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Em livro, Suárez admite resistência a tratamento e nega ser racista

Do UOL, em São Paulo

27/10/2014 09h21

O atacante Luis Suárez lançará nos próximos dias sua autobiografia, intitulada “Cruzando a linha – Minha história”. Em trecho obtido pelo jornal The Guardian, o uruguaio relata sua reação quando recebeu a punição da Fifa pela mordida no italiano Chiellini e admite sua resistência a passar por um tratamento contra a raiva.

“O problema de me desligar [da tensão do jogo] é que isso também afeta quando faço algo brilhante em campo e, claro, não quero perder isso. Marquei gols e mais tarde lutei para entender exatamente como eu tinha feito. Há algo em minha maneira de jogar que é inconsciente, para melhor ou pior. Quero me libertar da tensão e da pressão, mas não quero perder a espontaneidade no meu jogo”, escreveu o uruguaio.

Assim como em entrevistas após o incidente, Suárez utiliza o livro para alegar que, nos três incidentes com mordidas em adversários, agiu de forma impulsiva e só percebeu o que havia feito após as agressões.

“Os níveis de adrenalina em um jogo podem ser muito altos. A pulsação sobe e o cérebro não responde. A pressão aumenta e não há válvula de escape”, disse o uruguaio, que comenta caso a caso suas três mordidas.

“Em 2010, eu estava frustrado por que estávamos fazendo uma partida ruim em um jogo importante. Queria fazer tudo certo naquele dia e estava fazendo tudo errado. A frustração e a sensação reprimida de que era tudo culpa minha e chegou a um ponto que não podia mais conter”, afirmou.

“Com Ivanovic em 2013 tínhamos que vencer o Chelsea para ainda ter chances de ir à Liga dos Campeões. Estava fazendo um jogo terrível, com um pênalti estúpido por colocar a mão na bola, e sentia que tudo estava escapando por nossos dedos. (...) Momentos antes da mordida em Chiellini, tive uma grande chance de fazer 1 a 0. Se tivesse marcado aquele gol, se Buffon não tivesse feito a defesa, não teria feito [a mordida] nada. Mas perdi a chance”, completou.

Suárez também utilizou a publicação para voltar a se defender das acusações de racismo que recebeu nos tempos em que ainda atuava pelo Liverpool. O uruguaio disse ter sido mal interpretado no incidente com o francês Patrice Evra por causa da diferença de idiomas.

“Sou racista? Absolutamente não”, disse o atacante. “Fiquei horrorizado quando soube que estava sendo acusado disso. E ainda estou triste e zangado ao pensar que esta é uma mancha no meu caráter que provavelmente ficará lá para sempre”.

“O que algumas pessoas nunca vão querer aceitar é que utilizei um termo em espanhol. Nunca usei a palavra ‘negro’ da maneira como é usada em inglês”, escreveu o atacante.

A polêmica com Suárez ocorreu em outubro de 2011. Em partida contra o Manchester United, o então atacante do Liverpool chamou Evra de ‘negro’, termo pejorativo na língua inglesa.

“Machuca quando as pessoas dizem: ‘Luis Suárez? Bom jogador, mas um pouco louco às vezes... e racista’. Ou pior: “Luis Suárez: racista’. Nada mais, apenas isso: racista”, afirmou.

“Coloque ‘Luis Suárez em uma busca na internet e aparece a palavra racista. É uma mancha que estará lá para sempre. E é uma que sinto que não mereço”, completou.