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Ex-presidente da Lusa mandou ignorar aviso sobre Heverton, diz secretária

Pedro Lopes e Vagner Magalhães

Do UOL, em São Paulo

14/11/2014 20h54

“Então guarde e fique quieta”. Foi essa a ordem que a secretária de Manuel da Lupa, ex-presidente da Portuguesa, diz ter recebido do mandatário a respeito de um e-mail enviado pela Federação Paulista de Futebol no dia 3 de dezembro, avisando sobre o julgamento de Heverton pelo Superior Tribunal de Justiça desportiva.

O depoimento de Magda Zumbano foi dado ao promotor público Roberto Senise, que investiga o caso, em janeiro, e é um dos principais indícios que reforçam as suspeitas de que a antiga diretoria da Lusa tenha escalado o meia de forma irregular de propósito, causando o rebaixamento do clube para a Série B em 2013.

Magda conta ter recebido o e-mail no dia 3, avisando que o meia seria julgado três dias depois, no dia 6. A correspondência foi repassada a diretores, incluindo o vice-presidente Roberto dos Santos.

Alguns dias depois, - a secretária não sabe precisar a data – foi questionada pelo então presidente se havia recebido alguma comunicação da FPF (as comunicações da CBF sobre suspensões e julgamentos são feitas através das federações estaduais). Diante da resposta positiva, teria ordenado que guardasse o e-mail e ficasse em silêncio.

No tribunal, Heverton foi suspenso, e acabou sendo escalado de forma irregular na última rodada do Brasileirão. A diretoria da Portuguesa afirmou que o advogado que defendeu o atleta no julgamento, Osvaldo Sestário, não avisou sobre a punição.

A funcionária entendeu dias depois que se tratava da “confusão” envolvendo Heverton. No mesmo dia em que diz ter recebido a ordem, ela também diz que Da Lupa e o então diretor jurídico da Portuguesa, Valdir Rocha, discutiram de forma exaltada a respeito de um atleta.

Documento mostra que Da Lupa mandou secretária ignorar aviso da FPF - Reprodução - Reprodução
Documento mostra que Da Lupa mandou secretária ignorar aviso da FPF
Imagem: Reprodução

O e-mail da Federação Paulista foi repassado a pelo menos quatro outros funcionários do clube – inclusive do departamento jurídico. A correspondência eletrônica está comprovada no inquérito civil movido pelo Ministério Público.

O inquérito também comprova que o ex-diretor jurídico do clube, Valdir Rocha, conversou com Sestário antes e depois do julgamento de Heverton – mesmo assim, alegou em depoimento não ter sido avisado do resultado.

Em depoimento, também em janeiro, Da Lupa disse que que só tomou conhecimento da punição de dois jogos imposta em desfavor do jogador Héverton e da entrada desse jogador na partida entre Portuguesa e Grêmio, no dia 10 de dezembro, dois dias após a partida.
 
Ele alega que estava em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, durante o fim de semana da partida. Ele teria ido para lá com a sua família para participar do casamento do filho de uma prima. 
 
Ele afirmou ao Ministério Público que a secretária Magda entregou a ele, como de praxe, a correspondência física e eletrônica de sua alçada, no dia 10, quando ele tomou conhecimento do problema. Nessa data, ele foi informado pelo departamento jurídico do clube, por meio do advogado Valdir Rocha, sobre o que aconteceu.
 
Da Lupa disse que então ligou para o advogado Osvaldo Sestário, que representou a Portuguesa no julgamento, que teria reconhecido falha pessoal e que ele assumiria a responsabilidade pelo episódio. No depoimento, Da Lupa negou que tenha recebido algum telefonema, contato ou proposta de pagamento por parte de Unimed, Flamengo ou Fluminense.
 
Três dias depois de Da Lupa, o ex-vice-presidente de Futebol, Luís Iaúca, disse ao MP ter perguntado a Magda se ela havia avisado a presidência, o jurídico e o departamento de futebol. "Ela demonstrou, na tela do computador que havia efetivamente encaminhado todas as mensagens que recebeu do STJD, sobre o julgamento que viria a ocorrer em 6 de dezembro de 2013". Quando procurou saber se o jogador Héverton havia ou não sido efetivamente defendido pela Portuguesa no STJD, todos os que o declarante procurou negaram saber disso.