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1º herói do Barça na Liga já usou camisa de rival como papel higiênico

Do UOL, em São Paulo

27/01/2015 06h00

Hoje, qualquer clube europeu treme ao ter de encarar pela frente o todo poderoso Barcelona, maior vencedor da Liga dos Campeões no século XXI. Essa história de vitórias, porém, não começou há muito tempo. Seu protagonista inicial é um zagueiro holandês de chute respeitável que não foge de briga. Na maior polêmica de sua carreira, Ronald Koeman transformou a camiseta de um adversário em papel higiênico.

O lance inusitado aconteceu em 1988, quando a Holanda bateu a Alemanha na casa dos rivais na semifinal da Eurocopa. O time de Van Basten, Rijkaard e Gullit viria a conquistar, dias depois desse jogo, o maior título da história da Laranja Mecânica. Antes mesmo de erguer a taça, Koeman antecipou-se na comemoração, pegou a camiseta trocada com o meia Olaf Thon e a passou pelo traseiro, em um gesto inconfundível.

A provocação carrega décadas de história entre os dois países, que têm uma das maiores rivalidades do futebol. Na Segunda Guerra Mundial, os alemães invadiram a Holanda de forma brutal. Uma das lembranças, com uma pitada de humor negro, é a de que os germânicos confiscaram as bicicletas da população local. Depois da vitória de 1988, a torcida laranja pediu: “Devolvam nossas bikes!”.

“Eu não gosto da Alemanha. Eu odeio eles. Eles assassinaram minha família. Meu pai, minha irmã, dois dos meus irmãos”, disse Willem van Hanegem, meia da Holanda que perdeu a Copa para os germânicos em 1974, sem exagerar na descrição. O gesto de Koeman, em plena Alemanha, foi o equivalente a apagar fogo com gasolina, com o perdão do clichê.

Koeman, diga-se, não se arrependeu. Sempre tratou o fato como uma provocação impessoal e um assunto menor. Só que a imagem é forte demais para ser ignorada. Sorte do holandês que ela nunca circulou tão abertamente enquanto ele ainda militava nos gramados. Embora tenha sido presenciada por inúmeros torcedores, jornalistas e membros da organização da Euro daquele ano, a cena foi pouco registrada.

Auke Kok, jornalista holandês que relatou a saga da Holanda de 1988 em um livro (“1988. Nós Amamos a Laranja”, em tradução livre do holandês), conta que só viu a foto em 2008, quando participava de uma mesa-redonda em uma TV alemã sobre a rivalidade dos dois países. O registro é dos fotógrafos Norbert e Barbara Rzepka, que trabalhavam juntos como freelancers na época.

Olaf Thon, o homem que cedeu a fatídica camiseta a Koeman após o apito final, perdoou o holandês. “A euforia era enorme entre eles. Bater a Alemanha em solo alemão não é qualquer coisa. E as pessoas podem fazer coisas impulsivas sem pensar. Não foi legal o que ele fez, mas não devemos exagerar. Quero dizer, ele não quebrou a perna de alguém. Eu o perdoo”, disse o alemão em 2013, quando o holandês completou 50 anos de idade.

Muito além do bad boy

Ronald Koeman, ex-zagueiro do Barcelona, comemora gol marcado na semi da Liga dos Campeões em 94, contra o Porto - Shaun Botterill/ALLSPORT - Shaun Botterill/ALLSPORT
Imagem: Shaun Botterill/ALLSPORT
Embora a história da provocação seja interessante e inusitada, é um erro definir Ronald Koeman por ela. Em 27 anos de carreira, o holandês conquistou oito campeonatos nacionais, uma Eurocopa e duas Liga dos Campeões. A segunda delas, a mais marcante, como homem decisivo do “Dream Team” do Barcelona.

Ronald Koeman, zagueiro holandês, posa para foto vestido de Tintin, personagem de desenho animado - Reprodução/BarçaNews.org - Reprodução/BarçaNews.org
Koeman posa para foto vestido de Tintin, personagem de desenho animado
Imagem: Reprodução/BarçaNews.org

Ao lado de nomes como Matthaus, Koeman é um dos zagueiros que redefiniram a posição. Como líbero, ele esbanjou qualidade técnica para avançar e armar o jogo de trás do meio-campo. Além disso, contava com um chute preciso que fez dele um especialista em cobranças de falta.

Em 1992, o Barcelona já estava no segundo tempo da prorrogação contra a Sampdoria, na final disputada em Wembley. Era a chance do primeiro título dos catalães no principal torneio europeu. Embora tivesse formado times históricos com craques marcantes, o clube azul-grená sempre falhava no âmbito continental.

Quando a Sampdoria fez uma falta na intermediária, Koeman apareceu, soltou uma bomba no canto direito e iniciou a história de vitórias do Barça na Liga. Foi a consagração do “Tintin”, apelido que o holandês ganhou pela semelhança com o personagem dos desenhos animados – no auge na Catalunha, chegou a posar vestido a caráter para uma revista local.

Koeman marcou história no Barcelona. Seguiu na equipe até 1995, convivendo com craques como Romário, Stoichkov, Michael Laudrup e Guardiola. Este último tinha uma relação de idolatria com o holandês. Quando Koeman deixou o clube, o hoje técnico do Bayern trocou a camisa 10 que usava pela 4 que o mestre vestiu por toda a carreira.

O “Timtim” parou de jogar no fim dos anos 1990 e tornou-se um técnico de altos e baixos. Em 14 anos de carreira na função, colecionou atritos com nomes como Louis Van Gaal, alguns títulos e vários momentos de empolgação. Um deles é o atual. Técnico do Southampton, ele vem mantendo a modesta equipe na terceira colocação do Inglês, fazendo o time sonhar com uma vaga na Liga dos Campeões, que ele conhece tão bem.