Topo

Desastre de Chernobyl mudou a vida de Shevchenko e teve jogo do medo

Do UOL, em São Paulo

31/10/2014 06h00

Andriy Shevchenko é o maior jogador da história da Ucrânia, mas sua trajetória no futebol contou com uma tragédia que pode ter definido seu futuro: o desastre de Chernobyl. O ex-atacante de Milan e Chelsea precisou mudar de time quando pequeno por culpa da ameaça radioativa. Outros garotos não tiveram a mesma sorte, e até um jogo cruel faz parte dessa história.

No caso de Shevchenko, ele tinha nove anos e morava na vila de Dvirkivschyna quando chegou a ordem de evacuação, quatro meses depois das explosões de Chernobyl, em abril de 1986. O atacante se mudou com a família, entrou em uma nova escolinha de futebol e aos 14 já estava no Dynamo de Kiev.

“Foi uma fase atormentadora para mim e para minha família. O perigo não era tão iminente para nós, mas escondiam muitas informações e não sabíamos exatamente o alcance de tudo aquilo”, contou o ucraniano.

Mais perto da tragédia, o episódio foi também mais cruel. Garotos como Shevchenko estavam prontos para jogar futebol horas depois do acidente, ocorrido na madrugada. Eles viviam em Prypiat, cidade construída na década de 1970 para abrigar os trabalhadores da usina nuclear.

O técnico da equipe decidiu que a partida não aconteceria ao saber do risco de contaminação que começava a ser comentado na região. A polícia local, no entanto, não queria espalhar o pânico e tranquilizou todos eles, dizendo que a partida fosse disputada. Quem conta é Djata, goleiro na oportunidade e cuja história foi contada em trecho do livro “O Rei Branco”.

“Fomos aconselhados [pelo técnico] a não nos jogarmos no chão e a evitar o contato com a bola, pois a grama já estava contaminada. Mas como jogaríamos sem tocar na bola? Alguns senhores nos deram pastilhas brancas, que o nosso técnico disse ser iodo. Jogamos e ganhamos”, relatou Djata ao Mais Futebol, alegando ter problemas de saúde desde então.

Prypiat até hoje é uma cidade-fantasma, mas na época da tragédia nuclear era um símbolo do governo soviético e um exemplo de investimento no esporte. Tinha dois estádios, vários ginásios e três piscinas, hoje todos abandonados.