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Candidato do Santos visa dividir Vila por sobrevivência e quer midiáticos

Samir Carvalho

Do UOL, em Santos (SP)

05/12/2014 06h00

O candidato a presidência do Santos, José Carlos Peres, 66 anos, traz como “carro-chefe” no seu currículo o fato de comandar o G4, empresa que negocia contratos publicitários para os quatro grandes clubes de São Paulo. Peres fez parte, mesmo que indiretamente, das duas últimas gestões do clube – presididas por Marcelo Teixeira e Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro.

Peres opta por um discurso diferente dos seus concorrentes. Ele evita polêmicas e promete até separar três vagas no Comitê Gestor para os outros candidatos à presidência do Santos nas eleições deste sábado, que ocorrem na Vila Belmiro e na Federação Paulista de Futebol.

Em entrevista ao UOL Esporte, José Carlos Peres prometeu fortalecer a tese de que o Santos não é apenas da cidade de Santos e, por isso, promete dividir ainda mais a Vila Belmiro com outras praças de jogos. O candidato também cita parceiros para contratar, no mínimo, dois atletas midiáticos para reforçar o elenco.

Confira na íntegra a entrevista de José Carlos Peres:

UOL Esporte: O clube está sem dinheiro e já adiantou as cotas de 2015. Você pretende adiantar as cotas de 2016 ou já tem parceiros que colocaram dinheiro no clube. Se tiver, quais?
Peres
: Preparei-me para isso. Quero, posso e devo ser presidente para implantar as propostas da Ong Santos Vivo, democratizando e modernizando a gestão do Santos. Fui escolhido pelos meus apoiadores pela minha trajetória no futebol. Estou preparado para gerir o clube nesse momento particularmente difícil pelo qual o clube passa.

UOL Esporte: Leandro Damião. Pretende negociá-lo. Pretende revelar detalhes do contrato. O que fazer com esse jogador?
Peres:
Leandro Damião é patrimônio do clube. É uma irresponsabilidade depreciar o patrimônio do clube, independentemente do acerto ou do equívoco na sua contratação. Quando assumirmos, estudaremos com carinho sua situação, preservando-o totalmente da questão contratual. Uma coisa foi a transação: o atleta não tem nenhuma culpa disso. Outra coisa é o seu desempenho: faremos o máximo para que ele se sinta à vontade para jogar o que sabe. Somente com o atleta plenamente recuperado, até psicologicamente, teremos possibilidade de usufruir do seu futebol, ou negociá-lo. Tratá-lo como mercadoria, sem antes conhecer as razões para seu rendimento atual, chega a ser cruel.

UOL Esporte: Comitê Gestor? Manterá ou quer reformar o estatuto?
Peres
: Nossa proposta é de extinção do Comitê Gestor. Um clube de futebol não pode ter nove presidentes e não pode ficar refém de decisões atrasadas. Futebol exige dinamismo. Proporemos aos associados à extinção do Comitê, tal como estabelecido nos Estatutos. Independentemente disso, já que teremos que nomeá-lo por disposição estatutária, formaremos um Comitê com funções de Conselho de Administração, que será responsável pelo planejamento estratégico e financeiro do clube. Esse Conselho ajudará o presidente a traçar os caminhos para o clube, mas não terá ingerência alguma nas decisões executivas do clube, especialmente no futebol.
 
UOL Esporte: Você fez parte do G4. Favorece o clube em alguma coisa?
Peres:
O G4 foi uma ideia que consegui vender aos quatro grandes clubes paulistas. Uma união de interesses que beneficia a todos. No G4 todos os clubes são absolutamente iguais em verbas, em patrocínios e em partilhas de resultados. De certa forma, posso dizer que foi um grande ganho para o Santos FC, pois antes de seu surgimento o clube era o que tinha menores verbas de patrocínios e de cotas de FPF e televisão. Quando negocio um contrato através do G4, todos os clubes recebem rigorosamente a mesma coisa. Um ganho para o Santos FC.

UOL Esporte: Vila Belmiro, jogos no Pacaembu, em outras praças. Você tem preferência ou é caso de agradar a todos?
Peres:
Ninguém nega a origem do clube, mas o Santos FC é dos santistas. Se pensarmos como alguns concorrentes pensam, que o Santos deve mandar seus jogos somente na Vila Belmiro, em pouco tempo perderemos parte substancial de receitas vindas das rendas dos jogos. O Santos jogará na Vila Belmiro, no Pacaembu e em todos os lugares que nos traga receitas. Não se trata de agradar alguém... A questão é de sobrevivência.

UOL Esporte: Tem projetos específicos para a Vila e Centro de Treinamentos?
Peres:
A Vila Belmiro é nosso templo sagrado, mas precisa de reformas, inclusive para abrigar o seu centenário, em 2016. Os cts também precisam de reformas, de alocação de alojamentos, departamentos, etc. Incrível como essa atual gestão Laor/Odílio não acresceu nada em termos patrimoniais ao clube, dispondo de receitas gigantescas pela venda de inúmeros atletas ao longo desses cinco anos de mandato.
 
UOL Esporte: Comissão técnica, Enderson, Zinho... Eles iniciam o ano ou você tem outros nomes?
Peres:
Vamos avaliar com calma e critério. Não conhecemos os detalhes dos contratos, não ouvimos essas pessoas, não sabemos se tiveram condições de desenvolver todo o seu potencial. Acredito que é uma temeridade dizer qualquer coisa a respeito de empregados contratados, antes de eleito. Não farei isso. Ali existem profissionais que devem ser respeitados e ouvidos. Depois disso, e depois de montar os departamentos, especialmente o de futebol, poderemos avaliar com segurança quais serão nossos próximos passos.
 
UOL Esporte: Marketing e sócios. O que fazer para aumentar receitas e número de sócios? Como encontrar um patrocinador máster?

Peres: Não é preciso ser nenhum expert no assunto para saber que o marketing do clube é praticamente inexistente. Nossa ênfase no marketing será no sentido de criar propriedades para atrair patrocinadores que queiram agregar sua marca a marca Santos FC. Para isso, temos que ter um ambiente favorável, de credibilidade e de respeito a contratos, com dívidas equacionadas, e com um projeto de curto, médio e longo prazo que dê ao investidor a segurança de que ele necessita para investir no clube.

Peres: No tocante aos sócios, nosso projeto prevê uma forte política de valorização do torcedor e do sócio, entendendo-o não como parte do problema, mas como parte da solução. Ele só entenderá isso se encontrar um clube estável, responsável nos gastos e que o trate com o respeito que merece, quer seja nos jogos, quer seja no relacionamento do dia a dia. Pretendemos implantar uma nova filosofia de relacionamento com o sócio, que contempla respeito, hospitalidade e benefícios. Ser sócio do clube deve ser algo relevante para nosso torcedor. E se assim é, isso deve ser tratado como prioridade.

UOL Esporte: Robinho? Promete fazer de tudo para mantê-lo no clube. É prioridade ou não fará loucuras nem nesse caso?
Peres:
Robinho é um atleta notável, com plena identificação com o clube e com os torcedores. Prometo sim, fazer de tudo não somente para mantê-lo por uma temporada, mas para que se aposente no Santos FC. Por ser um jogador midiático, procuraremos as parcerias que viabilizem essa situação.
 
UOL Esporte: Outras modalidades – Futebol feminino e futsal podem voltar?
Peres
: Sim. Podem não, voltarão. Em relação ao futsal, em todos os níveis, porque é do futsal que surgem os craques que poderemos aproveitar no futebol de base. Em relação ao futebol feminino, já estamos com projeto de sua implantação. Além disso, temos conversas bem avançadas relacionadas ao vôlei, outra tradição do Santos FC. De comum entre todas essas iniciativas em outros esportes, destaco que serão tratados como modalidades que não dependerão da receita do futebol. Cada uma delas terá receita e orçamento próprios, e as propriedades de marketing serão segregadas, para que se paguem inteiramente com os recursos que elas próprias arrecadarão.
 
UOL Esporte: Categorias de base correm risco? Não se vê nenhum nome promissor como sempre teve. O que houve?
Peres:
Na nossa gestão as categorias de base não correrão risco algum. Futebol, como sabem, é um processo. Os erros que se cometem num determinado estágio acabam refletindo lá na frente. Ainda a tempo de mudar a filosofia das categorias de base para que isso não reflita no futuro, no próprio time profissional. O jovem e o país devem entender o Santos FC como um clube formador. E se é um clube formador, a base sempre suprirá o elenco profissional. Trataremos dessa questão de forma absolutamente integrada, colocando todas as categorias sob a mesma direção central de futebol, integrando departamentos e promovendo as trocas de experiência.
 
UOL Esporte: Você disse que pretende convidar os candidatos para trabalhar na sua gestão. Por que não fez isso antes de registrar as chapas? Acha que dará certo após as acusações entre os candidatos em debates?
Peres: A minha candidatura está apoiada num projeto, e desse projeto não abrimos mão. É assim que nosso grupo se identifica com o eleitor. Defendemos propostas que nem todas as chapas defendem, e é natural que eventuais alianças não tenham saído justamente em função do projeto da Santos Vivo. Isso não significa que estamos certos e que os outros estão errados. É somente nossa forma de enxergar as soluções para o Santos. Caso eu seja eleito, conversarei com todas as forças políticas que formarem o Conselho Deliberativo, e convidarei aquelas pessoas que se afinem com o nosso projeto, que o subscrevam e que se disponham a trabalhar pelo bem do clube. Isso não significa chamar candidatos derrotados pelas urnas: significa juntar os melhores quadros de todas as forças que entraram no Conselho. Por essa razão, destinei três vagas no nosso Comitê Gestor para compor um governo de unificação. Mas é necessário que essas forças queiram participar e que aceitem o programa sufragado pelas urnas como o vencedor. Se esse ambiente de entendimento for alcançado, tenho certeza de que o clube ganhará em maturidade política e administrativa. Quanto às acusações, ainda não recebi nenhuma e creio que isso não interferirá no futuro do clube. Passadas as eleições, as chapas deixam de existir e só uma bandeira importa, que é a bandeira do Santos FC.
 
UOL Esporte: Fará contratações de peso? Jogadores de seleção e que estão na Europa. Ou optará pelo bom e barato?
Peres:
É cedo para prometer qualquer coisa nesse sentido, pois essa decisão virá de uma comissão técnica que formaremos imediatamente, caso eleitos. Mas posso te adiantar que acredito que o elenco ideal do clube, em tese, sempre deve ter um número razoável de atletas oriundos da base, alguns atletas contratados pontualmente, como negócios de ocasião, e ao menos um ou dois midiáticos, cujo investimento é feito por parceiros. Se isso vai ou não acontecer, depende de inúmeras variáveis, do diretor de futebol, do técnico e das condições financeiras que encontrarmos. De qualquer forma, seja em que circunstância for, teremos parceiros para reforçar o elenco e para buscar os títulos que o torcedor quer.