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Campeão mundial com Grêmio vê crise financeira e risco de perder a perna

Caio (esq.) ao lado de Tita em festa do Grêmio para os campeões mundiais - Lucas Uebel/Divulgação/Grêmio
Caio (esq.) ao lado de Tita em festa do Grêmio para os campeões mundiais Imagem: Lucas Uebel/Divulgação/Grêmio

José Ricardo Leite e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

27/10/2014 06h00

Se estar em grave crise financeira é ruim, não conseguir cuidar da saúde por conta disso é ainda pior. Não está nada fácil a situação de Caio, titular na conquista do título da Libertadores da América e fez parte do grupo que conquistou o Mundial Interclubes de 1983, pelo Grêmio. O ex-atacante diz não ter dinheiro para a realização de uma cirurgia para curar a perna esquerda de uma trombose que pode levá-lo a perder os movimentos.

“Passo por uma situação difícil, sim. Preciso fazer uma operação na perna esquerda, que se não for feita posso perder os movimentos”, falou o ex-jogador ao UOL Esporte ao resumir o que se passa em sua vida.

Luiz Carlos Tavares Franco, 59 anos, trabalha atualmente como taxista na cidade de São Luis, no Maranhão, pela Cooperativa Coopertaxi.  Faz viagens do aeroporto até outros pontos da capital maranhense e diz que chega a trabalhar quase 72 horas direto antes de emendar três dias de folga.

Conta que os R$ 1.500 mensais de salário que ganha para fazer as corridas não são suficientes para a realização da operação. Não é dono do carro e nem do alvará e relata ganhar apenas 30% do valor das viagens que faz. “A necessidade me fez virar taxista. Eu precisava ganhar dinheiro pra viver. Só que tudo que eu ganho eu gasto. Se aparecer outra coisa que me faça ganhar mais, R$ 6 mil, por exemplo, eu vou. A necessidade me fez virar motorista de taxi. Mas adoro a profissão e fui bem acolhido.”


Caio, que também jogou na Portuguesa, Botafogo, Maranhão e Moto Clube, entre outros, revela que é o salário que o impossibilita de realizar uma cirurgia pedida por seu médico para afastar o risco da trombose. Diz estar muito preocupado e não sabe para quem pedir ajuda para pagar a operação que custa aproximadamente R$ 15 mil, segundo o médico que o consultou. Caio cogita tentar entrar em contato com o Grêmio.

“Já fiz vários exames, e se a operação não for feita, tem risco de eu perder a perna esquerda. Mas tenho força e saúde ainda. Não pedi ajuda pra ninguém. Eu amo o Grêmio, mas talvez eles nem saibam o que estou passando. Tenho que fazer uma cirurgia e não tenho R$ 5 mil reais. Acho que esse valor não é nada pra eles. É muito difícil pra mim, estou chateado”, desabafou.

O angiologista e cirurgião vascular João Furtado de Araújo Segundo diz que fez uma cortesia e atendeu Caio em seu consultório, em São Luis, para avaliar a sua situação. O médico confirmou a gravidade citada pelo ex-gremista e o risco que existe de perder a perna. Diz que R$ 5 mil seriam só parte dos custos, e o total é três vezes mais.

“Ele tem uma obstrução arterial, é uma Trombose arterial, até porque foi tabagista, mas hoje não é mais. O Caio tem uma lesão, um ferimento no pé, e quando tem uma obstrução arterial a gente tem que revascularizar a perna como faz com o coração, por exemplo. Agora o Caio esta aguardando essa cirurgia pra que essa ferida não piore e cicatrize, pois se ela piorar ele pode vir a perder a perna”, explicou o médico em contato telefônico.

“A ferida é no pé e orientei ele, prescrevi alguns medicamentos para tentar ajudar e se ele fizer assim cicatriza, mas o caso dele já tem alguns meses e a preocupação é que não cicatrizou ainda. Então corre o risco disso vir a piorar ele e ele perder a perna”, prosseguiu. 

Caio marcou quatro gols na conquista do Grêmio de seu primeiro título sul-americano. Marcou um dos gols da vitória por 2 a 1 sobre o Penarol, na final, e ainda deu a assistência para Renato Gaúcho fazer o gol do título na final do Mundial Interclubes, contra o Hamburgo, da Alemanha.

Ele é separado da ex-mulher, tem dois filhos e vive sozinho. Conta que a crise financeira ocorre por ter aplicado mal o dinheiro que ganhou nos tempos de jogador. Argumenta que o salário no tempo de atleta não era alto como os dos que jogam em grandes clubes atualmente. Mas se deu mal ao investir em algo que não deu certo.


“Eu não ganhei tanto dinheiro como as pessoas possam pensar. Eu não era ídolo no Grêmio; era um atleta de esquema tático e importante para o time. Ídolos eram o Renato Gaúcho, Hugo De Leon. Eu era uma peça importante que ganhava razoavelmente bem para viver em Porto Alegre. Mas nunca ganhei uma fortuna”, explicou.

“Fiz algumas coisas com o dinheiro, como comprar casa pra minha mãe e meus irmãos. Na hora que achei que era momento, montei cinco farmácias; achei que era o momento. Era um ramo que não era o meu, e num investimento desse você pode ganhar ou perder. E foi isso (perder) que aconteceu”, continuou.

O ex-atacante disse que resolveu entrar no negócio por influência dos familiares da ex-mulher. Mas assume a responsabilidade pelo fracasso. “Montei uma coisa que não tinha nada a ver comigo; eu nunca havia vendido um remédio. O que eu ia fazer com farmácias? Mas acontece que não deu certo faz parte da vida, não é só eu que está assim que passou pelo futebol e poderia estar melhor.”

Renato Gaúcho quer ajudar

Maior parceiro de ataque de Caio, Renato Gaúcho já se colocou à disposição para resolver o problema do ex-companheiro. Ao ficar sabendo da situação, já disse que vai entrar em contato com ele.

“Já tinha tentado uma vez contato, mas ele recusa, é teimoso e muito vaidoso nesse sentido (de aceitar ajuda). Já tentei ajudar o Caio e tenho um carinho muito grande por ele. Vou procurá-lo”, falou o ex-atacante e hoje treinador.

“É difícil de entender essas coisas, ele vivia falando que queria ter uma farmácia e teve. Falava muito de farmácia e eu dizia que era bom ele pensar assim e no futuro dele”, recordou.