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Por que o SP decidiu investir milhões em um jogador criticado no Palmeiras?

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

12/12/2014 06h00

“No futebol, a partir de hoje, eu que mando”. Assim falou Ataíde Gil Guerreiro no dia 18 de abril 2014, data de sua apresentação como novo vice-presidente de futebol do São Paulo na gestão de Carlos Miguel Aidar. De fato, desde então, é ele que manda. Tem liberdade para tomar todas as decisões no futebol. Poderia ser chamado de presidente do futebol do clube não fosse uma única questão: a contratação do volante Wesley, do Palmeiras.

É o presidente Carlos Miguel Aidar que contrata Wesley. Aidar o considera um jogador interessante, versátil e viu na transferência uma chance de atingir o presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, com quem teve intenso atrito em abril, ao fazer o atacante Alan Kardec trocar de clube. Nobre chamou Aidar de sorrateiro e antiético, Aidar rebateu e disse que Nobre era patético e o Palmeiras, pequeno. Wesley estava prestes a entrar no prazo de seis meses para o fim de seu contrato, o que lhe daria permissão para negociar com outro clube e sair sem necessidade de indenização ao fim do vínculo, em 27 de fevereiro de 2015.

Nos últimos meses a diretoria do São Paulo declarou de forma repetida que não negociava com Wesley, na tentativa de proteger o acordo frente às notícias de contrato já assinado pelo volante. Agora, o tom muda ligeiramente. “Não digo que ele será jogador do São Paulo e nem que não será”, afirmou Aidar, na última quinta-feira, ao UOL Esporte. Não há mais negativa do presidente. Ataíde Gil Guerreiro, no entanto, resume apenas que não falará mais sobre o caso.

No São Paulo, o relato é que Ataíde Gil Guerreiro ainda tem total controle sobre o futebol, mas que teve de deixar a vontade de Aidar prevalecer pela primeira vez. E a vontade é contratar Wesley. Internamente, o vice de futebol tem conseguido comandar o trabalho da forma como prefere, à exceção do volante palmeirense. O próprio Ataíde usa o uruguaio Diego Lugano, que está sem clube, para explicar: “Muricy quer, o Carlos Miguel quer, a torcida quer. Só eu não quero”.

Wesley irá se transferir ao São Paulo sem custos, por tratar-se de um jogador livre de contrato em 27 de fevereiro de 2015, mas fará com que o clube gaste muito para mantê-lo durante o vínculo. Ele terá salários de R$ 350 mil por mês, valor que em um ano contabiliza R$ 4,2 milhões. Wesley terá também o quarto maior salário do elenco, abaixo apenas de Rogério Ceni, Luis Fabiano e Alexandre Pato.

Pelo desempenho que mostrou durante o último Brasileirão, a contratação de Wesley – nesses valores – não se justifica. Ele conseguiu perder a vaga de titular em diferentes momentos jogando na posição mais carente da equipe. Viu o jovem Renato, por exemplo, terminar o campeonato em alta. Acabou sendo alternativa para o setor ofensivo do meio de campo, mas também sem brilho.

Como volantes, o São Paulo tem Souza, Denilson, Maicon, Hudson e Rodrigo Caio como opções, e não precisaria de outro. Em termos técnicos, o que poderia justificar a chegada de Wesley é a versatilidade de poder atuar como meia ofensivo e até na lateral direita, posições para as quais a diretoria busca reforços. Ainda assim, Wesley é mais caro do que todos os concorrentes e teve desempenho inferior no último ano.

O São Paulo decidiu investir em Wesley porque viu a contratação como estratégica. Além de ser um nome que já agradou a Muricy Ramalho, era a oportunidade pronta para mostrar superioridade sobre um clube rival depois de atrito que virou pessoal entre Aidar e Nobre. O jogador chegará ao novo clube em meio a divergências internas em relação ao investimento, mas com apoio integral de seu novo presidente.