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MP vê indícios de suborno no caso Héverton, mas ainda tenta obter provas

Portuguesa foi rebaixada para a Série C cinco rodadas antes do fim da Série B - Vagner Magalhães/UOL
Portuguesa foi rebaixada para a Série C cinco rodadas antes do fim da Série B Imagem: Vagner Magalhães/UOL

Vagner Magalhães e Rodrigo Mattos

Do UOL, em São Paulo

11/11/2014 23h22

O Ministério Público do Estado de São Paulo tem fortes indícios de que houve suborno para que a Portuguesa escalasse o meia Héverton de maneira irregular na última rodada do Campeonato Brasileiro do ano passado. O caso fez com que a Lusa perdesse quatro pontos e fosse rebaixada para a Série B.

Dentro do MP, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), investiga a movimentação financeira de pessoas que poderiam ter interesse no rebaixamento da Portuguesa, dentro e fora do clube. Se houve mesmo o suborno, descobrir o caminho do dinheiro é a chance de se chegar com precisão aos possíveis envolvidos.

O promotor Roberto Senise Lisboa, que investiga o caso do rebaixamento da Portuguesa, afirmou ao UOL Esporte que ainda não chegou a nenhuma conclusão sobre se houve corrupção dentro do clube na escalação do atacante Héverton contra o Grêmio, o que levou ao rebaixamento do clube. Segundo ele, as investigações até agora apontam que houve uma série de erros de funcionários da agremiação que levaram ao uso do atleta. Não há comprovação de que alguém tenha recebido dinheiro irregular para prejudicar a Portuguesa e favorecer terceiros.

"Estamos no estágio de investigação que já relatei antes a todos", afirmou. Segundo ele, para que seja comprovado um caso de corrupção, tem ser identificado o pagamento de uma entidade ou pessoa para um terceiro. E até agora isso não aconteceu. Ainda serão quebrados os sigilos bancários de envolvidos.

Entre os dados já coletados, o MP comprovou que a Portuguesa recebeu e-mail da CBF avisando sobre o julgamento e houve conversas entre o advogado do clube e seu departamento jurídico.

Nessa linha de investigação, trabalha-se com a possibilidade de o dinheiro estar fora do país. Paraísos fiscais como as Ilhas Cayman, no Caribe, ou Punta del Este, no Uruguai, estão no radar. Entre as dezenas de depoimentos colhidos até agora, há indícios de pelo menos um crime financeiro. 

Uma apuração interna dentro da Portuguesa aponta para um "erro administrativo". O Conselho Deliberativo fala em responsabilizar o ex-presidente Manuel da Conceição Ferreira (Manuel da Lupa), civil e criminalmente. Em jogo, estariam pelo menos R$ 30 milhões, valor estimado do prejuízo do clube com o rebaixamento.

O Gaeco investiga desde o início do ano a relação do Banco Interamericano do Funchal (Banif), ex-patrocinador de camisa da Portuguesa, com ex-dirigentes do clube.
 
Quando o Manuel da Lupa assumiu a Portuguesa em 2005 para o primeiro de seus três mandatos consecutivos, a a Lusa passava por fortes dificuldades financeiras, com dívidas trabalhistas e falta de capital de giro.
 
A partir de então, o Da Lupa e o vice-presidente, Roberto Cordeiro, passaram a receber empréstimos em suas contas de pessoa física e repassavam esse dinheiro para o clube, que estava sem crédito na praça. O esquema teria durado mais de oito anos, envolvendo também o ex-vice-presidente de futebol Luís Iaúca, que teve participação na gestão a partir de 2008.
 
No início do ano passado, o banco entrou na Justiça para executar uma dívida de R$ 42,8 milhões contraída por Da Lupa. O ex-presidente sempre negou que tomou empréstimos em seu nome para administrar a Portuguesa e diz que a dívida é do clube.
 
Na próxima semana, o Ministério Público deverá ouvir Leandro Teixeira Duarte, que coordena a Comissão de Ética e Disciplina do Conselho Deliberativo da Portuguesa e que participa da investigação interna que o clube promove para apurar as responsabilidades no caso.