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Gobbi deixa Corinthians 18 kg mais gordo e magoado por rusga com Tite

Dassler Marques

Do UOL, em São Paulo

12/12/2014 12h00

A sala do presidente Mário Gobbi no Parque São Jorge já não é mais a mesma. As imagens religiosas e os quadros com provérbios sumiram do local. Por enquanto, estão lá apenas ele e sua cadeira.

Aquele Gobbi cheio de sonhos que esteve naquela sala há quase três anos também não é mais o mesmo. Na reta final da gestão, o presidente corintiano que ganhou tudo em 2012 e sofreu com o caixa apertado em 2014 está preocupado com a saúde.

Nesta entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Gobbi conta que ganhou 18 kg entre o início da administração e o final de 2014. Problemas de saúde ficaram frequentes. Os cabelos, todos brancos. Mas o presidente garante que ficará firme até o fim.

Ficará firme para ver, por exemplo, o retorno de Tite ao comando do Corinthians. O processo de saída do treinador em 2013 afastou o presidente e ele. Na entrevista, Gobbi se esforça para não evidenciar a mágoa que ficou entre ambos. E revela que a cabeça do comandante ficou três vezes a prêmio. Na segunda dessas ocasiões, foi Tite quem quis ir embora. Mário Gobbi bateu o pé.

Leia a entrevista exclusiva na íntegra:

O time na gestão

Vejo uma gestão vitoriosa, com saldo positivo. Teve três anos e ganhou quatro títulos, sendo o inédito, da Libertadores, invicto, o Mundial lá fora invicto, e a Recopa, invicto. Foram três títulos que não tínhamos e ganhamos ainda um Paulista. Sabíamos que esse seria o ano mais difícil da gestão toda, e no ano mais difícil recolocamos na Libertadores. Peguei o time na Libertadores e estou devolvendo na Libertadores. Com padrão de jogo, esquema tático, time titular definido.

Base

A gestão voltou a revelar jogadores da base. Como exemplo cito o Tocantins e o Malcom. E também na reformulação que foi feita, jovens valores foram lançados no time de cima, como o Felipe, o Petros, etc. Nas categorias de base, o Corinthians ganhou títulos em todas as modalidades. Sub-11, sub-13, sub-15, sub-17...e na semana passada ganhou no sub-20, que não ganhava havia 17 anos. Isso nos mostra o sucesso feito nas categorias de base.

Legado

Deixo o clube com os contratos de TV, camisa, material esportivo, todos em andamento, assinados. Quer o patrocínio máster, quer a barra, quer a manga. Isso rende R$ 150 milhões por ano. Temos problemas de fluxo de caixa. Melhoramos o CT. Fizemos o CT da base, a grama estará plantada nos três campos nos próximos dias. Está cercado.

Autocrítica

Se você me perguntar por que mais não foi feito, ou por que mais êxito não se teve, digo que era para ser uma gestão muito tranquila e serena, mas em virtude do centro nervoso do Corinthians e do fogo amigo, tive problemas sérios aqui. É difícil você segurar o ímpeto do corintiano que vive aqui dentro. Isso prejudicou muito a minha gestão. Poderia ter feito muito mais. Tinha projetos administrativos maravilhosos para serem feitos. Só quem está aqui sabe o que sofri, o que lutei contra as forças que deveriam remar a favor e remaram contra. Isso é muito triste, mas é compreensível.

Dificuldades administrativas

O Luís Paulo (Rosenberg, vice-presidente) era meu braço direito aqui, cuidava das finanças e diretorias técnicas. Absorvemos também isso (afastamento) e, sempre que chamado, ele ajudou. Dentro do que foi possível e um pouco do impossível foi feito. Saio com minha consciência tranquila e o que prometi na campanha, até o modelo descentralizado de gestão, eu cumpri. Tem erros? Muitos erros. Longe de achar que não íamos errar.

NR.: Rosenberg manteve o cargo, mas se afastou do Corinthians após a conquista do Mundial em 2012.

Problemas de saúde

Eu não posso negar que estou com problemas de saúde, comecei a me tratar, os meus cabelos estão todos brancos, acho que isso é visível. Eu ganhei mais de 18 quilos na presidência. Mas isso foi porque eu quis, aceitei ser presidente, ônus que tenho que assumir e assumo. Estou respondendo porque você me perguntou da minha saúde. Está debilitada e preciso me tratar. É difícil viver três anos tendo que ganhar quarta e domingo. É desumano.

Sala vazia a 50 dias das eleições

Existe uma diferença entre o Mário e os outros que passaram por aqui. Todos que passaram são da iniciativa privada e eu sou do poder público, onde não tem lugar fixo para trabalhar. Quando você chega na repartição, precisa ver no Diário Oficial se ainda está naquele cargo. Vivo assim há 35 anos. Ser e deixar de ser é uma rotina qualquer na vida, como tomar um copo d'água ou atravessar a rua. A sala está preparada para o novo presidente. Tirei minhas coisas pessoais que não posso deixar aqui. Apenas quero dizer que não deixo de dar meu expediente todos os dias.

Visitas diárias à igreja

Eu continuo indo toda manhã à igreja, na mesma igreja. Hoje (quinta-feira) já estive lá. É meu compromisso número um e faço desde a campanha. Não peço vitórias, entrego minha vida na mão de Deus. Peço que ele dê sabedoria, humildade para a gente fazer sempre o que for melhor. Isso foi fundamental. Além das minhas orações, muita gente orou nesses três anos pela gestão. Muita gente. Posso assegurar. Foi uma corrente muito forte.

Dívidas

Solucionamos um problema crônico que tínhamos aqui, o não pagamento de impostos. Quero deixar claro que isso não é negligência ou falha. É que às vezes você tem que escolher a prioridade. Tínhamos um débito grande, foi equacionado, pagamos uma grande parte e isso dá estabilidade grande ao clube. A reforma estatutária eu não consegui que o conselho aprovasse.

Tirando o caso Pato, 15 milhões de euros, e os impostos pagos com atraso, um montante grande, não teve nenhum fato excepcional (nas finanças). O Pato custou R$ 40 milhões. Mas trouxemos porque queríamos que o Corinthians permanecesse na Libertadores e no Mundial. Trouxemos Pato, Gil e Renato Augusto. O Tite pediu. Isso realmente pesou, a economia mudou muito. (...) Tivemos mesmo (problemas) e perdemos receita importante, a renda que as partidas nos proporcionam (servem para pagar o estádio). O Corinthians tem problemas de fluxo de caixa que não fui eu quem trouxe.

Ironia sobre Mano

Me causou estranheza quando anunciamos que o Mano não ia ficar e vozes estranharam. O mundo pediu a cabeça do Mano, o clube pediu. Eu não tive um apoio, mas iria mantê-lo se continuasse como presidente. Eu recebi a torcida, exigiram que eu demitisse e eu disse que ele não sairia enquanto eu fosse presidente.

Quem escolheu Mano Menezes

Quem participou disto foi a diretoria de futebol. Cada um tinha seu nome. Mas prevaleceu a indicação minha, por ter trabalhado com ele, e sabia o trabalho que tinha que ser feito aqui no futebol. Sabia que ele era a pessoa mais talhada para conduzir. O final da história mostrou isso. Assumo sozinho que quem quis o Mano Menezes fui eu.

Renovação de Guerrero

As pessoas não sabem o que a diretoria faz no dia a dia e muita coisa não é para se falar sob pena de prejudicar o resultado. Desde 2013, o Corinthians conversa com Paolo para renovar. O Roberto apresentou contrato pronto para ele, nos termos que se avençaram as partes, mas ele na hora preferiu aguardar. É um trabalho ininterrupto da direção do Corinthians. Mas é um fato que não é unilateral, é bilateral.

Impasse para o novo contrato de Guerrero

Por motivos dele, que não nos interessam, ele trocou de procurador umas quatro vezes. O Corinthians propôs a ele algo palpável, não fechamos, é uma negociação complexa e que vai se arrastar. Queremos que ele fique, o Roberto (de Andrade) também, e faremos tudo para que ele fique. O limite é a possibilidade financeira do clube.

O fim da boa relação com Tite em 2013

Não (acabou mal). É...na verdade...eu acho que...assim...ninguém gosta de sair, né? Ele não saiu. Ele não teve o contrato renovado. Quando decidimos isso, disse que conversaríamos quando completássemos o número de pontos que não tivesse risco de rebaixamento. Esperei ele no CT e comuniquei que iniciaríamos um projeto novo. Que não era nada pessoal, em absoluto, porque tudo tem início, meio e fim. Estou saindo daqui (risos). Todo mundo sai.

Aqui não se tem cargo vitalício. Algumas pessoas que têm a ilusão de que daqui não saio e daqui ninguém me tira. Isso tudo é passageiro. A vida é passageira. Tem que saber a hora de sair para poder voltar. Cumpri com ele tudo que sempre falei, disse, e tudo que ele me pediu foi cumprido. Evidentemente, nem todos gostam de uma troca, ou está gostando daquele local e não quer sair. Não fui eu que decidi que não iríamos renovar. Foi toda uma diretoria.

Pedidos para demitir Tite no ano passado

Eu cansei de receber na minha sala visitas querendo até que demitissem ele no curso do campeonato, e quem segurou fui eu. No jogo do Botafogo, no Rio de Janeiro, teve um diretor que pediu para demití-lo. Quando perdeu para a Portuguesa (por 4 a 0), ele pediu para sair. E nesta vez, já tínhamos dito que ele ficaria até o final. Ele se reuniu com o grupo e comunicou que ficaria até o fim do contrato. Teve outro jogo, contra o Grêmio, pelo Brasileiro, que me ligaram de lá entendendo que era a hora de trocar de treinador. Teve pessoas ilustres que vieram na minha sala pedir a troca do treinador. Mas o que ficou no final da história foi que só eu quis a saída dele. Não posso responder pela personalidade de cada um.

NR.: Os jogos citados são Botafogo 1 x 0 Corinthians (em 11/09/13), Portuguesa 4 x 0 Corinthians (em 29/09/13) e Grêmio 1 x 0 Corinthians (em 16/10/13).

Andrés Sanchez pediu?

Essa pergunta você faça para o Andrés. Não vou falar em nome dele.

Relação com Andrés

A relação é muito boa, como sempre foi, com pontos divergentes. Sempre digo, a gente brinca sempre, que se debatem as ideias. Não tem algo pessoal. Nem tudo que você pensa, eu penso.