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Candidato projeta pagar R$ 30 milhões em dívidas e Botafogo modesto em 2015

Thiago Alvim (direita) ao lado do vice Durcésio Mello em lançamento da chapa azul - Luiz Gabriel Ribeiro/UOL
Thiago Alvim (direita) ao lado do vice Durcésio Mello em lançamento da chapa azul Imagem: Luiz Gabriel Ribeiro/UOL

Bernardo Gentile

Do UOL, no Rio de Janeiro

21/11/2014 06h00

Favorito a vencer as eleições do Botafogo, Thiago Cesário Alvim está preocupado com o futuro do clube. Segundo ele, o atual presidente, Maurício Assumpção, antecipou mais de R$ 40 milhões dos R$ 46 milhões que o próximo dirigente teria direito a receber. Além disso, o candidato projeta que o Alvinegro terá que gastar aproximadamente R$ 30 milhões em pagamento de dívidas para poder se estabilizar financeiramente novamente, o que só ocorrerá em 2016.

Por este motivo, Thiago não tem dúvida que o Botafogo terá que reduzir os gastos. E isso incluiu a folha salarial dos jogadores. Ele prevê uma equipe competitiva, honrando as tradições, porém mais modestas dos que foram vistas nos últimos anos. Pelo menos em um primeiro momento, claro. Torcedor doente do Alvinegro, ele conta com apoio dos influentes botafoguense que têm ajudado o clube e prometem continuar.

Veja a entrevista na íntegra:

UOL Esporte: Seu nome surgiu de última hora. Está preparado?
Thiago Alvim: Estou preparado. Sou uma pessoa comunicativa. É cansativo, uma maratona. Não estou pensando muito no atual momento do Botafogo. Se pensar fico muito chateado e preciso trabalhar por ele. Represento um grupo de alvinegros renomados que querem uma outra coisa para o clube. Vejo com muita tristeza a atual situação. Mauricio se perdeu. O Botafogo completou um ano sem dinheiro. Não pode administrar um clube dessa forma. Uma hora a bomba estoura e isso vai ocorrer em 2015.

UOL Esporte: Quais seriam suas primeiras ações como presidente?
Thiago Alvim: Pagar os R$ 4,2 milhões do Refis e Timemania já no dia 28 de novembro. A chapa azul já se movimenta para arrecadar esse dinheiro. Se não fizer isso, não cumpriremos o combinado para o refinanciamento das dívidas. Em dezembro tem mais uma cota. Depois disso cai pra R$ 600 mil em janeiro de 2016. É um caos. Teremos dificuldades, pois o Botafogo hoje não tem crédito no mercado. Não querem nem conversar com o Botafogo. Dificulta demais. Se tem algum candidato com condição de resolver isso sou eu. Somos a chapa de união do Botafogo. Em cima disso que apostamos.

UOL Esporte: Sócio-torcedor terá direito a voto?
Thiago Alvim: Deve ter direito. Mas não adianta colocar em cartório [como fez candidato Vinicius Assumpção], mas convencer o conselho deliberativo. Falar é fácil, fazer é difícil. Isso só acontecerá se o conselho aceitar essa mudança. Vamos trabalhar nesse sentido. Mas isso deve ser feito de forma que eu não desvalorize o sócio-proprietário, que paga mais caro que o sócio-torcedor [R$ 94 mensais contra R$ 40 do plano mais barato]. Fizemos uma pesquisa e o sócio-torcedor quer, antes de ter direito a voto, desconto em produtos oficiais. Depois direito a voto e por fim vantagem em dias de jogos. Precisamos muito do sócio-torcedor, mas não posso desvalorizar o proprietário. Vou elaborar uma proposta nesse primeiro ano e tentar aprovar no conselho. A partir de 2016 o sócio-torcedor começa a pagar e fica apto a votar nas próximas eleições. Isso seria legal.

UOL Esporte: Mas como seria esse plano?
Thiago Alvim: Não podemos ter apenas 8 mil sócios. Isso para o tamanho do Botafogo chega a ser ridículo. Tenho muito orgulho desses oito que não nos abandonam, mas é muito pouco. O Botafogo é gigante. Eu contesto esses números que dizem que o Palmeiras é três vezes maior que a gente. Não existe isso. O Botafogo é Brasil, não só Rio de Janeiro. Temos que criar um plano que não mude com resultado. Ganhou os torcedores aderem, perdeu eles saem. Não pode ser assim. Preciso me planejar com esse dinheiro para gastos do clube. Vou facilitar forma de pagamentos, criar forma de o torcedor poder pagar em forma de presente para um terceiro. O botafoguense poderá pagar três meses de mensalidade para um amigo em seu aniversário. São ideias.

UOL Esporte: Propostas para o Engenhão?
Thiago Alvim: É fonte de receitado Botafogo. Queria ele caracterizado com as cores do preto e branco. Penso nele com um conceito de shopping. Vamos falar com empresas especializadas. Tem feira de carro em todos os shoppings, por que não no estacionamento do Engenhão? Voltar a fazer shows. Espaço para 40 mil espectadores. Arena multiuso. Até parque de diversões, por que não? Circo, feira de carros, feira de livros. Esse será o conceito. Engenhão é fonte de receita que gera R$ 15, R$ 20 milhões. Tem que respeitar.

UOL Esporte: Como você analisa o mandato do Maurício Assumpção?
Thiago Alvim: O fim do mandato do Mauricio está triste. Nos seis anos ele teve prós e contras. Avançou na área social. Reformou General Severiano com calendário implantado. O sócio está se sentindo melhor do que em outras gestões. O remo foi muito bem. Tricampeão brasileiro. algo que não ocorria há 40 anos. Campeão de terra e mar em 2013. O projeto da base rendeu frutos. Desde o Beto não revelava ninguém. Mas errou muito feio na forma de administrar. Ele criou um rombo financeiro para quem entrar agora. Se analisar os balanços do clube, em 2011 foi um aumento no déficit. Despesa superou e muito a receita. Foi capaz de gerar receitas altas, mas gastou muito e muito distorcido. O futebol tem profissionais com salários altos e muita gente trabalhando. Errou financeiramente e na parte de gestão do clube. O futebol a partir do fim de 2013 foi sofrível. 2014 foi um desastre. Pior colocação no Carioca na Libertadores. E esse drama agora no Brasileiro. Horrível, vergonhoso.

UOL Esporte: A renegociação das dívidas é prioridade? O Botafogo terá que reduzir gastos para se manter em dia?
Thiago Alvim: As dívidas estão renegociadas, só faltam serem pagas. Atualmente as parcelas do Refis estão muito altas. R$ 3,5 milhões não conseguiremos cumprir. Mas em janeiro de 2016 passa a ser R$ 600 mil e fica bom. Com Refis e ato trabalhista, nosso problema se resolve, pois organiza uma fila de credores fiscais e trabalhistas. Acabou o problema. Até lá, teremos que pagar R$ 18 milhões de Refis e R$ 12 milhões de ato trabalhistas em 2015. Das receitas da Globo, foram antecipados mais de R$ 40 milhões [total é R$ 46 milhões]. É uma herança maldita.

Os gastos do Botafogo estão muito altos, atualmente. Não tem como pagar os salários que nos comprometemos. Vamos ter que reduzir, não tenha dúvida. Ainda não sei dizer o quanto, pois dependerá de quando arrecadaremos com patrocínio e fornecedor esportivo. Mas terá que reduzir.

UOL Esporte: Como será o time em 2015?
Thiago Alvim: O vice de futebol será o responsável para montar o time. Já sei quem é, mas não posso dizer ainda. O que posso adiantar é que queremos alguém com penetração na CBF, Ferj e TV Globo. Quase não temos influência, essa é minha leitura. Ganho menos a maioria dos clubes, principalmente os rivais. No fim de 20 anos como vais ser isso? Sou radicalmente contra a ‘espanholização’ do futebol brasileiro. Temos que mudar isso. Acharam que o acordo seria bom porque aumentou a verba, mas essa diferença toda será fatal a longo prazo. Flamengo com três vezes mais. Sou botafoguense apaixonado e não vou me omitir. Só vestirá a camisa do Botafogo quem tiver condição de representar esse clube.

UOL Esporte: Mesmo com um cenário delicado, o Botafogo terá quatro chapas concorrendo. Por que isso?
Thiago Alvim: É o fator Assumpção. Ele é dentista de formação e conseguiu ser presidente. Isso animou os candidatos. Antes, os presidente eram pessoas de grandes famílias, com destaque na vida particular. Ele quebrou esse paradigma. Isso anima outras pessoas. No meu caso fui escolhido pela chapa azul, por pessoas influentes.

UOL Esporte: Presidente não tem salário. Como você se manterá por três anos, caso eleito?
Thiago Alvim: Viu continuar nos meus negócios, onde sou dono [bar Carioca da Gema, na Lapa]. Tenho vida profissional estabilizada. Ganho entre R$ 20 e 30 mil. Não vou abandonar o bar, pois começo a trabalhar a partir das 21h. Não tenho obrigações, mas responsabilidades. Tenho sócias botafoguenses que entendem esse momento. Vou perder meu tempo de lazer. Por três anos abro mão do lazer. Gosto de surfar com meu filho no fim de tarde, pegar uma praia. Vou revezar com Durcesio [Melo, vice presidente geral]. Ele chegará bem cedo e eu a partir das 11h até de noite.

UOL Esporte: É contra presidente ser um cargo remunerado?
Thiago Alvim: Não acho nada demais ser remunerado, mas o estatuto não permite. Mudaria para  a próxima gestão. Não é nossa prioridade. As regras são claras e vai ter candidato com dificuldade de assumir sem receber. Carlos Eduardo já disse que não ficará direto no clube e que delegará poder. Vinicius [Assumpção] disse que não terá problemas com isso. Marcelo [Guimarães] recai sobre ele essa dúvida.

UOL Esporte: O Botafogo tem solução?
Thiago Alvim: O Botafogo, como todo clube, vai ter que ter solução. Não para e nem vai parar. O Botafogo é imortal [emocionado]. Esse clube é imortal.

UOL Esporte: Mudará alguma coisa nas categorias de base, um dos pontos positivos da atual administração?
Thiago Alvim: Precisa de ajustes. Marechal Hermes foi totalmente destruída. Não tem campo, alojamento. Isso precisa mudar. Agora, essa metodologia de avaliar jogadores, de captar atletas, isso é muito bom e será mantido. Foi assim que vieram jogadores de qualidade como Vitinho e Gabriel, por exemplo. Queremos é criar estrutura que possa revelar mais os nosso próprios atletas, caso do Doria e Cidinho.

UOL Esporte: Mande um recado para a torcida do Botafogo
Thiago Alvim: Confio que o torcedor do Botafogo votará na chapa azul no dia 25 de novembro. Somos a chapa da união e quem está mais preparado para enfrentar os problemas herdados.  Saudação alvinegra e um abraço em todos os irmãos de camisa. Contamos com você.