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O Santos do Rei Pelé foi arrogante em 1966. E quem conta isso é o Príncipe

Ídolo Dirceu Lopes negocia parceria com o Cruzeiro para reabrir equipe de base em Pedro Leopoldo - Dionízio Oliveira/UOL Esporte
Ídolo Dirceu Lopes negocia parceria com o Cruzeiro para reabrir equipe de base em Pedro Leopoldo Imagem: Dionízio Oliveira/UOL Esporte

Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

05/11/2014 06h00

Ele está entre os principais personagens da história do confronto entre Cruzeiro e Santos, que terá mais um capítulo na noite desta quarta-feira, quando os dois times decidem vaga à final da Copa do Brasil, na Vila Belmiro, às 22h. Não é à toa que recebeu a alcunha de Príncipe do Futebol – alusiva a Pelé, o Rei do esporte – após ser decisivo na final da Taça Brasil de 1966, conquistada pelo time mineiro. Natural de Pedro Leopoldo, Dirceu Lopes, 68 anos, conta os bastidores da decisão com o time Paulista no Pacaembu e comenta os projetos pessoais, que incluem uma parceria com o clube que o revelou para o futebol.

A final do principal torneio brasileiro da década de 1960 contou com a assinatura do ex-jogador. No triunfo do Cruzeiro no jogo da ida, por 6 a 2, no Mineirão, Dirceu Lopes anotou três gols. Na partida da volta, disputada em São Paulo, ele fez um e ajudou sua equipe a sair com um resultado positivo: 3 a 2.

Após perder para o rival em Belo Horizonte, o Santos, base da seleção brasileira à época, e que tinha em seu elenco nomes como Pelé, Carlos Alberto Torres, Gilmar, Zito, Pepe, Dorval e Edu, entre outros, abriu 2 a 0 no primeiro tempo do jogo disputado em São Paulo e tinha certeza de uma reviravolta. No intervalo, os presidentes do clube e da Federação Paulista de Futebol (FPF) foram ao vestiário do time mineiro para marcar a terceira partida no Maracanã, campo neutro. O restante da história, Dirceu conta com satisfação.

“Estávamos chateados, cabisbaixos no vestiário. Aí chegaram o presidente do Santos e o presidente da Federação Paulista de Futebol para marcar o terceiro jogo para o Maracanã. Foi aí que o nosso falecido treinador, Aírton Moreira, chamou a nossa atenção e pediu para que confiássemos em nós. Ele mexeu com os nossos brios, fizemos três gols e não deixamos que o Santos passasse do meio de campo. Esse é o título mais importante da história do Cruzeiro”, avaliou Dirceu Lopes, em entrevista ao UOL Esporte.

O Príncipe explica que, a partir daquela conquista, o Cruzeiro subiu um patamar e deixou o âmbito regional para obter fama nacional e internacional. “O Cruzeiro deixou de ser caseiro para se tornar um time com fama nacional. Naquela época, o futebol mineiro era basicamente para revelar jogadores para São Paulo e Rio (de Janeiro). Não tínhamos destaque nenhum. A partir desse título inédito contra o Santos, mudamos a história e passamos a despertar curiosidade de times brasileiros e do mundo. Participamos de jogos na França, na Espanha e na Austrália”, lembrou.

A história, segundo Dirceu Lopes, pode servir de lição para o atual elenco celeste, que ele considera favorito na semifinal da Copa do Brasil. O Cruzeiro venceu o primeiro confronto por 1 a 0, no Mineirão.

“Aquele espírito de soberba do Santos foi o nosso maior trunfo naquela final, porque o Santos era uma verdadeira seleção brasileira. Esse excesso de confiança por parte do Santos e do presidente da Federação Paulista de Futebol foi o que mexeu com nossos brios. É o que fica de lição. Atualmente, avalio o Cruzeiro como um time superior ao Santos, embora esteja sofrendo mais com o desgaste físico. O Cruzeiro é o favorito para esse jogo, acredito em uma vitória”, comentou.

Na véspera do confronto, o ex-atleta compareceu à Toca da Raposa II e se reuniu com o supervisor de futebol Benecy Queiroz para acertar uma parceria entre o Cruzeiro e a Associação Desportiva de Pedro Leopoldo, agremiação encabeçada pelo ídolo estrelado que tem o objetivo de revelar jogadores. O projeto surgiu no início desta década, mas foi encerrado em 2012 devido à ausência de patrocínios. Dirceu Lopes, contudo, retomará o trabalho em janeiro da próxima temporada.

“Tive um projeto com o intuito de revelar jogadores e vamos retomá-lo no princípio de 2015. É um projeto que visa revelar talentos para o futebol brasileiro. Tínhamos um time que disputou a Taça BH de Futebol Júnior e fomos desclassificados pelo Flamengo. O nosso projeto é reviver a Associação Esportiva Pedro Leopoldo. Queremos desenvolver um trabalho muito bonito, muito bacana”, revelou.

Ídolo cruzeirense - Gustavo Andrade/UOL Esporte - Gustavo Andrade/UOL Esporte
Dirceu Lopes é um dos principais ídolos da história do Cruzeiro e personagem dos tradicionais confrontos com o Santos
Imagem: Gustavo Andrade/UOL Esporte

Outro trabalho recente é a divulgação de sua biografia, escrita pelo jornalista Pedro Blank e intitulada ‘O Príncipe – A real história de Dirceu Lopes’. O ex-jogador percorre Minas Gerais para divulgar o livro e se diz contente com o carinho recebido pelos torcedores do estado.

“Estou trabalhando no projeto do livro que conta a minha biografia. Estamos fazendo o lançamento em várias cidades do interior. É algo muito gratificante, porque temos a oportunidade de trabalhar ao lado dos torcedores. É impressionante a gratidão da torcida do Cruzeiro, não só comigo, mas com todos os jogadores daquela época”, declarou.

“Recebi várias propostas para relatar minha vida, mas ninguém nunca me despertou curiosidade, até que conheci o Pedro Blank, que fez essa proposta. Eu conversei com ele e achei muito interessante. É uma coisa inédita, porque minha vida foi basicamente dedicada ao Cruzeiro. O livro conta a minha história, é um trabalho muito bonito”, acrescentou.