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Flamengo teve que pagar 52 mil torcedores após promessa que irritou a Lusa

Evair comemora o primeiro gol da vitória de 3 a 2 da Portuguesa contra o Flamengo - Rosane Marinho/Folha Imagem
Evair comemora o primeiro gol da vitória de 3 a 2 da Portuguesa contra o Flamengo Imagem: Rosane Marinho/Folha Imagem

Vagner Magalhães

Do UOL, em São Paulo

30/01/2015 06h00

No Campeonato Brasileiro de 1998, o Flamengo vinha mal das pernas e nas últimas colocações, brigava contra o rebaixamento. O time, que tinha Romário no ataque, estava há nove partidas sem vencer. No dia 13 de setembro, enfrentaria a Portuguesa, no Maracanã. O presidente do clube, Kléber Leite, viu no jogo a chance ideal para iniciar uma arrancada. Se reuniu com a diretoria e decidiu cobrar R$ 3 pelo ingresso de arquibancada, que normalmente custava R$ 10. E lançou o desafio: se o Flamengo perdesse, devolveria o dinheiro aos torcedores.

A torcida flamenguista atendeu ao chamado e o público pagante superou as 52 mil pessoas. O Flamengo saiu perdendo com um gol do atacante Evair, então na Lusa, e virou com Romário e Marcos Assunção. A surpresa veio com dois gols do meia Alexandre, que deram a vantagem final de 3 a 2 para a Portuguesa. 
 
"Era um jogo que não tinha nenhuma motivação para o Flamengo. Tinha de se criar alguma coisa que levasse público ao estádio. Houve uma reunião e sugeri essa fórmula. Isso deu uma sacudidela em todos. Em um jogo que era para ter mil pessoas, foram quase 60 mil", lembra Kléber Leite, que diz não se arrepender integralmente da ideia. 
 
A operação gerou prejuízo ao Flamengo, que além de ter de devolver o dinheiro dos ingressos, ainda teve de repassar 30% dos R$ 174 mil arrecadados à Portuguesa. Para completar, teve de pagar as despesas com o aluguel do Maracanã.
 
Olhando para trás, Kléber Leite admitiu um erro, que corrigiria, se pudesse voltar no tempo. "Jamais houve a ideia do menosprezo. Ninguém dentro do futebol vai jogar e vai ganhar. Tínhamos a estrutura preparada para devolver o dinheiro. O pior na vida é a omissão. Faria de novo hoje, da mesma forma. Mas emitiria um comunicado oficial, que aquilo não era um menosprezo ao adversário", disse ele.
 
E foi exatamente nessa falha, que o atacante Evair, capitão da Portuguesa, se apegou no túnel de acesso ao gramado. "Eu me lembro muito bem desse fato, dele dando entrevista. Ele só falou daquela maneira porque era a Portuguesa. Não faria isso se o adversário fosse o Palmeiras e o Vasco. Na hora que estávamos subindo para o campo foi o tema da minha palestra. Entramos na febre para vencer o jogo", disse.
 
 
Evair se lembra do empenho dos jogadores da Lusa, mesmo depois que o Flamengo virou o jogo. "Fizemos um campeonato muito bom naquele ano. Foi muito bom vencer aquela partida", diz ele. "Ao fim do jogo, durante as entrevistas, falamos que foi uma falta de respeito o que fizeram com a gente".
 
Kléber Leite afirma que no fundo, "esperava uma vitória, que não veio". A partir daí, ele não teve outra alternativa. "O acordo foi cumprido conforme o prometido".
 
Na segunda-feira depois do jogo, uma fila enorme se formou em frente às bilheterias do Maracanã, mas muitos torcedores reclamavam que não conseguiram trocar o ingresso.
 
Evair se recorda ainda de uma história curiosa. "O legal mesmo foi no outro dia uma reportagem mostrando um vendedor de cachorro quente que estava trocando um ingresso por um lanche. Acho que ele nunca vendeu tanto cachorro-quente em um dia", diverte-se.
 
O atacante se recorda que naquele campeonato a Portuguesa fez grandes partidas. Na semana anterior havia vencido o Botafogo, de virada, por 5 a 2 no Canindé. E no domingo seguinte golearia o São Paulo por 7 a 2 no Pacaembu. "E olha que nesse jogo aí eu não marquei nenhum", disse, antes de soltar uma gargalhada.