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Piadas, broncas, amizade e dinheiro. Como Levir virou ídolo dos jogadores

Até mesmo a torcida do Atlético-MG já levou bronca de Levir Culpi neste retorno ao clube - Bruno Cantini/Site do Atlético-MG
Até mesmo a torcida do Atlético-MG já levou bronca de Levir Culpi neste retorno ao clube Imagem: Bruno Cantini/Site do Atlético-MG

Victor Martins

Do UOL, em Belo Horizonte

29/01/2015 06h00

Contratado pelo Atlético-MG para o lugar de Paulo Autuori no final de abril de 2014, Levir Culpi chegou sob desconfiança de parte da torcida e até dos jogadores. Os primeiros resultados, duas derrotas no Brasileiro e um empate que causou a eliminação na Libertadores, também não ajudaram. O clima ficou ainda mais pesado quando Levir bateu de frente com Diego Tardelli. Quase um ano depois, a situação é bem diferente. O treinador é admirado por jogadores, funcionários, dirigentes e torcedores.

Doar os R$ 150 mil da premiação pelo título da Copa do Brasil foi só mais um dos gestos que fizeram o treinador cair nas graças do elenco. “Essa atitude do Levir dispensa comentários, pois a gente sabe do caráter e da idoneidade dele, cara do bem que o Levir é. A gente fica feliz e essas pessoas (funcionários do Atlético) são merecedores de tudo isso”, comentou o volante Pierre.

Antes contestado dentro da Cidade do Galo, hoje Levir é respeitado. Saiba quais foram as principais atitudes do treinador para que ele mudasse o jogo dentro do próprio clube. Veja como o técnico ganhou os jogadores e fez o Atlético mudar em pouco tempo, mesmo sem muitos reforços.

Números

O primeiro jogador a ter problemas com Levir Culpi foi o atacante Diego Tardelli. Substituído no empate com o Atlético Nacional-COL, o jogador deixou o campo xingando o então novo comandante. Na entrevista coletiva, Levir foi direto e criticou as atuações de Tardelli apresentando números. A resposta não foi bem vista entre os jogadores, que ficaram do lado do atleta.

Depois foi a vez de Ronaldinho Gaúcho. Cada vez com rendimento menor do que o esperado, o meia era substituído em todos os jogos. Foi assim até nos três amistosos na China. A postura de Levir diante do descaso do ídolo, que já não tinha mais o mesmo empenho, fez o grupo perceber que todos receberiam tratamento igual.

Sinceridade

Levir encontrou um elenco recheado de jogadores campeões da América. O que fez o treinador diagnosticar que todos no clube ainda “estavam de nariz em pé” pela conquista continental. A declaração de Levir não agradou aos torcedores, jogadores e tampouco ao ex-presidente Alexandre Kalil. A resposta do dirigente foi pelo Twitter, dos jogadores foi em campo. Se antes o Atlético parecia um time que venceria quando quisesse, o espírito de luta e de time competitivo retornou à Cidade do Galo.

Atualizado

Um treinador velho e ultrapassado. Assim Levir Culpi era visto por alguns jogadores do Atlético quando chegou. Mas o trabalho do dia a dia mostrou algo bem diferente. Os sete anos no futebol japonês fizeram de Levir Culpi um treinador com uma visão de futebol bem mais moderna em relação ao esporte que é praticado no Brasil. Colocar o time para jogar para frente e, em algumas vezes, com apenas um volante, fez o técnico ganhar o respeito de todos os atletas. Além, é claro, de usar melhor as características dos jogadores.

Amigo

Levir Culpi não trata seus jogadores apenas como atletas ou funcionários. Todos são tratados como amigos pelo treinador, que prioriza o lado humano. Tanto que o ‘coração mole’ fez com que ele desse novas oportunidades ao atacante Jô, que pisou na bola inúmeras vezes desde que voltou da Copa do Mundo. Ouvir os jogadores e confiar em todos, abolindo a concentração, foi determinante para a criação de um grupo que compra as ideias do comandante.

Personalidade

Memória não é um dos pontos fortes de Levir Culpi. O treinador costuma esquecer nomes de jogadores, dos adversários e até acontecimentos recentes. Se isso era visto como algo ruim nos primeiros treinamentos, agora é uma brincadeira para todos. Descontraído e bom contador de histórias, Levir compensa a falta de uma boa memória com piadas e relatos do que aconteceu há muito tempo atrás. Para isso a cabeça está muito boa.

Confiança

Desde que chegou à Cidade do Galo o treinador jamais pediu um reforço sequer, pelo menos diante dos microfones. Ao contrário, mesmo com a equipe longe das primeiras colocações no Brasileirão do ano passado, ele insistia que tinha em mãos um bom elenco. A resposta foi na reta final da temporada. O Atlético apareceu forte na briga pelo G4 da competição e acabou vencendo a Copa do Brasil. Ao dar confiança sempre para quem vai jogar e não ficar lamentando aquele que saiu, Levir Culpi fez com que todos se dedicassem nos treinos. Com todos os atletas bem preparados, o time não sentiu as várias mudanças, sendo que em algumas ocasiões foram até 14 desfalques.

Valorização

Com as saídas de Réver e Diego Tardelli, o Atlético recebeu dinheiro e teve um considerável alívio na folha de pagamento. Ao perder dois jogadores desse porte, qualquer treinador poderia exigir grandes contratações. Mas não Levir Culpi. O comandante alvinegro deu prioridade ao saneamento das contas do clube. Colocar os salários em dia foi o que desejou Levir, que aos poucos vai sendo atendido.

No momento, o Atlético não deve prêmios e salários. Dois meses de direitos de imagens estão em aberto, com a promessa de que tudo vai ser acertado na semana que vem. Os jogadores se sentiram valorizados e o empenho em campo, nesta temporada que começa para o Atlético neste domingo (1/2), contra o Tupi, às 17h, no Independência, promete ser com muitas emoções, outra marca das equipes de Levir.