Topo

O dia em que Rivellino trocou o Corinthians pela Lusa. Ele deu até elástico

Vagner Magalhães

Do UOL, em São Paulo

16/12/2014 06h00

Um ano e meio depois de conquistar o tricampeonato mundial com a seleção brasileira, o atacante Roberto Rivellino fez um raro gol de perna direita após aplicar um elástico e deixar um defensor do Zeljznicar, da antiga Iugoslávia, sem ação. Pouca gente deve se recordar da cena. Rivellino estava no Canindé e vestia a camisa da Portuguesa.
 
O jogo fez parte de uma série de amistosos que a Portuguesa realizou em São Paulo para a inauguração do estádio Independência, o Canindé. Os jogos aconteceram em janeiro de 1972. Na estreia, o time perdeu do Benfica por 3 a 1, em 9 de janeiro. A segunda partida foi justamente contra o Zeljznicar, em que Rivellino atuou pela Lusa e marcou o golaço com a camisa do time, o segundo da vitória por 2 a 0. Depois de atuar por 40 minutos, deixou o campo sob aplausos.
 
O jornalista Orlando Duarte, amigo do então presidente da Lusa, Osvaldo Teixeira Duarte, e conselheiro do clube, foi um dos responsáveis para que a Portuguesa jogasse reforçada naquele domingo, 16 de janeiro.
 
"Ele (Teixeira Duarte) estava trazendo times fortes e eu falei para ele que fortalecesse a Portuguesa com jogadores famosos. Ele pensou no Rivellino e perguntou: será que ele joga?"
 
Orlando então conversou com o radialista José Italiano, muito próximo de Rivellino. E o jogador, que então atuava pelo Corinthians, aceitou o convite."As diretorias dos dois clubes entraram em acordo e Rivellino jogou", diz Duarte. "Nós tínhamos a intenção de chamar também o Carlos Alberto Torres, mas por um problema de agenda ele não pode comparecer", completou.
 
O zagueiro Marinho Peres, que atuou na Portuguesa entre 1967 e 1972, lembra da inauguração do estádio, que ele classificou como "fantástica". "Nós estávamos voltando de férias e fizemos vários jogos contra times estrangeiros. A Portuguesa, naquela época, era uma referência. Todo mundo queria jogar lá. Ao ponto de se convidar um Rivellino e ele ir", diz.
 
Peres se diz muito triste pelo atual momento do clube, que inclusive tem com uma das opções vender o estádio do Canindé para quitar suas dívidas e reestruturar as finanças. 
 
"Eu cheguei a morar no Canindé. Dormi debaixo das arquibancadas. Ali, havia muitos lagos. Eram muitos mosquitos. A gente jantava e se preparava para enfrentar os bichos", diverte-se.
 
Vital Vieira Curto, responsável pelo museu de Portuguesa, diz ter perdido as contas de quantos jogos do clube acompanhou em mais de 60 anos de Brasil. Lembra da alegria da inauguração do Canindé e da satisfação de ter Rivellino no time.
 
"A Portuguesa sempre teve grandes jogadores. Julinho Botelho, Ivair. Rivellino tinha acabado de ganhar uma Copa do Mundo. Havia uma mobilização muito grande da comunidade portuguesa, que contribuiu para a construção do estádio. Naquela época não tinha essa história de dinheiro público".