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Time de Ronaldinho tem um passado sombrio envolvendo drogas e futebol

Tirso Martínez Sánchez, El Tio, narcotraficante que já teve relação com o Querétaro - Divulgação / Comissão Nacional de Segurança
Tirso Martínez Sánchez, El Tio, narcotraficante que já teve relação com o Querétaro Imagem: Divulgação / Comissão Nacional de Segurança

Luís Aguilar

Do UOL, em Lisboa (Portugal)

26/01/2015 06h00

O Querétaro, time que contratou Ronaldinho Gaúcho em setembro de 2014, tem um passado nebuloso. No início do século, bem antes de sonhar em ter o craque brasileiro, as autoridades norte-americanas ligaram a equipe a um grande esquema de lavagem de dinheiro: o Querétaro era um dos clubes usados para lavar dinheiro proveniente de cartéis colombianos ligados ao narcotráfico.

O responsável pelo esquema era Tirso Martínez Sánchez, também conhecido por “El Tio” ou “El Futbolista”. Parceiro do clube, seu esquema funcionava na antiga administração do Querétaro. Sánchez foi acusado de lavar dinheiro proveniente do tráfico de cocaína através de três clubes profissionais do México: o Querétaro, o Atlético Celaya e o Irapuato.

As autoridades de Estados Unidos e Colômbia consideraram “El Tio” responsável por ter lavado mais de US$ 10 milhões, entre 2000 e 2003. Por isso, o Querétaro acabou excluído da Liga Mexicana em 2004 e precisou passar por uma profunda reformulação, enquanto “El Tio” foi preso em fevereiro de 2014.

Por conta deste histórico recente, a mídia local se surpreendeu quando surgiu a notícia que Ronaldinho iria ganhar cerca de US$ 2 milhões por ano. Apesar do valor exorbitante, Olegario Vásquez, atual presidente do Querétaro, trabalha para limpar a imagem do clube.

“El Tio” é acusado de lavar dinheiro a partir de transferência de jogadores colombianos para o México através da Promotora Internacional Fut Soccer, pertencente ao empresário Guillermo Lara. Este agente de jogadores é uma das figuras mais controversas e poderosas do futebol mexicano – ele chegou a representar Jackson Martínez, quando o artilheiro colombiano deixou o Jaguares e se transferiu para o Porto.

A DEA – departamento dos EUA na luta contra o narcotráfico - acusa “El Tio” de ser o cabeça de uma rede que transportou 76 toneladas de cocaína para o país. Os carregamentos saiam da Colômbia, passavam pelo México e eram armazenados no Texas e na Califórnia para posterior distribuição em várias cidades de Estados Unidos e Europa. Os “narcoboleiros” tinham uma rede de atuação que foi caindo pouco a pouco. Os EUA tinham chegaram a oferecer uma recompensa de US$ 5 milhões para quem ajudasse na captura de Sánchez.

Um dos casos que ajudou a desvendar o esquema foi a prisão do jogador colombiano Carlos Gutierrez. Ele estava se transferindo para o México em 2003 e foi apanhado no voo com quase US$ 1,3 milhões não declarados. Nervoso e transpirando bastante, o jogador disse às autoridades que estava levando o dinheiro para a Colômbia a mando de um homem que conhecia apenas como “El Negro”. “El Negro” era Jorge Rios Laverde, parceiro de “El Tio” e que também está preso nos EUA.

No blogue Deportilitika, o jornalista Ignácio Suárez, um dos mais conceituados na investigação de corrupção desportiva no México, escreve que “El Tio” gostava de ir a restaurantes com os presidentes de outros clubes sempre que precisava de reforços para os três emblemas dos quais era dono invisível.

“No final da refeição, e em pleno restaurante, mandava um dos seus lacaios ao carro e surpreendia o presidente ou dono do clube convidado, porque em vez de lhe dar um cheque, oferecia-lhe uma mala cheia de dólares pelo jogador emprestado ou vendido a alguma das suas equipes. ´É que não gosto muito dessa coisa dos bancos´, dizia com uma gargalhada. Por medo, quase todos aceitavam esta forma de pagamento, saindo do restaurante com uma mala repleta de dinheiro e mortos de nervos”, conta o jornalista. Os salários dos jogadores dos times de Sánchez também eram quase sempre pagos em dinheiro. “Muitas vezes com gente bem armada à nossa volta”, chegaram a confessar alguns jogadores.

O fim do Querétaro

Em 2004, a situação tornou-se insustentável. Havia cada vez mais provas de todo este esquema e a Federação Mexicana de Futebol (FMF) não quis que o escândalo lhe rebentasse nas mãos. Numa reunião secreta optou por fazer desaparecer o Querétaro e o Irapuato com o pretexto de reduzir a primeira divisão de 20 para 18 times.

Os presidentes de ambos os clubes – testas de ferro de “El Tio” – foram compensados com US$ 10 milhões e a possibilidade de negociarem os seus jogadores no mercado de transferências. Ou seja: “El Tio” ainda saiu ganhando depois de usar o futebol para lavar dinheiro do narcotráfico.

Depois disso, o Querétaro teve vários donos. O penúltimo foi Amado Yáñez. Comprou os Gallos Blancos através da empresa Oceanografia, que também está sendo investigada por fraudes financeiras na casa dos US$ 400 milhões. A Federação Mexicana ordenou Yáñez a pôr o clube à venda e a sair de cena.

Depois, o Querétaro acabou adquirido por Olegario Vásquez, responsável pela contratação de Ronaldinho. O atual proprietário tenta agora dar estabilidade a este time mexicano, para limpar a imagem dos tempos do narcotráfico e da fraude financeira.