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Prefeitura diz que futuro do Pacaembu não passa por "banca de liquidação"

O secretário de Esportes, Celso Jatene, afirma que o Pacaembu não está em liquidação - Vagner Magalhães/UOL
O secretário de Esportes, Celso Jatene, afirma que o Pacaembu não está em liquidação Imagem: Vagner Magalhães/UOL

Vagner Magalhães

Do UOL, em São Paulo

24/12/2014 06h00

Na segunda quinzena de janeiro, o futuro do estádio municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, começará a ser delineado com a apresentação das exigências para os interessados em investir na modernização e posterior administração do estádio. Os investidores terão de cumprir uma série de exigências e a Prefeitura estima que sejam necessários até R$ 300 milhões para que um plano factível possa ser executado.

Com as recentes inaugurações do Itaquerão, do Corinthians, e do Allianz Parque, do Palmeiras, 2015 será um ano com poucos jogos no Pacaembu. Ainda assim, o secretário municipal de Esportes, Celso Jatene (PTB), afirma que a vida do estádio seguirá sem sobressaltos, com ou sem concessão pública. "Se alguém imaginava que a gente iria por o Pacaembu na banca de liquidação, agora tem certeza que está redondamente enganado", disse ele, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte
 
Jatene afirma que tanto ele como o prefeito Fernando Haddad (PT) estão curiosos sobre as eventuais ofertas que serão apresentadas. "Estamos curiosos para saber quem vem e de que jeito vem", diz ele.
 
Ex-integrante da torcida organizada Força Jovem, do Santos, e conselheiro efetivo do clube, Jatene é favorável que o time faça uso mais frequente do estádio. "Se o Santos perder esse momento da história, dificilmente vai conseguir achar outro. Qualquer estádio, para 30 mil pessoas, razoável, vai sair por R$ 500 milhões. Se perder esse momento - e eu acho que vai perder - dificilmente irá acontecer algo semelhante".
 
Caso sejam apresentados projetos dentro das exigências feitas pela Prefeitura de São Paulo, que incluem a preservação e restauração dos espaços tombados do estádio, o processo deverá ser concluído no segundo semestre. Após o chamamento público, os interessados deverão se manifestar em cerca de 30 dias. Depois disso, terão cinco meses para apresentarem os seus projetos. E a partir daí a Prefeitura anunciará o eventual vencedor.
 
Leia os principais trechos da entrevista com Celso Jatene:
 
UOL Esporte: Como será o processo de concessão do Pacaembu?
Celso Jatene: Nós devemos colocar na rua um chamamento público para a manifestação de interesse. Um chamamento cheio de exigências. Qual é o 
objetivo? É modernizarmos o Pacaembu. Deixarmos o Pacaembu em condições de disputar espaço com as grandes arenas do Estado e do país. Ele vem com detalhes de exigências. A restauração do espaço tombado do Pacaembu está dentro do edital, de forma bem clara. E alguns aspectos que são fundamentais. A primeira coisa: a proibição da mudança do nome. A proibição da mudança do apelido. A gente até prevê a possibilidade de um naming rights, desde que chame Pacaembu junto. Eu acho que qualquer parceiro que consiga viabilizar uma parceria no Pacaembu também não se livraria desse nome se fosse inteligente.
 
UOL Esporte: A área poliesportiva também entra?
Celso Jatene: Sim. A restauração de todo o espaço poliesportivo, a modernização dele, e a devolução para o poder público para fazer a gestão desse espaço poliesportivo, porque é de uso total da população da cidade e a gente não abre mão disso.
 
UOL Esporte: E quais as outras exigências?
Celso Jatene: A manutenção da tribuna do prefeito, porque continua se tratando de um espaço municipal, de um equipamento municipal. A manutenção do Museu do Futebol. Todos esses cuidados nós tomamos, mas tomamos principalmente o cuidado do padrão de qualidade. Nós não estamos procurando desesperadamente um parceiro que possa se interessar pelo Pacaembu e faça um projeto qualquer. O projeto tem de levar em consideração o padrão de qualidade que está estabelecido no edital e será publicado em janeiro.
 
UOL Esporte: E quais serão os prazos?
Celso Jatene: Nós vamos ter uma primeira etapa desse chamamento, que deve durar cerca de seis meses. Um mês para os interessados se inscreverem no processo de manifestação de interesse e cinco meses para apresentação de projetos. Esses projetos serão analisados por uma comissão formada por vários membros da Prefeitura, de várias secretarias, inclusive de Cultura, por conta do tombamento.  E aí nós temos um segundo momento totalmente distinto, separado do primeiro. Digamos que no primeiro, nenhum projeto foi interessante dentro do padrão que nós gostaríamos que acontecesse. Para aí. Não tem a segunda etapa.
 
UOL Esporte: Caso contrário?
Celso Jatene: Agora digamos que a primeira etapa foi satisfatória, que nós tivemos aí supostamente dois, três projetos interessantes. Aí partimos para a segunda etapa que é a busca do projeto vencedor para que nós possamos escolher um parceiro para fazer a gestão do Pacaembu dentro dos critérios de padrão de qualidade que nós estabelecemos.
 
UOL Esporte: A Prefeitura tem condições de manter a administração do Pacaembu, caso não apareçam projetos viáveis?
Celso Jatene: A gente precisa deixar claro o seguinte. Se for para deixar o Pacaembu como está, a gente não precisa de parceiro. Eu tenho dito muito isso por aí. Se for para pintar, deixar ele arrumadinho (...) Ele já tem o melhor gramado do Brasil. Eu desafio inclusive as arenas que tiveram a disputa da Copa do Mundo, que façam uma avaliação da qualidade do gramado. Isso já existe. Se for para ficar como está, a gente não precisa de parceiro. Até porque, é importante dizer, que o custo fixo do Pacaembu está inserido no orçamento da Secretaria de Esportes. 
 
UOL Esporte: Mas o número de jogos deverá cair sensivelmente...
Celso Jatene: Nós tivemos 76 partidas em 2013. Nenhum estádio do mundo realizou 76 partidas profissionais. Nós tivemos 52 partidas em 2014. Mesmo tendo Copa do Mundo, mesmo o Corinthians inaugurando o seu estádio. Mesmo o Palmeiras inaugurando o seu estádio no fim do ano. Já temos duas partidas do São Paulo garantidas para fevereiro. Já temos o interesse do Red Bull de realizar os seus jogos contra os times grandes aqui no Pacaembu. Já temos o interesse do Audax de realizar os jogos contra os times grandes aqui no Pacaembu. O Pacaembu está levando a sua vida normalmente.
 
UOL Esporte: Nesse caso, sem modernização...
Celso Jatene: Seria interessante nós conseguirmos dar ao Pacaembu o padrão de qualidade da arena do Palmeiras, do Corinthians, do Mineirão, do Maracanã, por exemplo. Para isso a gente precisa de um parceiro privado, que venha e invista no Pacaembu. Agora, se esse parceiro privado achar que vai pegar uma pechinca aqui no Pacaembu, enquanto eu for secretário, enquanto o Fernando Haddad for prefeito, pode esquecer que não vai pegar. O Pacaembu é uma arena natural. Ele não precisa ser reconstruído como foi o estádio do Palmeiras. O Pacaembu já é construído em um vale. Ele já é uma arena natural. Então nós imaginamos que gira em torno, dependendo do projeto apresentado, de no mínimo R$ 200 milhões, podendo chegar a R$ 300 milhões. Levando como parâmetro o estádio do Palmeiras, que custou R$ 600 milhões. Dependendo do valor investido, a concessão poderá ser de 15, 20, 25 anos. Eu acho que não passa de 25.
 
UOL Esporte: Após a concessão, está previsto algum investimento público no estádio?
Celso Jatene: Não é uma Parceria Público Privada (PPP). Não temos a previsão de nenhum centavo de investimento público a partir desse momento. Pelo contrário. Nós só temos exigências que o parceiro tem de cumprir. Que é a exigência de restaurar todo o espaço poliesportivo e devolver para o poder público a gestão do espaço. Dentro das exigências estão ainda 10 datas por ano para que o poder público utilize o estádio. Por exemplo, na final da Copa São Paulo de Futebol Júnior, que é tradicionalmente realizada no Pacaembu. São 10 datas para uso institucional.
 
UOL Esporte: E quais atividades poderão ser realizadas no estádio?
Celso Jatene: Todo mundo me pergunta: pode ser qualquer coisa? Não, não pode ser qualquer coisa. O uso do Pacaembu estabelecido no edital é o uso original do Pacaembu, que é esporte e cultura. O Pacaembu nasceu para ser um espaço de esporte e cultura. Você não pode fazer por exemplo um templo religioso no Pacaembu. Você não pode fazer um shopping no Pacaembu.
 
UOL Esporte: Qual é o custo de manutenção atual do estádio?
Celso Jatene: São R$ 170 mil por mês. Não é só do estádio, mas do complexo. O que muita gente não entende é que o Pacaembu não precisa realizar 76 partidas por ano. Não precisa realizar 52 partidas por ano. O decreto do preço público tem um piso e um teto. Se você pegar o Pacaembu lotado, com 35 mil pessoas ou com 10 mil, o valor que o clube paga pela locação para o estádio é o mesmo. E a despesa depois que a torcida vai embora aumenta de acordo com o número de torcedores. O Pacaembu foi muito bom, por exemplo, para o Corinthians. O Corinthians vinha, enchia o estádio. Pagava um preço fixo, que à noite tem um valor maior, de R$ 73 mil, mais R$ 9 mil para a exploração das lanchonetes. Dá R$ 82 mil. E arrecadava quanto? O Santos realizou muitas partidas aqui. O custo benefício sempre valeu a pena. Se você tiver um jogo, que você tem certeza que vai ter mais de 15 mil pessoas, você está pagando quase nada para jogar no Pacaembu.
 
UOL Esporte: Com quantos jogos por ano o estádio se mantém?
Celso Jatene: Se nós realizarmos de 15 a 20 partidas profissionais por ano, está excelente. Não precisa mais do que isso. Um jogo e meio por mês. O Pacaembu fazia jogos demais.
 
UOL Esporte: A ideia é que uma empresa que não seja ligada ao futebol assuma o estádio?
Celso Jatene: Nenhum clube do Brasil consegue cumprir as exigências do edital se não vier com parceiro do lado. Qual é o clube que vem com R$ 200 milhões, R$ 250 milhões para investir no Pacaembu? Não existe, O Pacaembu é um próprio municipal tão precioso, tão bem localizado, que o que pode acontecer é de termos disputas de empresas sem clubes. Isso pode acontecer. E se tiver disputa de empresa sem clube e alguma delas tiver a capacidade de cumprir o que a gente exige, é muito provável que depois ela busque os clubes para jogar aqui. Continua sendo como é hoje. O Pacaembu é de quem? 
 
UOL Esporte: Com os grandes todos com estádio, o Pacaembu perde importância... 
Celso Jatene: Os que têm arena, tem show para fazer toda hora. A gente não pode imaginar o futuro do Pacaembu, com ou sem parceiro, dizendo o seguinte: agora o Palmeiras não joga mais aqui. O Palmeiras vai ter de jogar aqui logo, logo. Eu ouvi dizer que a agenda do estádio do Palmeiras está muito cheia. O São Paulo vai jogar aqui porque vai fazer uma reforma no gramado. E logo, logo, o São Paulo vai fazer uma reforma no estádio. A vida do Pacaembu continua a mesma. Dia 25 de janeiro tem a final da Copa São Paulo. O São Paulo joga aqui nos dias 2 e 7 de fevereiro. 
 
UOL Esporte: O senhor acredita que a disputa pelo estádio será grande?
Celso Jatene: A palavra que mais encaixa em todos nós é a palavra curiosidade. Estamos curiosos para saber quem vem e de que jeito vem. Que tipo de projeto será apresentado. Sem citar nomes, tem aqueles mais pessimistas que dizem que não vai aparecer ninguém. E existem aqueles que torcem para não aparecer ninguém. Existem aqueles que, como eu, tem certeza absoluta (que virão projetos). Tem gente que vai se desdobrar para apresentar e executar um bom projeto. Espero que sejam interessados sérios, de muita qualidade, de conceito no mercado. Senão não tem. Eu repito. A gente não está querendo se livrar do Pacaembu em hipótese nenhuma. Se não for alguma coisa rigorosamente, tecnicamente convincente, não vai sair da mão do poder público em hipótese nenhuma.