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8 detalhes médicos que te ajudarão a entender o caso de Pelé

Felipe Pereira e Vinícius Segalla

Do UOL, em São Paulo

29/11/2014 06h00

Pelé está internado desde a última segunda-feira, mas uma piora no quadro do Rei do Futebol na última quinta disparou um certo alarmismo. Afinal, qual é a situação real do jogador, que riscos ele corre e como está sua evolução.

Entre boletins médicos, termos técnicos e informações de bastidores, o UOL Esporte conversou com especialistas em urologia e nefrologia para tentar responder às principais questões sobre o assunto.

Confira abaixo os oito detalhes médicos que te ajudarão a entender o caso Pelé:

1 – Como se trata uma infecção?
Não há uma receita comum, mas em casos como os de Pelé os especialistas recomendam o uso de antibióticos. A reação a cada tipo de antibiótico varia de acordo com o paciente, mas é comum que se faça uma cultura de urina para ter mais precisão na escolha.

Na prática, isso significa observar a urina do paciente de 12 a 24 horas para identificar qual é a bactéria presente no organismo do paciente. Daí em diante, os médicos escolhem o antibiótico considerado adequado e aguardam a reação do paciente em até 48 horas. A resposta rápida é fundamental, especialmente no caso de pessoas idosas, como Pelé.

“Você entra com o antibiótico e espera o paciente responder. Se não responder bem, aí você reforça ou troca o antibiótico”, disse Daniel Rinaldi dos Santos, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia.

Por isso, a notícia do último boletim, do início da tarde de sexta, foi comemorada. Nele, o hospital Albert Einstein indicou que a bactéria identificada em Pelé está sensível aos medicamentos, ou seja, os antibióticos estão fazendo efeito no combate à infecção.

2 – Como surge uma infecção dessas?
Pelé fez uma cirurgia para retirada de cálculos renais há duas semanas, o que pode ajudar a explicar o surgimento da infecção.

“Quando você não consegue esvaziar toda a urina, o sistema do rim fica sujeito a obstruções. O cálculo] é colonizado por bactérias que podem atingir a corrente sanguínea. Quando a cirurgia de retirada da pedra é feita são dados antibióticos para combater essas bactérias, mas as vezes eles não são eficazes”, disse Aguinaldo Nardi, diretor da Sociedade Brasileira de Urologia.

3 – Estar na UTI significa que o quadro é delicado?
Não necessariamente. Pelé foi transferido para a UTI para fazer um tipo de hemodiálise, que é a filtragem artificial do sangue. Segundo os especialistas, recomenda-se que procedimentos delicados como esse sejam feitos sob maior cuidado, o que poderia explicar a ida de Pelé para a terapia intensiva.

“Quando o paciente já tem um problema renal crônico, é comum que ele faça a hemodiálise no quarto do hospital ou em clínicas. Em casos mais agudos, você precisa de uma terapia intensiva, porque é um quadro mais grave, delicado”, disse Daniel Rinaldi dos Santos, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia.

4 -O Pelé tem apenas um rim. Isto pode prejudicar?
Pode. Em uma situação normal, ter apenas um rim é perfeitamente possível. O próprio Pelé conviveu bem com essa condição durante décadas, já que teria feita a operação de retirada ainda nos tempos de jogador, nos anos 1970.

Segundo os especialistas consultados pelo UOL Esporte, ter apenas um rim não é um fator de risco para se ter cálculo. Uma vez que se tenha, porém, o corpo fica sem um “estepe”, como explica Aguinaldo Nardi, diretor da Sociedade Brasileira de Urologia.

Quando há um cálculo ou uma infecção, não há um outro rim para dividir as funções, o que torna o corpo mais vulnerável. Ter apenas um rim, segundo Daniel Rinaldi dos Santos, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia, é um “agravante” para quem tem problemas renais.

5 – O que é sepse?
“Sepsemia é o termo médico que significa que uma infecção passou para vários órgãos. No trato urinário, qualquer obstáculo pode levar a bactéria a atingir a corrente sanguínea e se alojar em outros órgãos”, explicou Aguinaldo Nardi, diretor da Sociedade Brasileira de Urologia

Pelé apresentou um quadro de princípio de sepse no início da noite da última quinta, em decorrência de uma infecção renal. Segundo o UOL Esporte apurou, os médicos bloquearam o avanço das bactérias com tratamento medicamentoso e afastaram a hipótese na sexta.

6 – Por que a sepse seria um problema grave?
A sepse é uma infecção generalizada. Segundo os especialistas, a bactéria que mais causa esse tipo de problema se chama Escherichia Coli. Ela se espalha pelo organismo e libera uma proteína que destrói células e é resistente a antibióticos tradicionais.

Idade avançada e enfraquecimento do sistema imunológico são fatores que só agravam a situação. Pelé tem 74 anos e passou por uma cirurgia de retirada de cálculos renais há duas semanas. Também por isso a ameaça de sepse causou tanto alarme.

7 – Há risco de morte?
Sim, especialmente em caso de sepse. No quadro atual, Pelé precisa seguir reagindo de forma satisfatória aos medicamentos que lhe são ministrados. Se a bactéria se alastrar pelo organismo, o caso pode se agravar.

“Pode ir a óbito rápido”, disse Aguinaldo Nardi, diretor da Sociedade Brasileira de Urologia, para explicar melhor o que acontece. “[A bactéria] pode atingir qualquer órgão, mas o mais perigoso é ela se alojar no pulmão porque ele é cheio de alvéolos, sensível e difícil de tratar”, completou.

8 – Há risco de algum tipo de sequela?
Há, mas não é algo comum. “Geralmente não fica, depende do grau da lesão. Como tem um rim só, a chance de perder células existe. Mas é pequena a possibilidade de ter sequela, não é o normal”, disse Nardi.

O risco é de que o processo lesione o órgão e faça com que ele perca capacidade. Não há, no entanto, risco de que a mesma bactéria volte. Segundo os especialistas, uma vez curado da infecção, o paciente deve voltar à vida normal