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Despejo, abandono e lesão grave marcaram lateral até chegada ao Corinthians

Ferrugem tem contrato com o Corinthians até maio de 2015 - Daniel Augusto Jr. / Agência Corinthians
Ferrugem tem contrato com o Corinthians até maio de 2015 Imagem: Daniel Augusto Jr. / Agência Corinthians

Dassler Marques

Do UOL Esporte, em São Paulo

29/10/2014 12h00

O banco de reservas tem sido o companheiro na maior parte do tempo, mas ele não se importa. Ferrugem, uma das alternativas de Mano Menezes neste Campeonato Brasileiro, naturalmente trabalha para ser titular. Mas estar ali já é uma vitória e tanto para o capixaba de 26 anos.

Volante de origem e lateral direito nos últimos meses, ele tem boas histórias para contar sobre a dura caminhada de um jogador até a chegada ao clube grande. Recusado em testes no Cruzeiro e no Flamengo, dispensado das divisões de base do Criciúma, ele trilhou roteiro oposto à maioria de seus colegas de clube. E não foram poucos os percalços até ali.

A passagem pelo Gama em 2009, principalmente, guardou passagens que marcam a memória de Ferrugem. "Infelizmente fiquei quatro meses sem receber ali. No último jogo do (Campeonato) Candango machuquei o ombro e o clube não quis pagar cirurgia", conta o jogador. Os médicos Roni e Fleury, além do fisioterapeuta André, o colocaram nos eixos. E essa não foi a única dificuldade.

"Como o clube não pagava o hotel onde eu morava, fui despejado. Com o braço machucado, salários atrasados, fazendo fisioterapia...", recorda Ferrugem, que novamente contou com a ajuda de pessoas importantes. "Minha esposa era namorada e, na época, como eu não tinha para onde ir, fui morar com os pais. Deus colocou as pessoas certas no meu caminho", reconhece.

A partir dali, as portas começariam a se abrir para ele. Com a camisa do Brasiliense, Ferrugem teve destaque na Série C do Campeonato Brasileiro e atraiu a atenção do agente Nick Arcuri. Ele é o responsável pela transferência para a Ponte Preta e por viabilizar a oportunidade de atuar na elite nacional. No primeiro encontro com o representante, o jogador dirigia um carro em que o vidro sequer funcionava. Hoje, essas dificuldades todas são motivo de risadas e orgulho.

"Eu continuo vivendo uma vida simples, porque todos têm fases boas e ruins", conta Ferrugem, com os pés no chão. "Independente de qualquer coisa, continuo sendo simples, humilde, não piso em ninguém. Uma hora você está em cima, mas logo pode ir para baixo", compara.

Para ele, a mudança definitiva em sua personalidade ocorreu em 2013, após nove meses de inatividade por uma lesão séria no tornozelo esquerdo. Era a estreia como titular da Ponte Preta, e o jogador chegou a correr risco de amputação. "Eu aprendi muito com isso, aprendi a melhorar minha cabeça. Foi um processo bastante demorado, mas que acabou com vitória", define.

A ascensão para um clube grande chegaria por acaso para Ferrugem, que voltou a jogar com a equipe já rebaixada no último Brasileiro. Enfim titular da Ponte Preta no Campeonato Paulista de 2014 como lateral direito, ele anotou diante do Corinthians e motivou Mano Menezes a pedir sua contratação para a reserva de Fagner. "O gol foi justamente com a perna esquerda, que fraturei. Foram muitas vitórias naquele jogo", recorda.

Enquanto recebe lições quase diárias do auxiliar e ex-lateral Sylvinho para aprimorar o posicionamento, Ferrugem administra a saudade da esposa. Grávida, ela voltou para Brasília e espera o segundo filho do casal. Sozinho em São Paulo, o jogador do Corinthians recorre ao aplicativo Facetime para ver o menino no telefone celular. "Essa é mais uma dificuldade. Mas, de todas que tive, é uma das menores", brinca o jogador.

Recorde o gol marcado por Ferrugem diante do Corinthians pelo Paulista