Topo

Sem ingresso, palmeirenses admiram estádio da rua e têm choque de realidade

19.nov.2014 - O publicitário Robson Rico acompanha o jogo entre Palmeiras e Sport pelo rádio, em frente ao estádio - Vagner Magalhães/UOL
19.nov.2014 - O publicitário Robson Rico acompanha o jogo entre Palmeiras e Sport pelo rádio, em frente ao estádio Imagem: Vagner Magalhães/UOL

Vagner Magalhães

Do UOL, em São Paulo

20/11/2014 06h00

Enquanto Palmeiras e Sport empatavam ao fim do primeiro tempo da partida de inauguração do Allianz Parque, em São Paulo, o publicitário Robson Rico, 60, escutava a narração da partida pelo rádio. Com um fone de ouvido, ele olhava fixamente para a entrada principal do estádio, na rua Turiassu.
 
Morador da região, ele saiu de casa mesmo sem ingresso. O objetivo era, segundo ele próprio, sentir o calor da torcida e o gostinho de estar na inauguração do novo estádio.
 
Rico fala com alegria do antigo Palestra Itália. Frequentou o estádio com seu pai, já falecido, e com os dois filhos, hoje com mais de 30 anos.
 
"A nossa família tem uma história muito linda com o Palmeiras. Estive aqui no tempo da Academia, nos anos 70, na grande fase dos anos 90. Era uma beleza".
 
O torcedor diz que assim que começaram a demolir o antigo estádio, esteve no local e guardou com ele algumas relíquias, como antigos tijolos de barro da indústria Matarazzo. "Peguei algumas coisas aqui e distribuí para a família toda".
 
Rico só mudou a fisionomia para falar do time atual. "A coisa não anda muito boa. Pelo que ouvi aqui, no primeiro tempo, não chutaram uma bola no gol", disse ele.
 
Também na rua Turiassu, o auxiliar-administrativo João Vítor, 28, andava de um lado para o outro, na ansiedade de entrar no estádio. Também sem ingresso, apostava a sua última esperança em bilhetes encalhados na mão dos cambistas. 
 
"Se sobrar ingresso, eles vendem por qualquer preço no intervalo. Até por R$ 20", disse ele, estipulando o limite de dinheiro que tinha para gastar naquela noite".
 
Antes do início da partida, ingressos com preço oficial de R$ 80 eram vendidos entre R$ 500 e R$ 600 no mercado paralelo.
 
Cerca de 2 mil pessoas acompanharam a partida do lado de fora do Allianz Parque, nos bares das ruas Turiassu e Caraíbas, em frente ao estádio.
 
Com o primeiro gol do Sport, alguns torcedores se lembraram da realidade. "O estádio está lindo, mas o time é o mesmo. Não vai ser fácil", disse um deles.
 
Dois amigos, que acompanharam o jogo juntos, de repente começaram a brigar. Trocaram alguns socos, até que chegou a turma do deixa disso. Nas ruas, milhares de latas de cerveja eram recolhidos pelos catadores de material reciclável. Muitas garrafas de vidro foram deixadas na rua e foram alvo de reclamação da PM.
 
"Se sai uma briga, sempre sobra para nós. Onde está a fiscalização da Prefeitura?", perguntou um soldado, enquanto acompanhava a briga de longe.
 
Na volta para casa, cerca de 200 torcedores perderam o horário do Metrô. A estação Barra Funda fechou à 0h33. Para esses, a derrota se tornou ainda mais dolorida. "A noite vai ser longa", disse um deles, ao ver o portão fechado e se dirigir para o terminal de ônibus.