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Mourinho chato? Português é adorado por brasileiros e o segredo é a bola

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

10/01/2015 06h00

Uma semana com dois jogos faz com que a maioria dos treinadores de futebol no Brasil monte uma programação com dois treinos regenerativos, dois treinos táticos e apenas um dia para treino técnico, onde predomina a bola. Há cenários, porém, em que essa equação do futebol é completamente ignorada e, não por coincidência, resulta em um dos melhores times do planeta: no Chelsea, do português José Mourinho, a bola treina tanto quanto os jogadores, e isso faz com que aquele que parece ser um chefe excêntrico, chato e mandão seja querido pelo elenco. E, novamente não por coincidência, principalmente pelos brasileiros.

No Chelsea de Mourinho, todo dia é dia para se jogar futebol. E futebol com bola. Uma semana com dois jogos não tem treino físico e não tira a bola do campo para a realização de atividades táticas. Quem relata tudo isso é um dos quatro representantes da seleção brasileira – e certamente o melhor deles na atual temporada – que defende o clube inglês, líder do campeonato nacional: o meia Willian, de 26 anos.

“Desde quando voltamos das férias [em julho, no início da temporada], é sempre bola. Todos os dias com bola. Então isso é muito bom. Jogador gosta sempre de estar em contato com a bola. Mesmo que seja um treino físico, mas que tenha bola. Aqui a gente não faz físico, o trabalho é expressamente com bola. Fazemos joguinhos, toques de bola”, conta Willian, de Londres, ao UOL Esporte.

O meio-campista revelado pelo Corinthians e com passagens por Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, e Anzhi, da Rússia, tem como companheiros hoje, no Chelsea, os brasileiros Felipe Luis, lateral esquerdo, Ramires, voltante, Oscar, também meia, além de Diego Costa, atacante, naturalizado espanhol. Todos eles, em algum momento da carreira, vivenciaram a programação à brasileira do futebol. No Chelsea, até o regenerativo – treino aplicado aos titulares nos dias seguintes aos jogos – é diferente.

“Depois dos jogos a gente faz recuperação, dois dias com recuperação. Mas regenerativo aqui tem bobinho, alongamento, mais bobinho. Não é igual ao Brasil porque aí é uma corrida de 45 minutos e depois os jogadores vão, sei lá, para a banheira de gelo. Aqui a gente não é acostumado a isso”, completa Willian.

O programa de treinamento de Mourinho deixa o treino físico restrito à pré-temporada, mas tem outra diferença estrutural. O treino tático acontece na sala de vídeos, e não dentro do campo. Na maioria das equipes de ponta do Brasil, tal cenário é impensável.

“Taticamente a gente trabalha mais fora de campo do que propriamente dentro de campo. A gente estuda mais adversários em vídeos, ele orienta taticamente fora de campo. Ele estuda bem os adversários, entende de futebol, explica bem as coisas. O jogador entra em campo sabendo tudo que tem que fazer”, conta o meia, com 26 jogos na temporada – 18 como titular.