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Títulos ou gols, individual ou coletivo... O que pesa mais na Bola de Ouro?

Do UOL, em São Paulo

30/11/2014 06h00

Cristiano Ronaldo ganhou a Liga dos Campeões, Lionel Messi segue empilhando recordes e os alemães levaram a Copa do Mundo. O que vale mais? Na acirrada briga pela Bola de Ouro, o UOL Esporte mostra quais são os argumentos para os principais candidatos ao prêmio de melhor do mundo em 2014 e o que costuma pesar na disputa.

Primeiro, nunca é demais explicar quem decide a eleição. Votam no prêmio os capitães e técnicos de cada uma das seleções filiadas à Fifa, além de um profissional de mídia de cada um desses países – todos com o mesmo peso.

Os votantes escolhem os três melhores. O primeiro recebe cinco pontos, o segundo três e o terceiro um. A Fifa soma tudo e, com base nisso, elege o melhor jogador do mundo. Mas qual o critério para essa escolha? O regulamento da Bola de Ouro é meio vago, como se pode ver a seguir:

Bola de Ouro

  • Os prêmios são concedidos de acordo com a performance em campo e o comportamento dentro e fora dos gramados

    Regulamento da Bola de Ouro, com o único critério imposto pela Fifa para que os votantes escolham seus favoritos ao prêmio

Fora o aviso de que se comportar é importante, a Fifa dá poucas dicas do que espera de um bom Bola de Ouro, o que faz com que as perguntas lá do começo sigam vivas: O que importa mais? Ganhar títulos ou se destacar individualmente?

O que os atuais concorrentes oferecem?
Cristiano Ronaldo e Lionel Messi são, de novo favoritos à Bola de Ouro. Desde 2007, pelo menos um dos dois está entre os finalistas, e de 2008 em diante o troféu sempre ficou entre eles, somando assim seis anos de domínio.

O português, atual dono da coroa, está respaldado pela Liga dos Campeões que ganhou em maio com o Real, além de ser o jogador mais elogiado do momento. Messi já viveu momentos melhores, é verdade, mas na última semana roubou para si recordes relevantes: tornou-se, em um intervalo de dias, o maior goleador da história do Espanhol e da Liga dos Campeões. Ambos têm, portanto, credenciais de sobra para abocanhar de novo a Bola de Ouro, certo?

Há quem discorde, e não são poucos. Nesta semana mesmo, Michel Platini criou um rebuliço ao defender que um alemão deveria levantar o prêmio pela conquista da Copa do Mundo. Quem defende essa tese prega que o futebol coletivo da seleção que ganhou o título mais importante do ano deve ser premiado, ainda que os germânicos não tenham um virtuose entre os seus.

Dos campeões do Maracanã, estão na lista de indicados Neuer, Schweinsteiger, Lahm, Götze, Kroos e Muller. De todos, o mais cotado é o goleiro Neuer, justamente por se destacar individualmente com suas saídas de gols e sua habilidade inusitada com os pés. Os azarões na disputa são destaques da Copa como James e Neymar e protagonistas da última temporada europeia como Diego Costa e Bale. Veja todos os que ainda estão na briga no álbum abaixo:

Cada uma das opções possíveis carrega uma filosofia consigo. Quem tem o poder do voto pode escolher entre o conjunto e individualidade, plasticidade e eficiência, drible e gol ou até defesa e ataque. Qual dessas filosofias costuma triunfar?

Como foi nos últimos anos?
Em geral, a eleição premia uma mistura entre individualidade e conquista. Desde que o prêmio de melhor do mundo da Fifa se fundiu com a Bola de Ouro da revista France Football, em três das cinco edições o vencedor não havia ganhado nem a Liga dos Campeões nem o principal campeonato de seleções da temporada, como você pode ver a seguir:

- 2010: Lionel Messi parou na semi da Liga com o Barcelona e nas quartas da Copa da África com a Argentina, mas ainda assim bateu Xavi e Iniesta, campeões mundiais com a Espanha, na decisão. Sneijder, que levou a inter de Milão e a Holanda às finais dos dois torneios mais importantes, sequer entrou na final.

- 2012: Messi voltou a se sobressair em um ano sem títulos. O Barcelona de 2012 parou nas semifinais da Liga contra o Chelsea e perdeu do Uruguai nas quartas da Copa América, em casa. Pesou a favor do argentino o recorde histórico de gols em um ano (91) e o estilo dos concorrentes.

Os melhores times de 2012 foram o Chelsea, recheado de veteranos que nem entraram no top 3 da temporada, e a Espanha, que ganhou a Eurocopa mas só beliscou um terceiro lugar no prêmio para Iniesta – Cristiano Ronaldo foi o segundo.

- 2013: O ano foi dominado pelos times alemães, que atropelaram Real Madrid e Barcelona e fizeram a final da Liga dos Campeões. Bayern de Munique e Borussia Dortmund sobraram entre os clubes e já davam sinais do que poderia acontecer no ano seguinte, na Copa do Mundo.

Ainda assim, o máximo que conseguiram na Bola de Ouro foi o terceiro lugar de Ribery. Cristiano Ronaldo, que havia passado o ano em branco pelo Real Madrid, levou a Bola de Ouro, com Messi em segundo. Em que pese o nível de excelência individual que apresentou em todo o ano, o português só foi decisivo por sua seleção, na repescagem para a Copa do Mundo de 2014. Foi o bastante.

As coisas podem mudar?
Essa pergunta só será respondida em janeiro, na festa anual de gala da Fifa, mas há quem defenda uma alteração de rumo. A própria entidade, por meio de seu presidente Joseph Blatter, dá sinais nesse sentido.

Mourinho mostra língua antes do jogo do Chelsea na Liga dos Campeões - TOBIAS SCHWARZ / AFP - TOBIAS SCHWARZ / AFP
"Esse tipo de troféu não é bom pro futebol. Parece que estamos procurando por estrelas"
Imagem: TOBIAS SCHWARZ / AFP

Em outubro, o presidente da Fifa disse que foi erro dar a Lionel Messi o prêmio de melhor da Copa do Mundo no Brasil. Embora tenha levado a Argentina até a decisão, o camisa 10 do Barcelona não brilhou na fase final, e sua escolha foi creditada à popularidade, já que seus possíveis rivais eram, como sempre, jogadores com perfil mais coletivo.

Desde então, diversos nomes relevantes do esporte se levantaram em favor dos alemães. Além do já citado Michel Platini, o volante Xabi Alonso, o ex-goleiro Oliver Kahn e os técnicos Vicente Del Bosque e José Mourinho já defenderam abertamente que a Bola de Ouro pode premiar um jogador de perfil mais coletivo que individualista.

Esse, porém, é só um lado da guerra midiática pelos votos que, diga-se, a essa altura já foram computados. A partir da próxima segunda, quando a Fifa divulgará os três finalistas, será possível ter uma ideia se o perfil da votação mudou ou não.