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Na geral do Camp Nou, Messi é rei e Neymar não empolga como Ronaldinho

João Henrique Marques

Do UOL, em Barcelona

22/01/2015 06h00

O estádio do Barcelona, o Camp Nou, também tem sua turma do amendoim. São os associados mais antigos, com poder aquisitivo alto, e com o privilégio de assistir ao jogo do time catalão encostado no banco de reservas. A ala conhecida como a mais crítica do clube tem opinião forte de que como Messi jamais existiu igual. Já Neymar, apesar de diversos elogios, não deixa a mesma empolgação demonstrada com as lembranças de Ronaldinho.

O Uol Esporte acompanhou na geral do Camp Nou a vitória do Barcelona por 1 a 0 contra o Atlético de Madrid, com gol de Messi, na partida de ida das quartas de final da Copa do Rei, na noite de quarta-feira, e ouviu diversas opiniões dos associados. A turma do amendoim é conhecida no Brasil não só pela ingestão do alimento durante o jogo, mas também como a  proximidade do banco de reservas e o excesso de críticas perturbando os treinadores.
 
“Turma do amendoim também aceito ser chamado. Comemos muito isso e o que mais fazemos aqui é criticar”, disse o catalão José Luis Zaragoza ao ouvir da reportagem a alusão. “Aqui é assim: se Neymar perde um gol, que se vá ao banco e coloque alguém do juvenil”, emendou aos risos.
 
“Eu gosto do Neymar. O problema é que lhe faltam pernas. Sabe o que quero te dizer? Musculação, pernas como as do Ronaldinho, com força para aguentar os choques e chutar. Aqui é assim. Vimos de perto Romário, Ronaldo, Ronaldinho e somos mal acostumados”, apontou Jordi Galceran.
 
José e Jordi se conheceram há mais de 20 anos na geral do Camp Nou. Eles explicam que com um pagamento de 1.000 euros ao ano (cerca de R$ 3.100) mantêm a cadeira cativa no estádio. “É tradição de família, meu pai vinha aqui nessa cadeira. Nós amamos o Barcelona e quem senta aqui entende muito de futebol”, destacou Jordi. “Messi é o ídolo maior desse setor. O Neymar é muito bom, e você pode o chamar de nota 10. Só que o Messi é nota 14”, complementou.
 
Como os ingressos na área são todos demarcados para sócios, mas transferíveis, muitos bilhetes acabam colocados à venda pelos donos das cadeiras. Contra o Atlético de Madrid, ele custava 150 euros (aproximadamente R$ 450).
 
Vários turistas estão presentes no setor, mas é extremamente fácil perceber quem é catalão e torcedor do Barcelona: “Neymar, pelo amor de Deus, isso não é jogo para cair”, desabafa o sócio do Barça, Guillermo Marimon, ao ver o camisa 11 ser atingido pelo lateral do Atlético Juanfran.
 
“Você é brasileiro e talvez não perceba isso com os jogos de lá. Isso aqui é jogo duro, contra gigantes. Tem hora que você precisa parar de driblar e ser mais prático. Jogo contra o Atlético é muito complicado para ele, pois a equipe do Simeone bate muito”, disse. “O do Ronaldinho. Ele era assim”, respondeu quando perguntado sobre um exemplo de jogo que Neymar deve copiar.
 
Guillermo é sócio do Barcelona e sempre vai ao estádio com o pai, José Maria Marimon, que também opinou: “O Neymar evoluiu demais esse ano, mas você veja que o Messi quando betem nele, ele segue com a bola. Quem assiste o jogo aqui do lado do campo percebe fácil como existe grande diferença entre os dois”.
 
Associado mais saudosista, com 35 anos de experiência na geral, Francisco Muñoz, vai longe ao falar de Neymar: “O (ex-atacante holandês Johan) Cruyff se movia por esse lado do campo rapidamente como ele. Eu gosto do Neymar. O problema é que existe o Messi. Enquanto ele aqui estiver, que fique o Neymar pelo canto do campo”, comentou.
 
Quem também é crítico de Neymar é o catalão David Omedes. Morando em Madrid, e viajando a Barcelona por trabalho em muitas oportunidades, o sócio há 42 anos do clube ainda espera muito mais do brasileiro: “Eu sei que você pode me dizer que na seleção ele joga pelo meio, é o protagonista. Há de se reconhecer que ele tem muita humildade aqui no Barcelona, mas se é para tomar o lugar do Messi que nos prove com muitos gols e participações decisivas. Ainda não vi isso”, disse. 
 
Com outra cadeira disponível na área nobre do Camp Nou, David levou o amigo canadense, Isac Rasine, para acompanhar o jogo. “Eu gosto de futebol, e me impressiona como os torcedores aqui ficam criticando a partida inteira. Não tem o que falar mal do Neymar”, disse aos risos o canadense.
 
O duelo de volta entre Barcelona e Atlético de Madrid, será disputado no Vicente Calderón, na próxima quarta-feira. Antes, o Barça encara o Elche, fora de casa, pela 20ª rodada do Campeonato Espanhol.