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Estaduais nem começaram e já sofrem sem clubes e com só um estádio aberto

Enrico Bruno

Do UOL, em Belo Horizonte (MG)

30/01/2015 06h00

A dias do pontapé inicial da temporada 2015, os Campeonatos Estaduais periféricos penam com a falta de recursos e veem o número de clubes minguarem.

Nos campeonatos dos principais centros, diga-se, a coisa já não anda bem. Chovem críticas ao formato e à falta de apelo de Paulista, Carioca, Mineiro e Gaúcho. Um segundo nível dos Estaduais ainda consegue ser mais disputado, já que clubes do Nordeste ou do Sul do país aproveitam os torneios regionais para buscarem um título que dificilmente virá no âmbito nacional. É no terceiro nível do futebol nacional, porém, que a coisa fica feia.

Torneios como o Alagoano, o Rondoniense e o Roraimense sofrem com a debandada dos clubes, afugentados pela falta de recursos financeiros. Em outros lugares, como no Maranhão e no Amapá, a falta de infraestrutura faz com os Estaduais comecem com apenas um palco previsto.

Este é o retrato de um descaso de décadas que nem mesmo a Copa do Mundo, com seus bilhões de investimentos em estádios, não conseguiu mudar. Em regiões periféricas, o futebol brasileiro segue dependente de investidores que, hoje em dia, teimam em não aparecer.

"Temos a perspectiva de diminuir o número de participantes. O Rolim de Moura Esporte Clube já enviou um ofício pedindo a saída do campeonato. Os clubes encontram poucas pessoas dispostas a assumir a agremiação. Há também a falta de poder público e de empresários da cidade e do estado", diz Jota Lima, assessor da Federação Rondoniense, citando o primeiro de uma lista de clubes que podem abandonar o Estadual local.

O Rolim, diga-se, foi um dos sete times que estiveram na edição 2014 do torneio. De todos, só o campeão seguiu em atividade no segundo semestre, na disputa da famigerada Série D. Os demais se arrastaram ao longo do ano da Copa para, na temporada seguinte, abandonarem a disputa por problemas financeiros.

A região Norte é a mais pobre do futebol brasileiro. Em Roraima, três dos nove clubes que participariam do Estadual abandonaram a disputa por falta de recursos. No Amapá, o Estadual é reduzido a um simples quadrangular, todo ele realizado em um único estádio, o Milton de Souza Correia, o Zerão.

Um dos maiores problemas para a subsistência dos clubes dessas regiões é a ausência de um calendário perene. Depois do Estadual, que ocupa só uma parte do primeiro semestre, só seguem jogando alguns poucos times vencedores, ainda assim a duras penas.

"Infelizmente, o futebol aqui vive de receitas dos empresários, que depositam algum dinheiro naquilo que acham que terá retorno. Um clube do interior, por exemplo, não tem como se manter somente com o apoio do poder público. Não há nenhuma taxa para participar do Estadual, mas a ajuda da federação é mínima", diz Julio Cesar, supervisor de futebol do Parnahyba, time do interior do Piauí que venceu o Estadual em 2013.

No estado nordestino, a penúria é tão grande que a Federação teve de impor uma multa para fazer um torneio acontecer. A ideia do órgão foi criar a Copa Piauí, que reuniria do vice-campeão ao quinto colocado do Estadual em um quadrangular. O campeão é premiado com uma vaga na Copa do Brasil. No ano passado, só duas equipes se inscreveram e o torneio foi cancelado. Para evitar um novo vexame, esse ano quem não entrar na competição terá de pagar uma multa de R$ 50 mil.

A situação falimentar dos clubes não perdoa nem os mais famosos. Em Alagoas, o Estadual terá nove times, em vez dos dez inicialmente anunciados. O Sport Atalaia, clube da cidade natal de Aloísio Chulapa, contou com o filho mais famoso no elenco em 2014, o que lhe rendeu alguma exposição na grande mídia.

Só que nem Aloísio garantiu retorno financeiro para os cartolas, que anunciaram em dezembro sua desistência do Estadual desse ano. Como punição, o clube terá de ficar dois anos fora de qualquer competição, e começará na divisão inferior, o que praticamente decreta sua falência.

Faltam condições
A situação delicada dos clubes e do futebol como um todo se reflete na infraestrutura. Na maioria dos Estados não há praças de qualidade para a prática desportiva. Em alguns locais, o problema é tão grande que afeta o andamento dos torneios.

No Maranhão, dos quatro jogos da primeira rodada, só um não será com portões fechados. Exceção feita à casa do Moto Club, os outros estádios ainda não têm laudo técnico que autorize a presença de público, fato que se repete, diga-se, em Estaduais bem mais pomposos pelo Brasil, como o Paulista.

"Estamos nos preparando para todo o ano. Campeonato Maranhense, Copa do Brasil. O laudo não estava todo feito nos últimos meses, mas cumprimos tudo. O estádio não apresenta nenhum problema. Estávamos só dando um upgrade. É um estádio que vai fazer 65 anos, antigo. Tem alguns problemas como em todos os estádios do Brasil", justifica Marcio Alves, chefe de gabinete da Secretaria de Esporte e Lazer de São Luiz, sobre o estádio Nhozinho Santos.

A nova esperança de quem sofre com a precariedade nessas regiões é a promessa da CBF de investir em infraestrutura. O dinheiro virá da Fifa, que vai colocar US$ 100 milhões no caixa da entidade para que ela levante centros de treinamentos em cada um dos Estados que não receberam a Copa do Mundo. O problema é que a administração desses aparelhos ficará nas mãos dos mesmos gestores que cuidam do futebol de hoje.