Topo

Nem os palmeirenses lembram que humilharam argentinos com 7 a 0 histórico

José Ricardo Leite e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

30/10/2014 06h00

O Mineirão não viu no dia 8 de julho deste ano apenas uma goleada por 7 a 1 de uma seleção sobre a outra. mas também um vexame impensável para a nação que sempre se colocou como a melhor do mundo no futebol. Os pentacampeões, maiores vencedores da Copa do Mundo, tiveram sua pior da derrota da história. É inimaginável que ela seja esquecida nas próximas décadas.

O comportamento em campo dos brasileiros durante o vexame foi de apatia e vergonha. O time parecia incapaz de encontrar forças para reverter cada gol sofrido. Mas e um time argentino nessa situação? Como seria a reação dos “Hermanos”, conhecidos por não aceitarem a derrota e muitas vezes reagirem com violência, mediante uma situação semelhante? O Palmeiras já fez isso com uma equipe portenha, mas, infelizmente, quase ninguém lembra como foi.

Os argentinos são os maiores vencedores de títulos internacionais dentro da América do Sul. São 23 Libertadores (o Brasil só ganhou 17), seis Sul-Americanas (contra duas dos brasileiros), seis da extinta Supercopa (o dobro de times brasileiros), só para ficar entre os principais torneios.

O Racing Club, de Avellaneda, é um dos principais clubes argentinos, com  16 títulos nacionais, e mais uma Libertadores e uma Supercopa. Foi o primeiro clube de seu país a conquistar o título mundial interclubes, em 1967, ao bater o Celtic, da Escócia.

Mas, em um dos piores momentos da história do clube, veio a São Paulo jogar contra o Palmeiras, pela Copa Mercosul de 1999, e sofreu uma vexatória derrota de 7 a 0 no dia 5 de agosto daquele ano.  É a pior derrota da história de todos os clubes argentinos em torneios internacionais.

O jogo era válido pela primeira fase, e o time brasileiro, então campeão da Libertadores, deitou e rolou e parecia jogar contra um time amador. O esquadrão de Luiz Felipe Scolari fez 5 a 0 só no primeiro tempo. Jogava em ritmo de treino e só não fez mais do que outros dois gols no segundo tempo porque visivelmente tirou o pé. “A bola que vai entra”, disse o narrador do Sportv naquela partida, Deva Pascovitch, no sexto gol.

Euller, Oséas e Rogério, duas vezes cada, e Paulo Nunes fizeram os sete tentos históricos do time alviverde naquela partida. Mas nem os protagonistas lembram do jogo. Não se recordam de como foi a partida e quem marcou gols e, mais surpreendente, apagaram da memória a existência da partida.


“Racing, 7 a 0? Não lembro desse jogo. Marquei dois gols? Não...não lembro desse jogo não. Me recordo de um contra o River Plate, mas esse 7 a 0 aí não”, disse Euller quando questionado sobre a partida.

“Qual é o jogo mesmo? Vou tentar lembrar aqui e depois você liga, liga daqui a meia hora”, afirmou Oséas, quando questionado sobre a partida. Mais tarde, tentou revirar a memória, mas nada “achou” sobre esse jogo. “Olha eu pensei bem, mas não me lembro, eu fiz dois gols de cabeça? Sinceramente não lembro, foi no Palestra Itália? Não consigo lembrar, vou ficar devendo essa pra você“, declarou.

O ex-volante Galeano também participou do jogo. Abraçou Rogério e comemorou com o companheiro em um dos gols. Mas será que ele lembra disso? "Cara, não lembro não. Foi Palmeiras e Racing, é isso? Não estou lembrando não, sinceramente. Mas 7 a 0 é um resultado expressivo. Anotei aqui e vou procurar depois. Mas, sinceramente, não lembro."

No jogo do returno daquela chave, o Palmeiras ainda fez a volta contra o Racing, na Argentina, e venceu de novo, desta vez por 4 a 2. O clube azul e branco viveu um de seus maiores dramas naquela temporada, quando teve sua falência decretada pela justiça local por uma dívida de US$ 40 milhões. Torcedores e um investidor privado acabaram por ajudar o clube naquele momento.

Se serve como justificativa para o esquecimento, naquele semestre o Palmeiras aplicou diversas goleadas. Naquele mesmo torneio, venceu o Cruzeiro por 7 a 3 no primeiro jogo das quartas de final. Pelo Campeonato Brasileiro do mesmo ano, o time de Felipão ainda enfiou 6 a 0 no Grêmio e 6 a 0 no Botafogo.