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Filhos em saia justa e certeza de calote: a saída de Bolívar do Botafogo

Bernardo Gentile

Do UOL, no Rio de Janeiro

27/10/2014 06h00

Ele jura que até hoje ainda não entendeu o porquê de ter sido dispensado do Botafogo pelo presidente Maurício Assumpção, a quem ainda guarda mágoa. Não só pelo o que o afastamento pode representar para sua carreira, mas principalmente por fazer sua família sofrer indiretamente e ter que passar por algumas situações inusitadas. Bolívar fez acordo após ser demitido do clube, que tinha até esta segunda-feira para pagar parte dos R$ 1,2 milhão que o zagueiro tem a receber – sete meses de salário atrasado, além dos vencimentos futuro.

Bolívar jamais acreditou que receberia, o que de fato não ocorreu. Desta forma, o zagueiro ingressa ainda nesta semana com uma ação contra o Botafogo. O valor a ser pedido certamente será maior do o que foi acordado amigavelmente no último dia 15. Ele não revela a quantia, mas diz que isso pouco importa. Até porque apesar da briga judicial, o zagueiro ainda quer defender o Alvinegro em 2015.

“Pela situação do Botafogo, acho difícil receber. A receita que entrar vai ser a prioridade para os atuais jogadores. Mas isso [recorrer à Justiça] é normal hoje em dia. A grande maioria dos jogadores tem esse problema e retorna mesmo com o clube na Justiça. Tudo pode acontecer. Minha vontade é de permanecer no Botafogo se isso for possível. Independentemente de qualquer situação. Infelizmente esse é o procedimento”, disse Bolívar ao UOL Esporte.

“Fiquei muito chateado e não poderia ser diferente. Não podemos ficar contente por ser impedido de fazer o que ama. Foi uma decisão unilateral do presidente. Eu não entendi nada até agora. As pessoas me perguntam o motivo e não tenho explicação”, acrescentou o defensor.

Apontado como influência negativa no elenco por parte da diretoria, Bolívar lamenta a situação e se explica. “Quando a fase era boa, o Bolívar era um grande líder. Mas depois que tudo começou a ruir, virei influência negativa. Fiquei muito chateado com isso. Todos me conhecem, as pessoas que trabalham comigo no dia a dia sabem. Uma das coisas que fiquei muito chateado foi isso. Podem falar o que quiserem”, desabafou.

E é justamente esse problema que tem criado situações difíceis de ser encarada, principalmente pelos seus filhos: Thalles e Victória, de 14 e 7 anos, respectivamente. Eles são perguntados quase que diariamente por colegas de colégio e até mesmo de vizinhos sobre o motivo de Bolívar não jogar mais pelo Botafogo.

“Meus filhos são os que mais estão sofrendo. Sofrem muito. A caçula Victória, de 7 anos, pergunta se não vou mais jogar futebol.  Ontem vimos o jogo do Botafogo e ela perguntou porque eu estava em casa e não em campo. O Thales, com 14, já entende. Todos os amigos ficam na escola dele perguntando o que aconteceu e ele fica sem jeito, pois não sabe responder. É um situação chata e que preferia que eles não precisassem enfrentar”, lamentou.

E o sofrimento das crianças poderá ser ampliado no fim do ano. Isso porque Bolívar ainda não definiu o futuro de sua carreira. Ele pretende ficar no Rio de Janeiro, mas não há uma certeza se isso será possível. O zagueiro quer evitar uma nova mudança, já que ele deixou Porto Alegre e já se sente carioca.

“Sempre é ruim fazer mudança, transferir escola... Todos estamos ambientados. Sempre é difícil para as crianças. Estavam bem em Porto Alegre, viemos para o Rio e já estávamos nos sentindo em casa. Se tiver que trocar de novo será algo triste. Se puder ficar será uma boa, mas não podemos escolher. Tenho que pensar na minha carreira”, explicou.

E para se manter em alto nível e dar sequência à carreira, Bolívar recorreu a velhos amigos, que também já deixaram o Botafogo. Ex-preparadores físicos do clube Marlos Almeida e Leandro Cardoso comandam uma academia na Barrada Tijuca, onde o zagueiro mantém a forma – Sheik, Edílson, Júlio César e até Lucas fazem a mesma coisa.

“É uma rotina diferente, já são 14 anos jogando futebol e sempre tendo a mesma rotina. Treinamentos, viagens e jogos. Mas tem um lado positivo, pois agora estou aproveitando mais a família e o Rio de Janeiro. Isso está sendo a grande diferença”, ponderou.

Bolívar chegou ao Botafogo em janeiro de 2013 e logo se tornou peça fundamental no esquema de Oswaldo de Oliveira. Ao lado de Dória fez parte do time campeão carioca e que recolocou o Alvinegro na Libertadores após 18 anos. Em 2014, a situação mudou do vinho para água e o zagueiro passou a ser visto como influência negativa, o que motivou seu afastamento, juntamente com Emerson Sheik, Júlio Cesar e Edilson.