Topo

Arouca pede compreensão dos santistas e diz que "sai pela porta da frente"

Samir Carvalho/UOL Esporte
Imagem: Samir Carvalho/UOL Esporte

Do UOL, em Santos (SP)

30/01/2015 18h10

O volante Arouca, novo reforço do Palmeiras nesta temporada, tentou se explicar ao torcedor do Santos em uma longa carta de despedida publicada em uma rede social. Após prometer que não acionaria o alvinegro praiano na Justiça e depois processar o clube por salários atrasados, o atleta despertou a revolta da torcida santista, que até apagou a sua imagem nos muros do CT Rei Pelé.

Arouca pediu a compreensão dos torcedores, alegou que é apenas uma vítima da crise financeira que vive o Santos e o futebol brasileiro. O volante ainda fez questão de dizer que ajudou o clube da Baixada Santista em sua transferência ao Palmeiras, priorizando que o alvinegro praiano fosse ressarcido em sua saída.

“Infelizmente, porém, fui mais uma vítima da precária condição financeira do nosso futebol, que promete salários com os quais não pode arcar e está se afogando em dívidas. E um fato em especial me deixa bastante chateado: quando os atletas se veem obrigados a entrarem com ações judiciais para receberem seus salários, são acusados de não ter amor à camisa, de só pensar em dinheiro e não no time, e ainda são chamados de mercenários, entre outros adjetivos pejorativos. Isso é uma imensa inversão de valores! Sei que o torcedor é movido pela paixão e que alguns estão chateados com a atitude que tomei, mas peço que tentem entender o meu lado no caso”, afirmou Arouca.

“Por isso, fiz questão de que o Santos FC fosse recompensado pela minha saída – mesmo com a possibilidade de obter na justiça a quebra do meu vínculo contratual, hipótese em que não o clube teria direito a nada. E, felizmente, chegamos a um acordo em que, assim como havia prometido, houve uma solução boa para ambas as partes”, completou.

Arouca, que assinou contrato de quatro anos com o Palmeiras, abriu mão de receber todo o valor que está atrasado na Vila Belmiro. São cinco meses de direitos de imagem e três meses de salário em carteira, contando os vencimentos de janeiro. O salário dele é de R$ 350 mil. 

O acordo final, fechado nesta quinta-feira (29), faz os palmeirenses ficarem com 40% dos direitos econômicos, enquanto que outros 40% seguirão com a equipe da Baixada Santista. Os 20% restantes ficarão nas mãos de investidores

Veja a carta de Arouca na integra:

Olá, pessoal

Hoje é um dia diferente para mim. Um dia de despedida, mas, ao mesmo tempo, do início de um novo ciclo. Simbolicamente um 30 de janeiro, que também é o aniversário de cinco anos da minha estreia pelo Santos. Uma história de tantas conquistas, de evolução e que agora chega ao seu fim. Antes de seguir em frente, porém, queria deixar registrado algumas palavras para todos os santistas.

É de conhecimento geral que o Santos FC vive uma grave crise financeira. E essa situação, que também afetou os meus companheiros, me atingiu diretamente, provocando atrasos de salário, de pagamento de direito de imagem, entre outras coisas. Desde que o entrave se iniciou, procurei a diretoria em busca de uma solução, pois creio que problemas dessa natureza podem (e deveriam) ser resolvidos na base da conversa. E foi por acreditar nisso que, há pouco mais de um mês, afirmei por meio de uma nota oficial que não moveria ação judicial e só sairia do time caso surgisse alguma proposta boa para ambos os lados.  

Portanto, gostaria de deixar claro que, antes de tomar a atitude de entrar na justiça, esgotei todas as demais maneiras de solucionar o caso, pois tenho uma história bonita e uma gratidão imensa pelo clube e por sua torcida. O que é natural após tanto tempo vestindo e honrando a camisa alvinegra.

 Nas últimas cinco temporadas, construí uma trajetória vitoriosa e de muita identificação com o Peixe e sua torcida. Foi vestido com o manto que um dia foi do Rei que vivi os meus melhores momentos como profissional e conquistei os principais títulos da minha carreira, sendo convocado para defender a seleção do meu país. E a forma perfeita de retribuir isso foi jamais deixar no gramado menos de 110% daquilo que eu poderia fazer em cada partida.

Infelizmente, porém, fui mais uma vítima da precária condição financeira do nosso futebol, que promete salários com os quais não pode arcar e está se afogando em dívidas. E um fato em especial me deixa bastante chateado: quando os atletas se veem obrigados a entrarem com ações judiciais para receberem seus salários, são acusados de não ter amor à camisa, de só pensar em dinheiro e não no time, e ainda são chamados de mercenários, entre outros adjetivos pejorativos. Isso é uma imensa inversão de valores! Sei que o torcedor é movido pela paixão e que alguns estão chateados com a atitude que tomei, mas peço que tentem entender o meu lado no caso.

Apesar disso que aconteceu, saio da equipe - pela qual entrei em campo 268 vezes e conquistei seis títulos – pela porta da frente e com a consciência tranquila, pois fiz tudo o que podia dentro e fora do gramado. Dentro, lutando e me dedicando para trazer as vitórias que a torcida esperava; Fora, com um comportamento correto, dando exemplo e tentando resolver as coisas da melhor forma possível. Por isso, fiz questão de que o Santos FC fosse recompensado pela minha saída – mesmo com a possibilidade de obter na justiça a quebra do meu vínculo contratual, hipótese em que não o clube teria direito a nada. E, felizmente, chegamos a um acordo em que, assim como havia prometido, houve uma solução boa para ambas as partes.

Antes de me despedir, gostaria de dizer que nada nesse mundo vai apagar e nem diminuir os momentos felizes que vivi. Vou guardar na memória todas as alegrias que tive e levarei no peito a emoção que senti em cada partida. Queria agradecer também aos torcedores pelo imenso carinho e também aos amigos que fiz através do Santos FC, incluindo jogadores, treinadores e funcionários, que sempre me trataram tão bem.

Agora, sigo para o Palmeiras, clube que tanto esforço fez para contar comigo, em especial o presidente Paulo Nobre, o Alexandre Mattos e a diretoria, que moveram mundos e fundos para que essa transferência se concretizasse, agindo de forma correta tanto comigo quanto com o Santos. Como contrapartida, prometo ter a mesma dedicação e buscar títulos tão importantes quanto aqueles que, graças a Deus, consegui durante toda minha carreira.

A todos, o meu muito obrigado!

Carinhosamente,

Arouca