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O que deve mudar nos clubes com a pré-temporada diferenciada em 2015

Gustavo Franceschini*

Do UOL, em São Paulo

29/01/2015 06h00

Quantas vezes você ouviu que o seu time perdeu porque enfrentou um nanico que “está treinando desde novembro”? O calendário exíguo e a diferença de preparação entre os dois patamares foi, nos últimos anos, uma grande muleta para todo grande que tropeçava no começo dos Estaduais. Em 2015, o discurso terá de mudar. Com mais tempo, clubes de ponta começam a temporada, em tese, mais próximo das supostas “zebras” no quesito condição física.

“A expectativa é essa, tem de ver se isso se comprova. É uma questão para se investigar agora no começo da temporada”, disse o fisiologista Turíbio Leite, ex-São-Paulo, um dos especialistas ouvidos pelo UOL Esporte sobre a nova pré-temporada do futebol brasileiro.

Até 2014 os clubes tinham, na melhor das hipóteses, 40 dias entre o fim do Brasileiro do ano anterior e o início dos Estaduais. Isso quando o Nacional terminava no começo de dezembro. Os times que foram ao Mundial de Clubes nos últimos anos, por exemplo, tiveram menos tempo ainda. Agora, são duas semanas a mais de pré-temporada.

Depois do fim do Brasileiro, que teve sua última rodada em 8 de dezembro, todos os clubes do país liberaram seus elencos para quase um mês de férias. A reapresentação foi no começo de janeiro agora, quatro semanas cheias de trabalho depois, eles finalmente voltarão a campo.

“É sempre bom ter mais tempo para aprimorar no início da temporada. Espero que isso se reflita no início do Gauchão para chegarmos melhor que os times do interior. Muitos começam a trabalhar em novembro e nós em janeiro por conta do calendário. Foram 20 dias de preparação e espero que possamos aproveitar em campo”, disse Marcelo Grohe, goleiro do Grêmio, elucidando a questão.

O tempo de preparação em relação aos times que não disputaram as Séries A e B do Brasileiro segue desigual. Só que com uma preparação mais adequada e a natural superioridade técnica, os grandes têm uma chance de afastarem as zebras indesejadas do começo da temporada.

“Quando você tem um tempo maior, pode realmente desenvolver a musculatura. Em duas semanas, o jogador ganha resistência por conta da natural perda de peso corporal que ocorre na volta das férias. Potência e força ele só vai ganhar já durante a temporada, com o treino mesmo. Foi um avanço”, opina Fábio Mahseredjian, preparador físico do Corinthians.

O que fazer na pré-temporada?
O tempo maior até o começo dos Estaduais não permite apenas o melhor condicionamento. Ele também abre possibilidades de marketing. Corinthians e Fluminense, por exemplo, aproveitaram o período para ir aos Estados Unidos. São Paulo, Vasco e Flamengo, por sua vez, foram a Manaus para um torneio amistoso.

Se de um lado há o ganho financeiro e institucional, por levar a marca do clube a mercados inexplorados, o jogador não descansa como poderia. Tite mesmo admitiu que a ida para a Flórida, onde o Corinthians encarou Colônia e Bayer Leverkusen, fez com que ele antecipasse os trabalhos táticos. Em vez de aplicá-los na segunda semana de atividades, o treinador lançou mão do artifício já no segundo dia, para tentar imprimir um entrosamento na equipe.

A opção não é uma exclusividade brasileira, diga-se. Na Europa, há anos, clubes gigantes como Barcelona e Real Madrid escolhem um ponto no planeta e fazem um tour que lhe serve financeiramente. Há quem diga que a balança pode pesar contra.

“É claro que você tem outras necessidades, mas o melhor é ficar em um CT, sem cansaço por viagem longa, traslado entre hotel e estádio, alimentação regrada, etc. No começo de temporada, também vamos pode fazer a comparação entre quem fez cada uma dessas opções”, disse Turíbio Leite. 

*Colaboraram Adriano Wilkson, Bruno Braz, Dassler Marques, Marinho Saldanha, Samir Carvalho e Victor Martins