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Carros, mulheres e ostentação? Caio Jr realiza sonho inusitado nas Arábias

Bernardo Gentile

Do UOL, no Rio de Janeiro

22/11/2014 06h00

O técnico Caio Júnior é um ponto fora da curva. No meio do futebol é comum ver jogadores, treinadores e até mesmo dirigentes ostentando carros importados e mulheres bonitas. Não é nada disso que mexe com o ex-treinador do Botafogo. Atualmente no Al Shabab, dos Emirados Árabes, ele realizou um sonho inusitado: aprendeu a falar inglês e até mesmo já dispensou o intérprete do clube.

O problema é que os técnicos brasileiros não têm um histórico positivo quando falam língua estrangeira. Vanderlei Luxemburgo e Joel Santana provam isso. Caio Júnior brinca com a situação e com o técnico do Vasco. “Estou procurando não falar o inglês do Joel [risos]. Tenho esse cuidado. Por ser uma linguagem do futebol é mais fácil. E mais fácil do que falar sobre outros assuntos. Dispensei até tradutor. Consigo me virar já. Sempre foi um sonho meu, mas ainda estou longe do ideal”, explica.

Para Caio Júnior, o fato de estar se comunicando em inglês com jornalistas locais e jogadores faz com que o clima seja melhor no Al Shabab. Para o treinador, isso tem sido decisivo para o momento da equipe, que briga pelas primeiras posições no campeonato árabe. Para ele, essa experiência no exterior contribui para o sucesso de sua carreira.

“Muita coisa. Compreender um pouco da língua, algumas coisas em árabe. Falar melhor inglês, evolui muito. Estou sem interprete aqui. Dou minhas coletivas em inglês. Me ajudou bastante. Entender bem as características dos atletas locais. A personalidade deles. Sempre trabalhei assim, com psicologia. No Brasil tem problema com a personalidade dos atletas. Aqui o problema é religião, pois é algo diferente do que estamos acostumados. Procuro entender bem isso”, afirmou.

Caio Júnior também está contente com o reconhecimento que tem nos Emirados Árabes. Ele reclama da sua situação no Brasil, onde tem tido poucas oportunidades. Ele está entre os oito melhores treinadores no Brasileiro de pontos corridos, mas não conta com a paciência dos dirigentes: foi demitido após dez jogos pelo Criciúma, que tem tudo para ser rebaixado na próxima rodada.

“É um absurdo o que ocorreu no Criciúma. Eu estava colocando no Criciúma a minha esperança de fazer bom trabalho. A prova de que eles estavam errado é que já saíram mais dois treinadores depois de mim. O problema não era o treinador”, reclama.

“Todos os clubes que consegui trabalhar uma temporada inteira fiz bom trabalho. No Paraná, Palmeiras, no Flamengo e Botafogo a mesma coisa. Tenho orgulho disso. Não fui campeão, mas os trabalhos foram bons”, acrescentou.

E os bons resultados têm se repetido nos Emirados Árabes, onde o Al Shabab luta pelas primeiras colocações da competição local. “Acima da expectativa. Fizemos dez jogos e ganhamos oito. Um aproveitamento de 78% em 3º na liga com um jogo a menos. É acima da expectativa, pois não somos o time que mais investe. Apenas o sexto nesse sentido. Trabalho considerado excelente por todos”, conta orgulhoso

Caio Júnior lamenta situação do Botafogo

Identificado com o Botafogo após comandar o clube em 2011, Caio Júnior vê com tristeza a atual situação do Alvinegro. “Lamento muito. É triste, pois gosto muito do clube. Tenho amigos e admiração grande por todos. Trabalho feito foi bom lá. Torço pelo Gottardo, pelo Mancini, que é meu amigo. O grande problema é o passado, que pesa muito no que acontece hoje em dia. Foi assim na minha época. Os clubes do Rio carregam um passado nas costas que atormentam o presente. O passado sempre vai cobrar. Isso é terrível”, lamenta.

Por conta dessa desorganização, o treinador espera permanecer mais algum tempo no exterior, onde tudo funciona com mais tranquilidade. Caio Júnior deixa claro sua mágoa com dirigentes de clubes brasileiros, o que o motiva a ficar distante por mais algum tempo.

“Futebol aprendi que não dá para planejar. Tenho contrato até junho do ano que vem. A tendência é que fique até o fim. Aprendi que no futebol não se planeja muito. Minha ideia é continuar aqui, pois sou muito valorizado. É gostoso. Se sente bem. No Brasil temos muitos problemas. Vinha de bom trabalho no Vitória e fiquei seis meses sem trabalhar. Assumi o Criciúma, projetei uma situação e deu tudo errado. Frustração grande”, concluiu.