Sucessor de Kalil inaugura novo estilo e terá missão dura no Atlético-MG
Eleito na quarta-feira em votação na sede de Lourdes, Daniel Nepomuceno chega à presidência do Atlético-MG com perfil bem diferente do antecessor Alexandre Kalil. Mais calmo, mas com menos experiência, o dirigente de família tradicional no clube terá responsabilidade grande para manter o alvinegro mineiro no caminho dos títulos.
Daniel ainda é pouco conhecido do torcedor do Atlético. Vice-presidente na chapa de Kalil por seis anos, o dirigente apareceu pouco no dia a dia do futebol, sempre ficou ligado a questões administrativas e principalmente políticas do clube. Agora, terá a missão de estar presente sempre na Cidade do Galo e ajudar a comandar o futebol.
Apesar de novo, 36 anos, que o torna o segundo presidente eleito mais novo da história do Atlético, Nepomuceno tem ligação e participação antiga no clube. Daniel é filho José Nepomuceno, juiz e desembargador que faleceu em 2011, mas que trabalhou por muitos anos na vida política do clube, presidindo o Conselho Fiscal.
No Atlético, Daniel Nepomuceno trabalhou como diretor dos clubes de lazer aos 20 anos e nove anos depois assumiu a vice-presidência do Atlético, por indicação de Alexandre Kalil, aliado de José Nepomuceno. No clube, iniciou acompanhando as categorias de base, que sempre despertou interesse de seu pai.
Formado em direito e ciências políticas, tem também ligação política. É vereador reeleito em Belo Horizonte e vice-presidente municipal do PSB. Natural de Belo Horizonte, é casado com Isabela e tem dois filhos, Francisco, de um ano, Tomáz, de três.
“É um pai maravilhoso, um ótimo marido, que divide bem o tempo dele com o Atlético e com a família. Agora, a gente vai ter de entender e aceitar que o tempo ficará ainda mais curto. Mas tudo para o bem do Atlético”, disse Isabela Nepomuceno, esposa do dirigente.
O presidente terá a difícil missão de suceder Alexandre Kalil, que deixa a presidência do Atlético com o título de maior dirigente da história do clube por recolocar o clube no caminho de títulos expressivos. Daniel Nepomuceno tem perfil bem diferente do controverso mandatário. Mais calmo, adota o estilo político nas entrevistas, evita entrar em polêmica e sempre fala com um tom de voz mais tranquilo.
Internamente no Atlético, é conhecido como pacificador e exaltado pela seriedade no trabalho. Mas Daniel garante que, se for preciso, falará mais alto que o antecessor. “O Kalil é uma figura única, quem tem oportunidade de ficar ao lado dele sabe como é impossível ter personalidade parecida. Eu sou, além de amigo, fã dele, temos personalidade distinta, mas com mesmo objetivo, tenho de ter a sabedoria de saber trabalhar como ele me ensinou”, observou.
Apesar da diferença de personalidade, o novo presidente se compara a Alexandre Kalil em ao menos na semelhança de discurso. “Não conheço ninguém que não vive o Atlético que não seja torcedor. A gente é assim, o torcedor de levantar a faixa é diferente do dirigente, que depois que ganha o título, no dia seguinte, tem de estar de pé, pensando o que vai fazer”, ressaltou Daniel.
Missão difícil pela frente
Daniel assume o Atlético com duras missões administrativas pela frente. A principal, conseguir acertar de vez a situação financeira do clube, que foi o grande problema ao longo de 2014. O dirigente terá o desafio de não atrasar salários e premiações no próximo ano e conseguir quitar os vencimentos pendentes ainda desta temporada.
O dirigente já encontra o primeiro grande problema pela frente. Na segunda-feira, o juiz federal da 26ª Vara Federal, André Gonçalves de Oliveira Salce, indeferiu o acordo do Atlético com a União Federal, em relação a dívidas tributárias do clube, que já havia sido publicado, no dia 20 de outubro, no Diário Oficial da União.
O Atlético havia fechado acordo com a União para pagar R$ 864 mil mensais durante 15 anos, além de uma entrada de 20% sobre o montante da dívida, que é estimada em R$ 184 milhões. Houve um desconto de R$ 80 milhões. O clube, agora, terá de recorrer da sentença e tentar um novo acordo.
Sem acerto com a Fazenda Nacional, o clube convive com bloqueio das suas principais rendas, além de enfrentar cobranças das dívidas fiscais. A tentativa de dar fim ao impasse com o governo já se estendeu durante todo 2014 e é apontado como o grande culpado para o clube não conseguir sanear as suas dívidas e deixar as contas em dia.
A dificuldade em sanear o clube refletirá também no orçamento destinado para 2015. Daniel precisará encontrar parceiros que possam ajudar o Atlético na busca de reforços para o futebol, que teve apenas R$ 2,5 milhões destinado a contratações, valor bem menor em relação as contas de 2014. A saída, poderá ser negociar algum atleta.
“A princípio, colocamos R$ 25 milhões em venda de direitos econômicos. Mas, lógico que, se o Atlético vender mais, a tendência é aumentar a verba para contratações, porque o time não pode ficar ruim”, explicou Carlos Fabel, diretor financeiro do Atlético, que faz parte da chapa administrativa de Daniel Nepomuceno.
O atacante Diego Tardelli poderá ser o atleta que aliviará a conta atleticana. Apesar de Nepomuceno dizer que não deseja vender o camisa nove, terá de conviver com o assédio sobre o jogador. O atacante tem propostas do Shandong Luneng da China, atual time do ex-treinador alvinegro, Cuca, e poderá deixar o clube.
Ainda no cenário administrativo, mas mais ligado ao futebol, o novo presidente terá a missão de renegociar contratos que estão com vencimento agendado para o final do ano. O preparador físico Carlinhos Neves, o treinador de goleiros Chiquinho e o diretor de futebol, Eduardo Maluf, estão na pauta para renovar os vínculos.
Maluf é quem está mais próximo de acertar a sua permanência no clube, pelo quinto ano seguido. O dirigente faz parte da chapa administrativa de Daniel e já iniciou conversa. Ao mesmo tempo, o presidente iniciará, nos próximos dias, a busca por reforços e possíveis novas negociações de contratos de atletas do elenco. A intenção é fechar o grupo para 2015 antes do inicio da pré-temporada, já no começo de janeiro.
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