Topo

"A gente tem linguagem diferente". Conheça a nova voz da Champions no país

André Henning deve comandar os principais jogos da Champions no Esporte Interativo - Esporte Interativo/Divulgação
André Henning deve comandar os principais jogos da Champions no Esporte Interativo Imagem: Esporte Interativo/Divulgação

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

26/11/2014 06h00

As grandes estrelas do futebol europeu têm data marcada para trocar de canal no Brasil, pelo menos nas transmissões do principal torneio de clubes do planeta. Após vencer a concorrência da Uefa, o Esporte Interativo se prepara para assumir a exclusividade da Liga dos Campeões em TV fechada a partir da próxima temporada, quando o narrador André Henning terá a oportunidade de ser a voz nacional do badalado torneio.

Com o suporte do grupo americano Turner, o Esporte Interativo venceu a concorrência para o triênio (2015/16, 2016/17 e 2017/18), quebrando uma hegemonia de anos dos canais ESPN. Na TV aberta, no entanto, a exclusividade segue com a Globo, que costuma repassar os direitos para a Band. 

Os direitos de transmissão da Liga dos Campeões serão o trunfo na manga do Esporte Interativo para tentar viabilizar o grande passo de seu projeto de expansão: a entrada nas principais operadoras de TV paga. A tendência é que a emissora trilhe um caminho semelhante ao do Fox Sports, na época de seu ingresso no mercado, quando usou a exclusividade da Libertadores para ampliar o seu alcance. No entanto, existe a alternativa paliativa de explorar outros canais do grupo Turner (TNT, Space).

Atualmente o Esporte Interativo se define como produtor de conteúdo multimídia, mas foca sua ação em TV aberta (sistema UHF), parabólica e internet. A emissora está em algumas operadoras menores ou regionais na TV paga e negocia há anos sua entrada nas gigantes Net e Sky, ainda sem sucesso. 

Em seu papel, à distância, Henning aguarda o jogo burocrático com as operadoras nos próximos meses. Mesmo assim, não esconde a ansiedade de ver "o Esporte Interativo dar esse salto final que precisa para tomar conta desse país". Marcado como a voz da inédita conquista brasileira do Mundial de handebol de 2013, o narrador diz esperar a migração sem sobressaltos do público que se habituou nos últimos anos a ver a Champions League pela ESPN. Para isso, confia na marca registrada de suas transmissões, descontraídas, sem rigidez de protocolo e com bastante interação via mídias sociais.

André Henning recentemente estreou um programa com a sua ancoragem, o "No ar". Nos bastidores da atração, o apresentador conversou com o UOL Esporte sobre carreira e a responsabilidade de levar a Liga dos Campeões ao público brasileiro, em um sonho que nasceu na infância, quando narrava jogos de Copa do Mundo dentro do quarto. Confira abaixo a entrevista do narrador do Esporte Interativo:  

UOL Esporte: Você acabou marcado como a voz do título mundial das brasileiras do handebol, pela exclusividade do Esporte Interativo no torneio [veja o vídeo no fim do texto]. O que aquilo representou na sua carreira?

André Henning: Foi o ponto máximo da minha carreira, disparado. Era uma época, para um narrador... estava se aproximando da Copa do Mundo de futebol. E eu era o único do narrador das grandes emissoras que não faria a Copa, porque a gente não tinha os direitos. E me veio esse presente do céu. A minha Copa do Mundo foi essa. Eu realmente me senti narrando uma Copa do Mundo mesmo. E a minha ganhou. Eu não sei se eu terei ao longo da minha carreira um momento que nem esse. Dificilmente eu terei a chance de ser a voz de uma conquista inédita, e sozinho.

UOL Esporte: E já pintou um encontro com as jogadoras daquele time, com o técnico Morten Soubak?

André Henning: Não com todas, mas com o Morten já. A nossa repórter, Monique Danello, lançou um livro com os bastidores, história da conquista. O Morten foi no lançamento no Rio. Algumas jogadoras eu já conhecia, algumas mandaram mensagens (…) elas me ligaram um dia. Terminou o Mundial num domingo, e à noite eu iria viajar de férias. Eu estava no aeroporto, tocou o meu Skype. Elas estavam na churrascaria, em Belgrado, e falaram: você tinha que participar disso, comemorar junto.

UOL Esporte: E agora, está preparado para ser a principal voz da Liga dos Campeões no Brasil?

André Henning: A gente já faz a Champions há algum tempo, há seis temporadas [no canal aberto, às terças-feiras, mas só até esta temporada]. Mas óbvio que a visibilidade agora vai ser muito maior, pela exclusividade, pelo fato de fazer todos os jogos. Eu estou pronto, louco para que chegue logo e que comece pra valer. É um momento importante também para a história do Esporte Interativo. O Esporte Interativo trabalhou muito para ter essa relevância. A gente já sentia que a gente tinha, mas vinha crescendo e falta um momento, que é esse. É um momento especial para mim, mas mais importante para a empresa, para este sonho que a gente está construindo aqui.

Frase

  • "Meu sonho hoje é ver o Esporte Interativo dar esse salto final que precisa para tomar conta desse país. E que nós vamos fazer, em breve"

    André Henning, narrador

UOL Esporte: A migração do público que se acostumou a ver a Liga dos Campeões em outro canal é algo que te preocupa?

André Henning: Acho que vai ser um desafio. Acho que muita gente já fez essa migração. A gente vê. A ESPN tem o público dela, mas a gente já sentia que tem muita gente que conhece a nossa maneira de fazer também. A gente percebeu que não é uma coisa: é a gente ou eles. As pessoas passaram a conhecer. Acho que já existe por parte do público essa adaptação. A pessoa sabe que vai ligar no Esporte Interativo e vai ver uma transmissão diferente. Mas também a gente não sai dando pirueta no meio da transmissão, não é isso. A gente tem uma linguagem diferente, que o telespectador vai ter que vê-la. Eu acho que a expectativa é boa. O telespectador vai entender que a gente tem uma marca, como a ESPN tem a dela. Vai ser um desafio, mas nós estamos prontos. Estou ansioso para receber esse público que de repente ainda não nos conhece.

UOL Esporte: Falando de escola de narradores. Existem as referências mais clássicas, como Luciano do Valle, Galvão Bueno, e hoje nomes mais modernos. Como você se posiciona neste grupo? Se vê como um narrador mais moderno?

André Henning: O que eu gosto de usar é mais autêntico. Muitos narradores não conseguem numa narração, não podem pelo estilo da emissora, mostrar quem eles são realmente. Estão preocupados com outras coisas. Eu, não. Eu estou pronto para mostrar para todo mundo que é o André Henning narrando aquele jogo. Eu tenho a liberdade do Esporte Interativo de mostrar isso. Não sei se é moderno, talvez seja mais jovem. Mas aí o cara vai achar que estou chamando os outros de velho. Não é isso. Acho que o público é um público que mudou, que está ao mesmo tempo vendo e na internet, no Twitter. Eu talvez seja de uma geração que está mais ligada em tudo isso.

UOL Esporte: Você viveu nos Estados Unidos, que têm uma outra cultura de trabalhar o esporte. A visão americana te influenciou?

André Henning: Eu acho que sim. O esporte é para boa parte do mundo, e principalmente para os EUA, entretenimento. A primeira vez que eu fui num jogo da NBA, eu tinha 15 anos de idade, aquilo me transformou: 'isso aqui é entretenimento'. Fui com meu pai, a gente passou a tarde se divertindo. O jogo foi o que menos me seduziu. E passei a conviver com isso (…) eu acho que a gente aqui ainda é um pouco sisudo para tratar o esporte. Aos poucos isso está mudando, com a Copa do Mundo, Olimpíada, coisas que estão acontecendo mais próximas da gente. Muita gente nunca tinha ido a um jogo de Copa do Mundo. E agora elas sabem o que é. Aquele negócio de ir na fan zone, de se integrar com outras pessoas. É entretenimento.

UOL Esporte: Seu pai (Hermano Henning) tem uma carreira no jornalismo ligada à cobertura de grandes eventos internacionais, guerras. Você nunca se viu trilhando este caminho?

André Henning: Nunca me vi trilhando outro caminho. Eu sempre fui… sei lá, menos sério. Mas meu pai é uma grande influência. Desde pequeno eu quis trabalhar com esporte. Eu quis ser narrador desde pequeno. Em 86, eu tinha 11 anos de idade, eu narrei a Copa do Mundo inteira dentro do meu quarto, todos os jogos. Eu tinha um caderninho, anotava, e narrava sozinho vendo a Copa do México. E meu pai me influenciou muito, apesar de o caminho dele ser outro. Ele sempre ouviu muito rádio, rádio AM, que é daí que vem minha paixão pelo rádio, Osmar Santos, Fiori Gigliotti. Eu entrava no carro do meu pai e era isso o que eu escutava. Nunca pensei em outra coisa que não fosse ser narrador esportivo. Mas demorou, eu já tinha até desistido.

UOL Esporte: E como foi a virada de repórter para narrador?

André Henning: Começou na Olimpíada em Atenas. Eu fui o único enviado da rádio (Transamérica). O Eder (Luiz) narraria do Brasil, e eu faria as reportagens de lá. Ele teve um compromisso, me ligou e falou que não poderia narrar o primeiro jogo. Ele falou: 'você conhece vôlei?'. Mais ou menos, mas falei: conheço. Depois do jogo, meu telefone toca, achei que ia tomar uma baita bronca: 'você vai narrar tudo daí'. O Brasil foi medalha de ouro, e eu narrei a campanha inteira. E quando voltei para o Brasil, me falaram para continuar, para tocar o pau. Pensei se valia a pena trocar a trajetória de repórter, começar do zero. Mas aí voltou o meu sonho. E fui.

UOL Esporte: Você já lida na sua rotina, não digo vida de celebridade… mas já existe o reconhecimento das pessoas nas ruas?

André Henning: Não como celebridade, longe disso. Dependendo da onde eu vou, do tipo de público, sou reconhecido. As pessoas vêm falar comigo, dessa forma descontraída, como se fosse uma continuação do programa, metendo o pau no Thiago Silva. A sequência é na rua. As pessoas sacam quem eu sou e continuam o papo comigo. No Nordeste, principalmente, onde a audiência nossa é fantástica. Em alguns locais. Eu percebo isso diariamente.

UOL Esporte: O canal tem um posicionamento forte no Nordeste, onde você morou. Você acha que exerce um papel para entender esse público em particular?

André Henning: Eu morei 13 anos em Salvador, uma parte da minha infância barra adolescência foi em Salvador. Minha mãe mora em Salvador, vou para lá umas cinco ou seis vezes por ano. Eu entendo. Eu sei o que é para o torcedor lá ser obrigado a engolir as coberturas e as grandes transmissões de outros grandes times, de Flamengo, Corinthians. Eu sei o que é o drama deles. Eu cresci com os meus amigos sem poder ver o time deles jogando. Ou ia na Fonte Nova, ou não ia ver nunca. Eu vi, entre aspas, o desrespeito das coberturas, e eles tinham que engolir. Eu entendo a visão que esse lado do país por muitos anos teve… ‘ah, esse futebol do sul, esse pessoal do sul’. Eu vi isso acontecer.

UOL Esporte: Você será a principal voz da Liga dos Campeões no país a partir da próxima temporada, acaba de estrear um programa seu. Resta algum sonho profissional?

André Henning: Meu sonho profissional… eu gostaria de falar para mais gente. Que mais gente visse o Esporte Interativo. De conseguir conectar todo mundo nessa emoção que, humildemente, a gente acha que faz. Meu sonho hoje é ver o Esporte Interativo dar esse salto final que precisa para tomar conta desse país. E que nós vamos fazer, em breve.