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Estaduais começam neste fim de semana sob tensão de times, federações e TV

Atual campeão estadual, Flamengo é protagonista de polêmica sobre ingressos do torneio em 2015 - Julio Cesar Guimaraes/UOL
Atual campeão estadual, Flamengo é protagonista de polêmica sobre ingressos do torneio em 2015 Imagem: Julio Cesar Guimaraes/UOL

Guilherme Costa

Do UOL, em São Paulo

28/01/2015 12h00

O início dos principais torneios estaduais do futebol brasileiro está marcado para o próximo fim de semana. Fora de campo, contudo, a disputa começou há tempos. Numa temporada em que os 30 dias de preparação podiam ser a principal novidade, o período sem partidas oficiais só serviu para escancarar uma série de conflitos de interesse entre clubes, atletas, televisão, federações e CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

Um dos cernes dessa discussão é justamente a pré-temporada. Em 6 de agosto de 2014, quando anunciou o calendário de competições deste ano, a CBF tratou o período sem jogos como a principal evolução do futebol local (a primeira rodada dos principais torneios, que em 2014 aconteceu nos dias 18 e 19 de janeiro, foi postergada para o fim de semana dos dias 31 de janeiro e 1º de fevereiro). Essa medida foi tomada após extensa pressão do Bom Senso FC, grupo formado por jogadores no segundo semestre de 2013 para debater demandas coletivas sobre o futebol nacional.

A reação do Bom Senso FC ao calendário de 2015, portanto, é uma boa medida do quanto a criação de um mês de pré-temporada não foi um avanço puro. “É inconcebível”, avaliou em agosto Luis Filipe Chateaubriand, mestre em administração pública pela Fundação Getúlio Vargas, professor universitário e integrante no núcleo que elaborou a proposta de calendário defendida pelo grupo de atletas. “De fato, você ter 25 dias de pré-temporada é um avanço. Mas o Bom Senso FC pedia 30, e a CBF tinha se comprometido com isso. Do jeito que está, ainda estão comendo cinco datas”, completou.

A conta da pré-temporada passa por uma série de acordos envolvendo clubes, federações e parceiros. O principal aspecto é a relação com a TV: no dia 18 de janeiro, último domingo sem futebol em 2015, a Globo teve 10,8 pontos no Ibope com “Temperatura Máxima”, que teve dificuldade para alavancar o “Domingão do Faustão” (11,3 pontos) e o “Fantástico” (17,7 pontos); no último domingo (25), num dia em que a “Temperatura Máxima” marcou 10,6, a Globo obteve 11,4 pontos de audiência com um amistoso entre Flamengo e São Paulo e facilitou a transição para o “Domingão do Faustão” (12,5 pontos) e para o “Fantástico” (19,4 pontos). Parece uma diferença pequena, mas cada ponto no Ibope corresponde a 67.112 domicílios sintonizados em São Paulo, região que é referência para o mercado publicitário.

A audiência que o futebol gera é um dos alicerces de um pacote comercial que a Globo vende para o futebol. São seis cotas, e a emissora definiu R$ 225 milhões como preço de tabela para 2015. Diminuir o número de rodadas, portanto, compromete o resultado do canal no Ibope e reduz a entrega para os anunciantes.

A negociação com a Globo demandou contrapartidas. A principal delas foi um mecanismo para impedir que, a exemplo de temporadas anteriores, alguns dos principais clubes usassem reservas nos Estaduais. A saída encontrada por federações foi limitar o número de jogadores inscritos nos torneios, padrão adotado, por exemplo, no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e em São Paulo. E aí começaram as reações contrárias.

“Quero lamentar muito essa atitude. Iniciamos uma temporada disputando jogos consecutivos, com temperatura alta, e você ainda cria esse tipo de restrição?”, questionou Oswaldo de Oliveira, técnico do Palmeiras.

No conselho arbitral do Campeonato Paulista, o time alviverde não se opôs à regra que limita a 28 (25 de linha e três goleiros) o número de jogadores inscritos. Entre os 19 participantes, o único clube que tentou vetar a medida foi o São Paulo. “Nós investimos R$ 30 milhões por ano na base do São Paulo. Onde as pessoas querem que eu teste esses meninos? O sub-20, o sub-17 e o sub-15 não servem para isso. Nós queríamos aproveitar o Campeonato Paulista”, reagiu Carlos Miguel Aidar, presidente da equipe tricolor.

Confusão precede início de Estadual do Rio de Janeiro

A discussão sobre pré-temporada e limite de inscritos é apenas uma das quedas de braço que têm antecedido o início dos Estaduais. Isso tem sido mais nítido no Rio de Janeiro, com direito a troca pública de farpas, reunião e até uma nota oficial irônica do Fluminense. Um dos artífices da disputa política no Rio de Janeiro é Eurico Miranda, que voltou no fim do ano passado à presidência do Vasco.

Na terça-feira (27), após reunião na entidade, os clubes do Rio de Janeiro decidiram manter valores promocionais de ingressos para o Estadual: “O Fluminense reagiu com uma nota oficial cheia de trechos irônicos: Como fundador da Federação e pioneiro no profissionalismo no futebol carioca, o Fluminense cumprirá a decisão de uma entidade tão gabaritada, que organiza, atualmente, a melhor competição do futebol brasileiro. Afinal, o Campeonato Carioca tem, há alguns anos, as melhores médias de público registradas no país”.

A nota oficial causou mal-estar entre os dirigentes. “As coisas poderiam se encaminhar desde que houvesse uma retratação, mas aí culminou com essa nota e ficou ratificada toda a posição do [conselho] arbitral”, disse Eurico Miranda.

“Nas condições que estão agora, o Flamengo calcula que terá em torno de R$ 3 milhões de prejuízo. Esse prejuízo, num momento em que a gente tenta recuperar o clube e pagar contas em dia, é extremamente desalentador”, respondeu Eduardo Bandeira de Mello, presidente da equipe rubro-negra. Somados, os times do Rio de Janeiro tiveram R$ 550 mil de prejuízo com o Estadual em 2014. A Ferj, em contrapartida, fechou o ano com R$ 700 mil de lucro.

Em clima bélico, Estadual do Rio de Janeiro tem lei que veta críticas

O clima cada vez mais tenso entre equipes e Ferj coincide com a criação de uma nova regra no Rio de Janeiro. O novo regulamento da entidade prevê a partir de 2015 uma multa de R$ 50 mil para quem criticar o Estadual.

O mecanismo foi aprovado em assembleia realizada pela Ferj em janeiro e tem precedência no CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva). A diferença é que a responsabilidade é individualizada na regra nacional – no regulamento fluminense, cujo texto é mais amplo, clubes podem ser penalizados por ações de seus jogadores ou dirigentes.