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Golpe político, guerra e mosquitos mortais: técnico inglês é 007 do futebol

Constantine (dir) já dirigiu cinco seleções e hoje está à frente da Ruanda - Reprodução/Twitter
Constantine (dir) já dirigiu cinco seleções e hoje está à frente da Ruanda Imagem: Reprodução/Twitter

Do UOL, em São Paulo

26/10/2014 06h00

A vida de Stephen Constantine no futebol daria um filme. Mas não um filme qualquer: seria, no mínimo, um “007 no mundo da bola”. Esse técnico inglês de 52 anos é apaixonado pelo lado B do esporte. Já treinou cinco seleções nacionais: Nepal, Índia, Sudão, Malawi e Ruanda. Presenciou guerra civil, golpe de estado e enfrentou mosquitos letais. Ele ainda está na ativa, e num estilo James Bond comprometido, leva a amada em suas aventuras.

Stephen nasceu em Londres e quis ser jogador de futebol. Não deu certo em sua terra natal, então se arriscou no futebol do Chipre, país de origem de seu pai, e depois atuou por quase dez anos nos Estados Unidos, na década de 1980. Ao machucar o joelho, estudou para ser técnico. Começaram aí suas andanças pelo mundo.

As primeiras experiências aconteceram em clubes do Chipre. No primeiro, evitou a queda para a quarta divisão. No segundo, conquistou o acesso à primeira. Também foi no Chipre que ele conheceu Lucy, sua mulher. “Falei o quanto gostava de futebol e expliquei: se estiver passando algum jogo na TV vou assistir, se tiver alguma partida a 1.000 km de casa vou ao estádio e se receber proposta que me agrade em qualquer lugar do mundo aceitarei”. Não foi por falta de aviso.

A primeira oferta chegou da seleção do Nepal, em 1999, por R$ 6,5 mil mensais. Aceitou prontamente. Mulher e filha recém-nascida mudaram-se três meses depois. Na época, o país vivia uma Guerra Civil. Por isso, Stephen pediu a seu goleiro, um policial, que fosse buscar sua família no aeroporto. Um caminhão blindado e quatro viaturas escoltaram ambas. Quando deixou a seleção, dois anos depois, o inglês foi homenageado pelas autoridades locais.

A próxima seleção foi a indiana. Como uma das primeiras medidas, usou seus contatos para fechar um acordo de uniformes com a Nike. O maior feito, contudo, foi a primeira vitória em um torneio internacional depois de 42 anos de jejum. O adversário era o Vietnã. Em seguida, ele trabalhou rapidamente na Inglaterra e decidiu retornar ao Chipre com a família.

Antes da mudança chegar ao Chipre, Stephen já estava a caminho do Malawi para assumir a seleção local. Indisciplina dos jogadores e estrutura precária foram os maiores desafios. As camas usadas por eles não tinham colchão e a rede que protegia de mosquitos que podiam ser letais eram furadas. Logo ele deixou o cargo.

Foi a vez de o Sudão convidar o treinador. Assim que desembarcou, ouviu da embaixada britânica para evitar ficar nas ruas pois um golpe de estado estava a caminho. Por segurança, os treinos duravam menos de 20 minutos. Alguns jogadores conseguiam ser escoltados. Stephen teve mais dois trabalhos rápidos no Chipre e na Grécia até assumir sua quinta seleção: Ruanda.

O inglês está à frente de Ruanda desde maio deste ano. Virou quase um herói nacional ao conseguir classificar o país para as eliminatórias da Copa Africana de Nações. No entanto, o time perdeu a vaga nos tribunais. O motivo: a dupla identidade do atacante Daddy Birori. Stephen segue no país e tem um projeto até 2016. Depois disso, imaginar sua próxima missão é uma missão quase impossível.