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Jornalista que levou porrada de Picerni quer revanche na porta do cemitério

Luis Augusto Simon

Do UOL, em São Paulo

12/11/2014 06h00

O São Caetano, hoje relegado ao limbo da Série D, teve momentos de glória no início do milênio. Foi vice-campeão da Copa João Havelange, perdendo a decisão para o Vasco da Gama. 

Muita gente não lembra o resultado do jogo. Pouca gente esqueceu a briga entre o treinador Jair Picerni e o repórter Nelson Cilo, então no Diário do Grande ABC. Cabeçadas, chutes e Cilo teve o rosto sangrando. Muito. 
 
Passados quase 15 anos, os dois têm procedimento inverso quando lembram do caso. Picerni quer esquecer. Cilo deseja uma revanche.
 
“Hoje, eu tenho 66 anos e essa conta para pagar. Um homem honesto não esquece quando sofre uma injustiça”, diz Cilo, atualmente editor do jornal Voz da Terra, de Assis, cidade de aproximadamente 100 mil habitantes, a 432 kms da capital.
 
Cilo imagina como poderia ter sua revanche. “Eu desafio o Picerni a se encontrar novamente comigo, sem os seguranças dele que me agrediram da outra vez. Eu e ele em qualquer lugar, até na porta do cemitério, se ele quiser. Vai mais uma pessoa para gravar e colocar no Youtube. Não interessa se eu vou ganhar ou perder, eu só quero a chance da revanche”.
 
Jair Picerni ri da proposta. “Nem sei falar o nome desse cara, nem sei a cara dele. Não sou baderneiro para ficar brigando. O que passou, passou”.
 
O caso foi parar na Justiça. Cilo processou Picerni na Justiça Comum e na criminal. “Na criminal, ele foi obrigado a pagar cestas básicas para instituições beneficentes. É uma condenação moral. Na outra, ele foi absolvido. A juíza ficava pedindo autógrafo para ele, acha que ia ser condenado?”, diz Cilo.
 
“Ele apanhou e entrou na justiça para ganhar R$ 350 mil de mim e outros R$ 350 mil do São Caetano. Queria ganhar no mole, perdeu. A Justiça falou e para mim, o assunto acabou”, fala Picerni.
 
Cilo diz que não tem ódio de Picerni. “Eu só não gosto de covardia. Já tive duas chances de me acertar com ele, mas recusei porque seria covarde. Uma vez, ele estava passeando na praia de Pitangueiras, no Guarujá, e eu estava com uns amigos no bar. Eles queriam falar com ele e eu não deixei. Teve também uns torcedores do Santo André que gostam de mim e queriam acertar o Picerni. Não deixei. Eu quero é mano a mano, com câmera gravando”.
 
Com tantas diferenças pessoais, o repórter e o treinador convergem quando analisam os motivos da queda do São Caetano. Ambos apontam a morte de Luis Tortorello, ex-prefeito da cidade e ex-presidente do clube. “Ele conseguiu um bom patrocínio com as Casas Bahia e sabia administrar o dinheiro. Tudo funcionava bem no clube. Depois, nada deu certo”, analisa Nelson Cilo.
 
Para Picerni, havia um grau de acerto muito bom nas contratações. “De 2000 a 2002 a gente montou três times muito bons. Na primeira formação, tinha o César, o Adhemar e o Claudecir. Na segunda, tinha Simão e Marcos Senna. Na última, até o Muller estava lá. Os jogadores vinham e se adaptavam bem. E nunca faltou dinheiro. Em 2002, o São Caetano pagava bem como os grandes”.
 
Como a decadência atingiu também o Santo André, Cilo acredita que o futuro do futebol do ABC esteja com o São Bernardo. “O trabalho lá é bom, eles têm um bom estádio e a ajuda do prefeiro Luis Marinho. Os jogos lotam”.
 
 Picerni é bem menos entusiasta e recusa comparações. “O São Bernardo está indo bem, mas nunca será como o São Caetano. Aquilo era futebol-empresa, coisa de outro nível. Se você quiser alguma comparação com o São Caetano, tem de olhar para o Red Bull, de Campinas. Trabalhei lá e vi como tratam o futebol com seriedade”.