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Levir ainda cogita aposentar e projeta ser comentarista: "Melhor profissão"

Bernardo Lacerda

Do UOL, em Vespasiano (MG)

28/10/2014 06h00

Depois de enfrentar resistência e ter desentendimentos com atletas, como Diego Tardelli e Ronaldinho Gaúcho, o técnico Levir Culpi vive atualmente um momento bem diferente no comando do Atlético-MG. O treinador, que levou o time ao G4 do Brasileiro e a semifinal da Copa do Brasil, conta com o apoio dos jogadores, que desejam a sua permanência na próxima temporada. O comandante, porém, segue com pensamento de se aposentar e já fala até em ser comentarista de futebol.

“Há essa possibilidade, estou estudando (sair), mas estou bem também, estou me sentindo feliz, gosto de ir ao CT ainda, mas meu medo é perder a adrenalina do jogo. Ir pescar é uma coisa, ir a um jogo do Atlético é oura coisa diferente. Mas dá muita vontade de fazer de novo, e interessante, ainda estou com esta adrenalina no sangue”, explicou o treinador.

Mas, caso opte mesmo em deixar a carreira de técnico, Levir Culpi já tem um possível rumo para a sua vida: virar comentarista de futebol. “Uma das melhores é a profissão de comentarista esportivo. Eu pretendo ser comentarista brevemente. Você pode jogar com 22 jogadores, pode fazer seis substituições e nunca mais vai perder um jogo. É a melhor profissão que existe no futebol. Você tem de convencer o seu ouvinte, mas isso requer qualidade, uma hora vou ser”, afirmou Levir.

O contrato do treinador se encerrará em dezembro com o Atlético-MG. A diretoria atleticana trabalha na tentativa de convencer o técnico a seguir no clube em 2015 e tem mantido conversas frequentes para traçar planejamento para a temporada. Porém, nada garante a continuidade de Levir.

Internamente, o trabalho feito pelo técnico deu respaldo junto aos atletas. Algumas outras atitudes fizeram o treinador ganhar o elenco. A principal delas foi abolir a concentração em jogos em Belo Horizonte. Os atletas agora se apresentam apenas no dia do jogo na capital mineira, às 11h30, tendo assim mais tempo de ficar com a família. Curiosamente, a equipe não foi mais derrotada em seus domínios depois desta decisão.  Foram 11 triunfos e um empate.

“Ele é muito importante. No começo surgiu um pouco de desconfiança pelo jeito de ser. Mas ele ganhou o grupo com isso, falar aberto, e com o tempo fomos vendo o jeito dele. Não tem medo, fala direto, e quando tirou a concentração, ganhou o grupo”, disse Maicosuel.

O jeito sincero de ser também fez o treinador conquistar a confiança do grupo. Levir não adota meias palavras em seu discurso. Nas conversas com os atletas deixa transparecer seu estilo rígido, mas compreensível e educado. “O Levir é um grande treinador, uma grande pessoa, ele tem um coração bom, é verdadeiro, soube ganhar o grupo e isso é muito importante”, afirmou Diego Tardelli.

O treinador alvinegro reconhece que vive momento de alta na carreira e principalmente de amadurecimento com seu trabalho no Atlético. “Eu estou procurando ficar em uma situação um pouco isenta das críticas, pouco fora das críticas, de observar de tudo o que se fala no futebol, estou procurando centrar em mim mesmo, tomar decisões”, disse Levir Culpi.

“A somatória que eu fiz das coisas, fiz tanta coisa calculada, pensando nas outras pessoas, no que falaram, o que acharam que era interessante e concordei, nunca tive a certeza que daria certo. Continuo assim, tomando as decisões com convicção, consigo dormir tranquilo, sem me preocupar com os resultados”, acrescentou o treinador.

Dificuldades superadas

Levir Culpi teve dificuldades de adaptação ao Atlético em seu início de trabalho. Contratado em maio, o comandante teve problemas disciplinares com Diego Tardelli, que reclamou ao ser substituído na eliminação alvinegra na Libertadores, contra o Atlético Nacional. Após a relação ficar conturbada, com ameaça até do camisa nove em deixar o alvinegro mineiro, as duas partes se acertaram.

O comandante também foi o principal responsável pela saída de Ronaldinho Gaúcho, que acertou a sua rescisão contratual com o clube em agosto, após perder espaço no time titular e amargar substituições em jogos seguidos e decisivos, o que minou a relação com o camisa dez e acabou com a decisão tomada pelo atleta de encerrar o ‘casamento’ com o clube atleticano.

Depois de momentos conturbados dentro e fora de campo, com início ruim no Brasileiro e eliminação na Libertadores, o período de intertemporada na China, durante a Copa do Mundo em julho, quando o Atlético realizou amistosos no país distante e principalmente com o título da Recopa, o cenário mudou. Levir Culpi conseguiu transformar o elenco com o seu estilo, abriu mão de alguns jogadores e conseguiu voltar a dar foco e objetivo ao time.

Alguns jogadores deixaram a equipe alvinegra, casos do próprio Ronaldinho Gaúcho e Neto Berola, Lee, Rosinei e Fernandinho. Outros por indicação ou aprovação de Levir chegaram, como Maicosuel, Rafael Carioca, Douglas Santos, Cesinha e Tiago. Com algumas mudanças, o comandante conseguiu manter os atletas que desejava trabalhar e deu sua cara ao time atleticano.

Além disso, optou em dar oportunidades a jogadores da base, como Jemerson, que se transformou em titular absoluto da zaga, com a lesão de Réver, preterindo ao experiente Edcarlos e Carlos, que se tornou o dono do ataque, desbancando atletas renomados e caros, como Jô, que vive fase ruim desde abril e André, que perdeu espaço e segue como reserva.