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Roger diz ter quebrado barreira no Brasil ao posar nu:"tirei o preconceito"

Goleiro teve problemas com então técnico Carpegiani devido a ensaio  - Folhapress
Goleiro teve problemas com então técnico Carpegiani devido a ensaio Imagem: Folhapress

Patrick Mesquita

Do UOL, em São Paulo

29/01/2015 06h00

Alguns jogadores ficam marcados mais pela relação que construíram com um clube e torcida do que efetivamente por lances memoráveis. O ex-goleiro Roger é um bom exemplo disso. Aposentado desde 2008 devido a uma lesão no ombro, ele diz ainda ser parado nas ruas por muitos dos torcedores do São Paulo. Roger ficou muito tempo, mas não jogou tanto. Os apenas 51 jogos em oito anos evidenciam a dificuldade de desbancar Rogério Ceni, a maior bandeira do clube. Mas, sobre o antigo concorrente, só elogios. “Ele estava anos luz à frente do que estava acontecendo na época.”

O arqueiro participou do início de uma era vencedora na metade dos anos 2000 e venceu títulos como o Campeonato Paulista e a Libertadores. Mas sua passagem pelo time tricolor também ficou marcada por uma grande polêmica devido a um ensaio nu no começo dos anos 2000, que rendeu o incomodo apelido de “peladão” ao ser o pioneiro entre os boleiros a posar na revista G Magazine.

Hoje morador da cidade de Cantagalo-RJ e totalmente voltado para a vida política no local, onde chegou a concorrer ao cargo de prefeito, Roger falou ao UOL Esporte sobre a carreira, a amizade com Rogério Ceni, o ensaio para a revista e a crise  que isso gerou com o então técnico Paulo César Carpegiani.

Ensaio nu

“Na realidade foi um mal-entendido essa história da revista. Em 98, o São Paulo já sabia dessa negociação. Só que no contrato, como não tinha nada que ofenderia a instituição, o clube não ligou. Aconteceu com Vampeta e Dinei antes. O Carpegiani chegou para mim falou: ‘Roger, posso te pedir um favor? Eu assinei um pré-contrato e em janeiro vou para o Flamengo. Tem como adiar para janeiro?’ Eu achava que tinha. Fui negociar com a revista e deixaram adiar.

Aí fomos para o jogo no Morumbi. O Carpegiani foi para a coletiva e perguntaram da negociação com a revista. Ele disse que se fosse para a banca, eu não jogava mais no São Paulo. Quando cheguei na minha casa tinha cinco repórteres. No dia seguinte a revista queria soltar pela polêmica e não teve como segurar. Falei com o Carpegiani. O São Paulo se absteve e disse que era decisão do treinador. Aí eu fui para longe, emprestado para o Vitória.

Muita gente achou que era preconceito dele. Tanto que em 2001 eu voltei ficou ruim para ele que ficou taxado. Ele tentou me acusar de ter sacanagem. Como eu ia fazer isso se a empresa me trouxe de volta?”.

Preconceito e o apelido de “peladão”

“Eu achei que ia ficar mais o apelido de peladão. Faz tempo que não ouço. Já ouvi muito, mas o Corinthians teve dois. Eles passaram normal em uma torcida que cobra muito mais. Viu essa história do Emerson Sheik dar selinho? E não deu nada. E a minha deu.

Acho que ajudei a quebrar o preconceito. As coisas se modernizaram e ficou bem natural. As amigas da minha mãe viram. Ficou sem preconceito de quem faz ou deixa de fazer. Deixou de ser estranho.”

Admiração por Rogério Ceni

"Teve uma época que uma turma de qualidade estava subindo da base: Diego Tardelli, Kleber Gladiador.  Tinha aquele amadorismo no futebol brasileiro. Na hora do treino de finalização, tínhamos uma brincadeira de quem fizesse menos gols pagava o jantar. O pessoal tentava fazer gol de cavadinha. O Rogério não gostava e falava: ‘quero ver fazer isso com o Morumbi lotado’.

Eles não entendiam, falavam que parecia diretor, treinador, chato. Eu entendia. O futebol estava caminhando para o profissionalismo. Hoje você faz gol e tira camisa do patrocinador que gasta 40 milhões por ano com você. Não pode acontecer. O Rogério já pensava isso lá atrás”.

Carinho pelo São Paulo

“Ficou o carinho e sou torcedor do São Paulo. Eu tinha espaço conquistado. Não me considerava reserva, me considerava um líder. Em São Paulo, quando eu vou todo aniversário do meu sogro, o pessoal diz é o Roger do São Paulo e dizem que eu não deveria ter saído.

Vida política

“Fui vereador de 2008 a 2012. Me candidatei a prefeito e fiquei em segundo. Tudo indica que vou concorrer novamente sim. Goleiro e político é para mostrar que sou louco mesmo.

Na realidade respiramos política na minha família. Minha esposa é paulista e ficou espantada. Meu avô foi um dos primeiros vereadores da história de Cantagalo. Meu tio foi prefeito duas vezes. A família é política. Nasci e cresci na política. Em 99 eu falei que seria prefeito”.