Topo

Conheça a torcida do Barça que persegue Cristiano Ronaldo e agrada turistas

João Henrique Marques

Do UOL, em Barcelona

23/02/2015 06h00

Penya Almogàvers. Essa é a torcida organizada do Barcelona fundada em 1989 e acusada de xingar Cristiano Ronaldo de bêbado em ato que pode acarretar multa ao clube pelas regras do Campeonato Espanhol ou proibição de frequência de alguns membros no Camp Nou. O grupo é pequeno, mas adora um protesto e agora tira sarro da situação.  O UOL Esporte acompanhou a derrota por 1 a 0 do Barcelona para o Málaga no sábado ao lado dos manifestantes e traz a sensação vivida por milhares de turistas, geralmente satisfeitos com a experiência.

No sábado, eles ironizaram a situação que os coloca em xeque com gritos de “Cristiano Ronaldo não bebe água” na paródia da célebre canção cubana “Guantanamera”, a mesma usada para cantar Cristiano Ronaldo é um borracho (bêbado, em português)”. A alteração,  agora sem xingamentos, evita denúncias como à feita pela Liga Profissional de Futebol (responsável pelo Campeonato Espanhol) ao Comitê Antiviolência. 
 
A torcida do Barcelona provocou Cristiano Ronaldo depois que vídeos e fotos na festa de aniversário do jogador foram divulgados. O fato revoltou os torcedores do arquirrival, o Real Madrid, pela comemoração ter acontecido horas depois do time ser goleado por 4 a 0 pelo Atlético de Madrid. 
 
“Aqui temos uma mistura muito grande. Turistas, outras torcidas (organizadas) e gostamos de provocar o nosso rival (Real Madrid), sim. Hoje ele é mais representado na figura do Cristiano Ronaldo. Só que não incitamos violência de nenhuma maneira. Não partiu da nossa torcida esse grito”, disse Jordi Perez, um dos membros da torcida.
 
A defesa da Almogàvers faz sentido. O local ocupado no estádio tem cerca de 500 assentos, mas o grupo quase nunca passa dos 50, como foi o caso na partida contra o Málaga. O setor é o único no estádio em que é permitido assistir o jogo em pé. Uma outra organizada, a "Supporters Barça" também tem espaço reservado no setor. 
 
No sábado, a Almogàvers resolveu protestar diante da situação e esvaziou o espaço, deixando as grandes bandeiras sobre as cadeiras e sequer gritando em apoio ao time. Os líderes da organizada ainda gesticulavam e davam bronca a cada vez que algum membro cantava em prol do Barça.
 
A manifestação terminou aos 12 minutos do primeiro tempo, quando os torcedores ocuparam o espaço, pegaram os tambores, bandeiras e um mega fone para iniciar a bagunça. “Agora é festa, vamos pular com eles”, disse o turista russo Oleg Skapadin que acompanhava o jogo ao lado do amigo. “Não sabia que era um protesto, mas agora está divertido demais”, complementou quando avisado pela reportagem.
 
A diversão dos turistas acontece por conta da tranquilidade no local. No protesto, a organizada contou com o apoio dos seguranças para esvaziar o local. Eles são dez no total, e ficam atrás do gol observando o comportamento dos torcedores. Todos profissionais exemplares, sem sequer virarem para trás a cada vez que os gritos no estádio indicam um bom lance do Barcelona. 
 
O ingresso para o setor tem grande variação de preço. Em jogo de pequeno porte, como os das fases inicias da Copa do Rei, ele chega a custar 12 euros (cerca de R$ 36). Já nas fases de mata-mata da Liga dos Campeões, gira ao redor de 100 euros (aproximadamente R$ 300).
 
Contra o Málaga, a entrada para a área era vendida a 39 euros (cerca de R$ 120). Ela é destinada apenas aos sócios do Barça, mas como o comércio é permitido, o número de turistas no setor é sempre bem elevado.

“Paguei 45 euros em cambista. Não sei o preço original, mas é que um amigo meu catalão me disse que aqui era o local da torcida”, contou o andaluz (de Sevilla) Angel Bocarda. “Se xingarem o Cristiano Ronaldo, xingo junto”, brincou.

Os torcedores das organizadas do Barcelona são quase todos catalães. Considerados radicais por muitos, eles gritam pela independência da Catalunha aos 17 minutos do primeiro tempo e aos 14 minutos do segundo tempo pelo fato da região fazer parte da Espanha desde 1714.

Bebidas alcoólicas não são proibidas, mas foram pouco consumidas pelos torcedores. No quesito ofensas,  a única presenciada foi um grito isolado com imitação de som de macaco quando o goleiro camaronês Kameni foi buscar a bola atrás do gol. O gesto foi prontamente recriminado pelo restante da torcida com vaias.

Entre os ídolos da Almogàvers, Messi é considerado o maior. Alguns brasileiros também causam ótima lembrança aos associados. “O que o Ronaldinho fazia nos cantos dos estádio ninguém faz. E você pode imaginar o que é ver deste setor uma bicicleta do Rivaldo. Foi na minha frente. Isso ficou para sempre”, lembrou Izidre Legil do golaço feito por Rivaldo em duelo contra o Valência, pelo Campeonato Espanhol, em 2011.

Contra o Malága, o Barcelona sofreu gol logo aos 7 minutos de jogo. Só que em todos os demais, os gritos em apoio ao time seguiram. Nem mesmo com a derrota consolidada no fim da partida, os membros da organizada vaiaram o time.

O grupo parece pouco preocupado em ver o jogo. Com a visão nada privilegiada do setor oposto do campo, o que o Barcelona atacou no segundo tempo, a preocupação maior era fazer festa e puxar gritos para as demais áreas do estádio. Foi o que aconteceu no sábado, quando “Cristiano Ronaldo não bebe água” ganhou o coro em grande parte do Camp Nou.

“Esse foi a gente. Só que o do xingamento foi um ato isolado que aconteceu. Nem tudo a gente aprova. Você tem que tomar cuidado para não confundir as coisas por aqui”, alertou Jordi Perez.