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Invasores, cães do Itaquerão tiveram mimos e já foram salvos por madrinha

Corinthians x Coritiba, no último sábado, foi interrompido por cachorro no gramado - Friedemann Vogel/Getty Images
Corinthians x Coritiba, no último sábado, foi interrompido por cachorro no gramado Imagem: Friedemann Vogel/Getty Images

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

03/11/2014 06h00

Acelerado, um cãozinho de pelagem cinza invadiu o gramado do Itaquerão durante Corinthians x Coritiba, no último sábado. Atravessou o campo, passou pelos jogadores, saiu por trás das placas de publicidade e acabou nos braços de torcedores que estavam nas arquibancadas. Por mais que a cena tenha sido surpreendente para todos, não ocorreu exatamente por acaso. 

Graças ao esforço de funcionários da obra, sobretudo da bióloga Carmen Lucy de Freitas, dezenas de cães foram amparados durante a construção da casa corintiana, o que ajuda a explicar a presença deles por ali até os dias de hoje. O terreno anterior ao Itaquerão era procurado pelos cachorros do bairro para abrigo, parto e procriação. A história é contada por Carmen. 

"Alguns colaboradores da obra faziam escavações poucos dias depois de eu ter chegado. Chovia muito e o pessoal me procurou porque alguém queria jogar uma ninhada de cães no esgoto. Isso daria um problema grande para o Corinthians, além de ser um crime. Nós resgatamos todos os 13 filhotes. Depois, doentes, três deles morreram. Eu ainda trouxe uma cachorrinha para a minha casa, escondida da minha mãe", explica a bióloga. 

Aos poucos, as iniciativas de Carmen e mais alguns amigos chegaram até a algumas pessoas que participavam da obra. Ela ainda contou com o apoio de um colega veterinário chamado Augusto. Comprometido com a causa, já que vários cachorros começaram a aparecer por ali, ele conseguiu remédios, mantimentos e fez até cirurgias. Em troca, pediu uma jaqueta para os operários do Itaquerão. A história é contada em detalhes no livro Arena Corinthians - a Nossa Casa, de Tadeo Sanchez Oller. 

Como a demanda crescia, Carmen Lucy precisou fazer jornada extra para cuidar dos cachorros que apareciam no estádio. "Eu chegava mais cedo ao trabalho, cuidava deles com a ajuda de amigos durante o almoço. Mas começou a ficar muito caro, então fizemos algumas campanhas, coloquei até na internet", conta. "Esse lugar era dos cães, nós invadimos o lugar deles. Esse meio do campo hoje era justamente um matagal onde as cadelas procuravam para parir", explica a madrinha dos cães do Itaquerão. 

Não por acaso, a invasão de um cachorro no duelo entre Corinthians x Coritiba não foi a primeira. Em julho, outro cão havia aparecido na arquibancada em vitória sobre o Internacional. De acordo com o clube, a prefeitura já foi comunicada sobre a situação para dar abrigo aos animais. 

Já em outro emprego, Carmen guardou consigo uma lembrança do dia em que tirou aqueles 13 filhotes do esgoto. A cachorrinha Lila, dois anos depois, segue na casa da bióloga com seus dois outros cães. "Ela me deu muita sorte. Apareceu em um momento difícil da minha vida e as coisas melhoraram. Não dou ela para ninguém", conta.