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Zagueiro zen do Inter tem 'ídolo secreto' e pode virar fazendeiro

Ernando nunca revelou idolatria por Juan e comprou fazenda no interior de Goiás - Jeremias Wernek/UOL
Ernando nunca revelou idolatria por Juan e comprou fazenda no interior de Goiás Imagem: Jeremias Wernek/UOL

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

27/11/2014 06h00

O Ernando que entra em campo com a camisa 14 do Internacional é o mesmo que vive fora dele. Sem berros, sem rompantes e de uma tranquilidade que beira a timidez. Este jeito encabulado é que explica uma cena surreal: o zagueiro é fã de Juan desde os tempos de garoto, mas nunca revelou a idolatria ao colega de vestiário. No lugar do jeito truculento, da vida agitada no extracampo, ele se aproxima de um estilo zen e que pode preceder uma carreira como fazendeiro, no interior de Goiás.

A vida no campo é uma das possibilidades para depois da carreira, em parceria com familiares. Neste ano, Ernando adquiriu 18 alqueires em sua cidade natal, Flores de Goiás, e faz planos sobre criar gado e levar Fernanda, a filha recém nascida, para curtir o campo. Tudo no jeitão sem estrese dele.

“Pretendo fazer algo lá, criar gado, talvez. Estou começando, o meu irmão gosta muito e está por dentro da função de criar gado, plantar eucalipto”, conta Ernando ao UOL Esporte. “Ter um lugar para descansar e levar minha filha para curtir o campo, essas coisas”, completa.

O estilo zen que ajuda no campo, evitando faltas e cartões, brigas e confusões, não ajudou muito logo quando se mudou para Porto Alegre. Sorte que o ídolo secreto e Índio, o zagueiro multicampeão, ajudaram.

“Eu sou contido, reservado, tenho dificuldade de fazer novas amizades. Em termos de adaptação (ao Inter) esse foi um fator negativo, mas estou muito feliz aqui”, aponta. “Mas fui muito bem recebido pelo D’Alessandro, Fabrício. O Índio me ajudou muito também”, acrescenta.

Confira a entrevista completa

UOL Esporte: Você já se sente em casa no Inter depois de tanto tempo no Goiás?

Ernando: Rapaz, foi difícil no começo a adaptação. Até entrosamento com os colegas. Eu era acostumado a receber os novatos e vivi o outro lado, mas fui bem recebido por D’Alessandro, Fabrício... Estou gostando, mas a cobrança é maior aqui, o clube está acostumado a conquistar títulos. Mas me sinto bem, muito feliz. Tenho mais três anos de contrato e espero ficar até o final, conquistando títulos.

Dos reforços contratados no final do ano passado você e o Aránguiz são os mais regulares. Dida virou reserva, Paulão também. Você se vê assim também, um zagueiro regular?

Basicamente é isso, o Aránguiz se destacou bastante e é um jogador de seleção, mas da minha parte é sempre isso. Nunca fui atleta de ganhar nota nove, mas sempre um atleta regular. Comecei na reserva, depois consegui a vaga de titular. Sofri um corte no supercilio contra o Atlético-PR e fiquei fora, mas voltei pouco depois. Foram altos e baixos, mas dentre os zagueiros tenho o maior número de jogos e sou um atleta regular.

Geralmente o jogador é igual no campo como é fora dele. Além de ser regular, você é um zagueirão zen?

Ernando: Cara, sou bem tranquilão mesmo. Em termos de adaptação esse foi um fator negativo, tenho dificuldade de fazer novas amizades, não sou de conversar muito. Outros jogadores chegam e começam a brincar, a falar com todo mundo. Cito o exemplo do Paulão, ele conversa muito. Eu sou contido, reservado. Não é por ter saído do Goiás que vou assumir outra forma de ser, sou na minha mesmo. Tem o lado positivo e lado negativo. O positivo é que você não tumultua o ambiente, não fica falando mal de ninguém. E negativo é só no aspecto de fazer mais amizades, mas dá para melhorar. Sou bem na minha, minha esposa é evangélica e a gente não sai para festas. Vamos a restaurantes, cinema a gente gosta muito e frequenta direto. Com a nova integrante da família vamos ficar ainda mais em casa. Fui a Gramado, Canela, mas a minha logística noturna é pequena. Mais em shopping e cinema.

UOL Esporte: Você nasceu em Formosa (interrompe pergunta)

Ernando: O pessoal da minha cidade fica até chateado. Eu sai de Flores de Goiás para nascer e ser registrado, depois voltei para lá. Até falei para o pessoal do Inter, no meu documento está Formosa, mas coloquem Flores de Goiás. Senão o pessoal lá vai incomodar. Não foi algo que eu escolhi, a cidade não tinha cartório e foi registrado em Formosa. Se for colocar algo aí, põe Flores de Goiás, tá?

O que disseram quando você apareceu Formosa pela primeira vez, depois de surgir o nome de Formosa no registro?

Primeira coisa foi dizerem que eu esqueci as raízes, a minha família entende, mas os amigos não. Não tem como eu mudar mais a identidade, mas tenho orgulho de lá. Tem uns 10 mil habitantes e todas as férias eu passo uma semana fora e depois vou para lá, agora vou direto até pela minha esposa e a filha.

UOL Esporte: Lá em Goiás tem muita gente com fazenda. Você já tem a sua?

Ernando: Fazenda não, eu comprei neste ano 18 alqueires. Meu vô faleceu e minha vó queria vender, já conhecia essas terras, meu pai quando vivo trabalhava lá nesta fazenda. Me interessei e pretendo fazer algo lá, criar gado, talvez. Estou começando, o meu irmão gosta muito e está por dentro da função de criar gado, plantar eucalipto. Vamos ver que método adotar lá.

Quando parar de jogar, então, vira fazendeiro?

Fazendeiro não sei ainda, mas ter um lugar para descansar e levar minha filha para curtir o campo, essas coisas. Eu pretendo morar em Goiânia depois, mas ir sempre para Flores de Goiás. Até por causa da minha filha, que vai ter que escutar e tudo e em Goiânia é melhor.

Que tipo de jogador você pegou para ser modelo na sua carreira? Não só no campo, mas também fora dele.

Eu dei uma entrevista em 2010 e nunca falei para ele mesmo, mas sempre me espelhei no Juan. Ele saiu do Flamengo muito novo, mas sempre foi técnico e com velocidade. Com carrinhos precisos e calado, quase nunca dando entrevista.

UOL Esporte: Você nunca falou porque?

Ernando: Não sei, rapaz. Acho que por timidez mesmo, a gente se fala direto. Quando minha filha nasceu nos falamos e ele me ajudou, deu conselhos.

Vou botar na matéria, se quiser mostrar para ele e puxar esse assunto...

Pode colocar, não tem problema. Sobre falar para ele vamos ver depois (risos).