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Se futebol imitasse boxe, Brasil seria o campeão de 2014 com Escócia 'mito'

Felipe Noronha

Do UOL, em São Paulo

11/12/2014 06h00

Se uma pesquisa fosse feita com a população brasileira sobre qual seria a sonhada final da Copa do Mundo de 2014, dificilmente a opção "Brasil x Argentina" não venceria. Ela não aconteceu, como todos sabem, após o fatídico 7 a 1 da Alemanha sobre a seleção brasileira na semifinal. Isso é o que a maioria das pessoas acha. O que a mídia noticia. Mas há quem pense diferente. E que considere o Brasil campeão mundial em 2014.

Não da Copa do Mundo. Mas de outra maneira: imagine que o futebol fosse igual ao boxe em sua maneira de disputa. O campeão do mundo, dono do cinturão, é desafiado por outro candidato em uma luta - ou partida - só. Quem vencer é campeão. Em caso de empate, o título se mantém com o dono. Se esse sistema fosse o oficial da Fifa, a seleção brasileira seria dona do cinturão do futebol, com vitória sobre a Argentina. E há quem faça essas contas para que o título seja considerado, mesmo que de forma paralela ao troféu mais famoso do mundo.

O "Unofficial Football World Championships" (UFWC), ou "Campeonato Mundial Não-Oficial de Futebol", é um site comandado pelo jornalista britânico Paul Brown, que desde 2003 computa as disputas de título mundial de futebol pelo sistema do boxe. E o Brasil pode comemorar por um lado: se é penta pela Fifa, pelo sistema não-oficial é 33 vezes campeão do mundo. Por outro, a tristeza: não é o principal campeão, ficando em sexto, atrás de Escócia, Inglaterra, Argentina, Holanda e Rússia.

“As raízes do UFWC podem ser traçadas desde o primeiro jogo internacional de futebol em 1872, mas a fundação do UFWC, como organização, ocorreu em 2003, quando eu escrevi um artigo para a revista FourFourTwo”, contra Brown, o criador e mantenedor do site.

A primeira partida entre seleções na história do futebol foi disputada entre Inglaterra e Escócia, em 1872. O jogo terminou empatado em 0 a 0. Um ano depois, as equipes voltaram a duelar, e desta vez um campeão surgiu: a Inglaterra, que bateu os escoceses por 4 a 2.

Desde então, os escoceses, que não disputam uma Copa desde 1998, conquistaram o título mundial nesse sistema por incríveis 86 vezes, 13 a mais que a Inglaterra. 

Em 2014, a Alemanha acabou a Copa do Mundo com ambos os títulos, derrotando a Argentina nos dois sistemas. Perdeu para os mesmos argentinos depois, em amistoso, e a Argentina caiu para o Brasil em seguida, deixando o título, ao final de 2014, com a seleção de Dunga (com as vitórias em amistosos sobre Japão, Turquia e Áustria).

Mas por que essa ideia surgiu? Por que alguém conta isso? Como funciona?

“A ideia de um campeonato não oficial existe há algum tempo, pelo menos desde 1967. Nesse ano, depois de derrotar os então campeão do mundo ingleses (a Inglaterra venceu a Copa de 1966, em casa), torcedores escoceses afirmaram que a Escócia era a campeã não-oficial do mundo”, conta Brown.

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A compilação de resultados virou um livro, atualizado e relançado todo final de ano na Inglaterra. Nele, é possível encontrar dados de todos os 879 jogos que já decidiram títulos.
“Em 2003, nós da UFWC peneiramos todas as estatísticas, todos os argumentos, e colocamos juntos o recorde oficial da Campeonato Mundial Não-Oficial”, completa o jornalista.

Desta maneira, 48 seleções já foram "campeãs do mundo". A conta inclui seleções que jamais passaram perto de uma Copa, como Curaçao e Georgia, e outras que sempre que estiveram em um Mundial foram muito mal, como Bolívia e Angola. Tudo por conta de amistosos em que surpreenderam times que detinham o "cinturão'.

Brown, então, tem o trabalho de assistir a todos os jogos dos defensores do título. E ele assiste a todos contando com as tecnologias atuais, que permitem que pessoas no Brasil, por exemplo, tenham acesso a jogos no interior da África via internet. Lembrando que qualquer partida da seleção campeã conta como final, seja ela amistoso, Copa do Mundo ou torneio continental.

“É parte da diversão do UFWC assistir a todos os jogos do então campeão. E na televisão, a não ser que eu esteja viajando pelo mundo”, conta.

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O gol de Firmino na vitória sobre a Áustria garantiu que o UFWC acaba 2014 com o Brasil.

E foi por este trabalho que Brown veio a o Brasil em 2014, para a Copa. Contar campeões do mundo e ainda assistir a jogos de Copa parece o trabalho dos sonhos de qualquer jornalista. "É difícil medir quanto trabalho tenho, mas é muito!", brinca.

No site oficial, toda partida vira notícia como uma final de Copa. Consegue imaginar os portais e jornais de todo o mundo, a cada mês, lançando um especial sobre um novo campeão do mundo?

Para o Brasil, na nova "Era Dunga", ter um título mundial é positivo, não? Para tentar, em 2018, apagar o vexame de 2014, conseguir vencer os amistosos, competições e jogos das Eliminatórias que ocorrerão até lá é fundamental. Consequentemente, se o time se manter invicto, seguirá campeão não-oficial do mundo. 

O próximo passo é o jogo contra a França, no dia 26 de março, em Paris - primeiro amistoso marcado para 2014. Clima de final de Mundial e revanche por 1998?