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Relembre a onda de festas que a Copa produziu no Brasil

Felipe Pereira

Do UOL, em São Paulo

18/12/2014 06h00

Praças lotadas, multidões de torcedores estrangeiros rodando o Brasil e uma alegria genuína em receber gente de outros países. A Copa do Mundo foi pra lá de divertida. O mais legal é que foi uma festa democrática com points consagrados. Até houve Fan Fest que bombou, mas os espaços da FIFA não igualaram os locais escolhidos pelo povo.

Compreensível. Um estrangeiro não economiza meses e viaja milhares de quilômetros para ficar numa festa pasteurizada sendo alvo de ações de marketing de patrocinadores de uma entidade com reputação duvidosa. Os torcedores queriam trocar experiências e, por que, não uns beijos com brasileiros e brasileiras. E ambos aconteceram em quantidade generosa.

A dinâmica nas 12 cidades-sede era quase a mesma. A data do jogo se aproximava e os estrangeiros começavam a aparecer. Na véspera da partida, parecia que tinha um bloco de carnaval nas ruas. Depois do confronto das seleções, os torcedores partiam e o intervalo dava tempo para os locais recuperarem o fôlego e repetir a festança. Confira abaixo como a Copa bombou algumas cidades-sede.

Rio de Janeiro

Mais fácil impossível, os estrangeiros escolheram a Praia de Copacabana como principal ponto para as festas na cidade brasileira mais conhecida internacionalmente. E fizeram muito bem. O local experimentou uma mistura de línguas como muita gente interessada em se divertir. O ápice foi na véspera da final e os donos do salão tiveram de assistir a uma festa de gente estranha e sotaque esquisito.

Os argentinos dominaram as areias de Copacabana e teve até barraca armada na areia. Não era o cenário dos sonhos dos cariocas ter 75 mil deles torcendo por Messi e companhia, mas ainda assim brasileiros entraram na onda e cantaram “Brasil decime qué se siente”.

São Paulo

A Vila Madalena se tornou o caminho natural para a concentração de torcedores brasileiros e estrangeiros. As ruas do bar boêmio ficaram entupidas de pessoas. Muitas delas nem entendiam direito de futebol, mas dominavam a arte de festejar e paquerar. Os gringos se esbaldaram.

Diante da situação, não foram poucos os brasileiros metendo um portunhol ou inglês "embromation" para se dar bem com a mulherada. Os bombados tentavam outras armas, tiravam a camisa para mostrar o resultado de anos de academia. A quantidade de pessoas foi matéria de jornais estrangeiros e faz todo o sentido porque parecia que as pessoas brotavam do chão.

Belo Horizonte

A cidade é exemplo da vontade de fazer festa que o Brasil experimentou nesta Copa. A seleção tomou vexatórios 7 a 1 por lá e milhares de torcedores não deram a mínima. Na Savassi, região de bares, não teve clima de velório que a surra levada poderia causar. As pessoas justificavam que a derrota era fato consumado e não havia por que ficar chorando. Se no estádio não foi divertido, que a coisa mudasse na noitada.

Os alemães diziam não acreditar no que estava acontecendo e aproveitavam para brindar com grupos de brasileiros, fosse com caipirinha, cerveja ou uma mistura de mel com cachaça. A atitude facilitou a mistura do “uai” com uma língua bem difícil de ser falada e no final muita gente se deu bem.

Cuiabá

Quem disse que apenas as mulheres brasileiras se deram bem na Copa? Em Cuiabá, teve grupo de russas distribuindo abraços. Não é difícil imaginar o efeito que isto causou. Mas os primeiros a fazer o clima de Copa se transformar em festa foram os australianos, sempre sorridentes, de bom humor e vestidos de amarelo.

A proximidade geográfica ajudou a trazer muitos colombianos que participaram até das peladas em uma rua junto à praça onde ocorria uma espécie de festa que lembrava as micaretas. Muita pegação rolou por aqueles lados. E também teve quem trouxe bebida de casa, algo com teor alcoólico zero por incrível que pareça. Para custear a viagem de carro, um grupo vendia café colombiano, considerado o melhor do mundo.

Salvador

Gringo dançando axé daquele jeito estranho é algo que acontece com certa frequência na Bahia. Mas a Copa elevou esta prática para níveis muito maiores. Claro que foi no Pelourinho e nem precisou de acarajé apimentado para eles terem vontade beber. Tomar uma cervejinha ou caipirinha parecia mais necessidade do que opção.

Os primeiros a se esbaldarem foram os holandeses. Justo, porque viram a seleção enfiar 5 a 1 na então favorita Espanha com direito a um golaço de Van Persie. E em Salvador, a Copa juntou com São João e foi preciso fôlego para aguentar o ritmo. Mas nem de longe dá para considerar isso um sacrifício.

Manaus

Enquanto o Brasil estava com o pé atrás, a cidade ansiava pelos jogos. Mas a coisa se desenrolou de um jeito maior que o imaginado. Não ter hotel suficiente era esperado, mas acabar as vagas em motéis e ter família hospedada em bordéis foi além do previsto. Deixa quieto, tudo é festa. E na hora de ela acontecer, as pessoas elegeram a praça em frente ao Teatro Amazonas. No começo, a polícia tentou liberar as ruas ao redor que ficaram tomadas de torcedores.

Por sorte, viram que os errados eram eles e logo tomaram a iniciativa de fechar o trânsito para o povo se divertir. Teve de tudo. Croatas dançando na chuva, americanos beijando muito, ingleses fantasiados bebendo como se não houvesse amanhã e furões. Não é porque não estavam na Copa que os torcedores de Venezuela, Peru e Bolívia não podiam participar da festa.