dada ao UOL Esporte:

UOL Esporte: Em 2010, naquele jogo, você imaginava que estaria no Palmeiras um dia?
Pablo Mouche
: Não, foi uma coisa que aconteceu. Nunca pensei que, depois de muitos anos, eu ia jogar no Palmeiras. Nesse momento, estava no Boca, sabia que era uma partida muito legal para jogar, para se mostrar, em um ambiente muito bonito, em um dia importante, mas nunca pensei que quatro anos mais tarde eu estaria aqui.

UOL Esporte: Qual a recordação do jogo?
Pablo Mouche:
Não lembro tanto. Sei que ganhamos com dois gols, um deles Viatri e o outro não me lembro. Sei que era uma partida importante, bonita, foi um jogo legal e o ambiente do estádio estava muito legal.

UOL Esporte: Você pode ser o único a jogar no adeus e também na inauguração. Está ansioso?
Pablo Mouche:
Sim. Muito. Quero logo que esse dia chegue. É um dia muito importante, é uma emoção, porque vou ser o único jogador na história de um clube tão grande como o Palmeiras. É um orgulho muito grande. É um dia muito especial e eu espero que seja recordado por toda a torcida, por todo o clube, por todos do Palmeiras. E, claro, que seja com uma vitória.

Pablo Mouche não larga seu chá tomado no melhor estilo argentino - Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação - Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação
Pablo Mouche não larga seu chá tomado no melhor estilo argentino
Imagem: Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação
UOL Esporte: Nesse dia vale a pena conversar com Dorival para garantir uma vaga no time?
Pablo Mouche:
Sim, claro! (Risos). Eu pediria para jogar sempre. Mas, para esse dia, posso falar para jogar pelo menos um pouco mais. Espero que o time siga conseguindo vitórias, que jogue cada vez melhor, que a gente consiga subir na tabela e que seja muito especial para todos, não só para mim. Vai ser a abertura de um estádio muito importante no Brasil e no mundo. O Palmeiras merece que esse dia seja muito importante para todos, não só para mim.

UOL Esporte: Você é muito religioso, tem até tatuagem de Jesus. Você acredita em destino?
Pablo Mouche:
Com certeza. Acredito muito nisso. As coisas acontecem por algum motivo. Era o último jogo no velho e, quatro anos depois, bem em 2014, eu venho para o Palmeiras e posso jogar no novo... É destino. Não é só com isso que vejo destino, são outras coisas também. São mensagens que só Deus sabe.

UOL Esporte: No Brasil, as pessoas sempre usam a torcida do Boca como exemplo de fanatismo. Há muita diferença com as brasileiras?
Pablo Mouche:
Não tem grande diferença. As duas torcidas são muito apaixonadas, cantam a partida inteira, se fazem sentir o jogo inteiro. Eu acho que a torcida sul-americana se caracteriza por isso, muito mais que a europeia, de cantar mais, de fazer mais pressão em campo. O Palmeiras tem uma das melhores torcidas do país, leva gente ao estádio, canta e isso é muito bom para nós.

UOL Esporte: Você era só torcedor, mas lembra de algo da final da Libertadores de 2000, entre Palmeiras e Boca?
Pablo Mouche:
Claro que lembro. Era a final e lembro que o Boca venceu nos pênaltis. Mas espero que agora o Palmeiras tenha uma revanche. No ano que vem ou depois vamos enfrentar o Boca na Libertadores e vamos ganhar.

UOL Esporte: Você comemoraria um gol?
Pablo Mouche
: Não! Não posso comemorar. Seria falta de respeito, não com o Palmeiras. Não é que prefiro um a outro, mas é que tenho de respeitar o passado, pois cresci lá e as pessoas têm carinho comigo.

Valdivia é diferente - Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação - Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação
"O Valdivia é totalmente diferente, assim como Riquelme. Eles têm uma rapidez mental, são inteligentes na cabeça, mais na cabeça do que com a perna"
Imagem: Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação
UOL Esporte: E como é jogar com Valdivia?
Pablo Mouche
: O Valdivia é totalmente diferente. Ele dá qualidade e qualquer time que tenha alguém como ele vai ter um salto. É que nem comigo no Boca quando tínhamos o Riquelme. Jogadores como eles têm uma rapidez mental, são inteligentes mais na cabeça do que com a perna. E para o meu estilo de jogo, mais à frente, ele sempre olhando, é muito diferente. O Valdivia é muito diferente.

UOL Esporte: Riquelme e Valdivia? Quem é melhor?
Pablo Mouche:
Não, não, não... Não posso falar isso. São parecidos, mas são diferentes. O Riquelme é mais lento, o Valdivia é mais ágil, mas são dois jogadores muito diferentes. Eles têm uma qualidade muito diferente dos demais.

UOL Esporte: Quando você veio ao Palmeiras esperava isso em termos de luta contra o rebaixamento e de organização da equipe?
Pablo Mouche
: Sabia que era um time grande, que voltou da Série B e que estava se organizando. Cheguei e vi um time organizado, com gente que trabalha com atenção especial, sempre ajudando e ainda mais para nós, que viemos de fora. Mas eu esperava outra situação dentro de campo. Quando a gente vem de fora, sempre espera uma posição melhor para que a adaptação seja mais fácil. Mas já entendi que são muitos times grandes aqui e que, com certeza, vamos sair dessa.

UOL Esporte: A adaptação é a principal dificuldade para você ser titular?
Pablo Mouche:
Acho que sim. Para jogadores que vêm da Europa, é sempre mais difícil. Quando cheguei aqui, o Gareca me falou de exemplos, como Gago, que hoje está na seleção da Argentina. Quando voltamos da Europa, é mais difícil adaptar. Mas sei que vou encontrar o meu nível físico e futebolístico. Outro dia enfrentei o Grêmio e pude fazer até gol. Isso é uma confiança extra e quero ter mais chances para me adaptar ainda melhor.

UOL Esporte: Você falou do Gareca. Quando chegaram aqui, falava-se muito de rivalidade Brasil e Argentina. Você sentiu algo assim?
Pablo Mouche:
Não! As pessoas sempre estiveram com a gente, todos ajudaram. Dos jogadores às pessoas que trabalham no clube. Todos querem o melhor, pois sabem que, se os atletas forem bem, o clube também vai.

UOL Esporte: E como foi ver o Gareca sair? Você temeu pelo seu futuro?
Pablo Mouche:
Eu fiquei triste porque ele é um treinador muito bom, uma boa pessoa. É um técnico que confiou na gente. Ficamos tristes por isso, pois ele ficou desempregado e a experiência não foi boa aqui. Mas preocupados com o que ia acontecer com a gente? Não. Eu tenho contrato de cinco anos e estou tranquilo para seguir me adaptando ao futebol brasileiro e vou melhorar em tudo.

Augustín Allione, Pablo Mouche e Cristaldo estão sempre juntos no vestiário - Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação - Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação
Augustín Allione, Pablo Mouche e Cristaldo estão sempre juntos no vestiário
Imagem: Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação

UOL Esporte: Você sente dificuldades com o idioma? Acha que o Gareca não conseguia ser entendido?
Pablo Mouche:
Não, o brasileiro nos entende muito bem. Mas claro que isso é uma dificuldade extra, especialmente no princípio. Eu entendo muito bem se vocês falam devagar. Há um problema: como somos muitos gringos no grupo, estamos em oito lá, nos falamos todos os dias em espanhol e não precisamos falar só português. Mas já já vamos melhorar.

UOL Esporte: Teve algum momento muito ruim na sua carreira que foi marcante? Alguma cobrança extra?
Pablo Mouche
: Quando o momento é ruim, as pessoas falam para a gente ganhar. Como se diz na Argentina, eles falam “Pongan Huevos” (expressão que significa dê raça). Ficam gritando: “Ei, aqui é Boca! Vamos ganhar”. Mas nada além disso. Passei momentos bons e ruins no Boca, estou acostumado a jogar com pressão, seja na parte de cima ou na de baixo da tabela. Eu sei jogar com pressão.

UOL Esporte: Depois do 6 a 0 contra o Goiás, a torcida tentou agredir alguns jogadores. Você ficou preocupado?
Pablo Mouche
: Não me preocupei com nada. O momento não é bom, mas vamos passar por isso. Sempre penso em manter a calma, estar tranquilo e confiar nas pessoas. Nunca escuto o que dizem de fora: nem TV, nem imprensa e nem internet... Nada que falam de mim eu penso. Só quero saber de melhorar.

UOL Esporte: Por que você prefere evitar ler e ouvir o que falam de você?
Pablo Mouche:
Quando comecei a jogar no Boca e era mais novo, eu via tudo. Ficava conectado com televisão a todo momento, sempre lendo jornal e internet. Mas comecei a perceber que não me fazia bem. Ficava esperando que sempre falassem bem de mim. E não entendia quando falavam mal. Agora, cresci, aprendi e tive até ajuda de psicólogo, não só para isso, mas também para isso. Hoje sei o que é o melhor para mim. Preciso estar tranquilo para jogar. Ninguém sabe mais do que eu o que eu posso. Fico aqui, assisto aos canais da Argentina e... tranquilo!

UOL Esporte: E a imprensa do seu país fala de vocês, argentinos, aqui no Palmeiras?
Pablo Mouche:
Sim, especialmente quando a gente faz gol ou na época em que o Gareca não estava bem. Sempre saía lá. Mas agora falam mais quando é clássico. Esses clássicos eles sempre transmitem por lá.

UOL Esporte: Já vi você encarando alguns jornalistas nas perguntas, respondendo com outras perguntas, sempre mostrando personalidade...
Pablo Mouche:
Olha, eu sempre gostei de fazer isso. Eu sou assim, tenho personalidade forte e sempre falo olhando nos olhos. Se vejo uma pergunta que posso responder dessa maneira, para ter mais respeito, ou até para brincar um pouco. Por que sempre os jornalistas que precisam perguntar? Eu posso te perguntar algo, não posso? (Abre um sorriso e fica esperando a resposta). Não posso?

UOL Esporte: Sim, pode.
Pablo Mouche
: Pois é. Os jornalistas falam que eu jogo bem ou jogo mal, que o time está bem ou mal. E eu também quero perguntar para você. Estou certo? Então é tranquilo...

UOL Esporte: Como foi a sua experiência na Turquia?
Pablo Mouche:
Foi bem legal. Foi uma experiência mais marcante no lado pessoal do que no futebol. Dentro de campo, sempre que você vai para um país diferente, terá coisas novas, na liga local e tudo mais. Mas você acostuma. Mas, pessoalmente, para viver em um país tão diferente assim, de cultura diferente, é difícil. Aprendi muito por lá.